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Comportamento do setor Agro Brasileiro no ano de 2016 - por Dr. Carlos Henrique Orssatto

Dr. Carlos Henrique Orssatto é Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Mestre em Engenharia de Produção na modalidade da engenharia de inovação tecnológica e Doutor em Engenharia com ênfase no estudo de cadeias produtivas e diretor administrativo da Imoto

Comportamento do setor Agro Brasileiro no ano de 2016  - por Dr. Carlos Henrique Orssatto

comportamento dos atores dentro da cadeia produtiva deve assemelhar mais à cooperação do que concorrências e disputas. (Foto: Reprodução/SFAgro)Gostaria de iniciar uma reflexão sobre o comportamento do setor Agro Brasileiro no ano de 2016 forçosamente com uma análise mais de cunho político-social.

O ano se assemelhou a uma maratona. Muita expectativa no início em função das mudanças que se moldavam nos arranjos políticos, cansaço no meio, em decorrência das mudanças nestes arranjos políticos e, esgotamento ao final, pelos mesmos motivos que se revezaram por vários meses seguidos. De um comportamento anacrônico e sociopata de alguns setores da política nacional, para o desgosto geral da Nação, se convertendo em um comportamento similar em “quase todos os setores da política nacional”.

No passado quando se perguntava sobre política e os políticos para um empresário de qualquer setor econômico, não raras vezes ouvia-se que a sua expectativa em relação ao governo e aos governantes era “nenhuma”, mas o mais importante, “indiferente desde que ele (o governo) não atrapalhasse”.

Pois bem, está atrapalhando. Não fazendo uma referência para políticos individualmente, tanto quanto, para partidos. Mas para a máquina do estado, especialmente neste caso representada pelo poder legislativo, tem ancorado o Brasil em um terreno lamacento e encharcado de difícil mobilidade. Incapacitando as empresas e segmentos econômicos a andarem para qualquer direção. O que é assustador!

Dr.  Carlos Henrique Orssatto é diretor administrativo da ImotoSem discutir o mérito deste tema, se a corrente “A” ou “B” está certa, ocorre que na pauta do dia é praticamente impossível gerir qualquer empresa do agronegócio sem fazer frente a uma série de temas que não são pertinentes apenas ao Agronegócio. Sendo que a política, fisiologista, tacanha e danosa, passou a ser o tema central.

Some-se a isso os problemas de infraestrutura, de logística e armazenagem, a burocracia, através da morosidade da liberação da operação de plantas, a falta sistemática da capacidade do estado em assistir de maneira correta o desenvolvimento e crescimento e, a inexistência de recursos para modernização e inovação.

Por fim, mais recentemente, a desastrosa, escancarada e maléfica apropriação da ineficiência do estado aos custos primários das empresas através do aumento dos custos dos serviços que presta. O que é pior, esta lista pode ser, exaustivamente, aumentada. Culminando com um ambiente onde não existem rumos econômicos claros e a sociedade está dividida.

Se voltarmos ao início, para a maratona, parece consolidar uma expectativa para a prova seguinte, mesmo que uma expectativa subconsciente, de termos de nos acotovelar daqui até o final da corrida. Mesmo para os mais capazes não será possível atingir seu desempenho em função da quantidade de vezes em que serão atingidos, sendo retardados pelos demais.

Embora o agrobusiness seja um dos poucos setores a crescer em 2016, pouco mais de 3,0 % cresceu em função do câmbio e a disparada dos preços dos grãos que beneficiam alguns segmentos, mas podem carregar junto distorções e pressões sobre a estrutura de custos dos demais elos, comprometendo a viabilidade de algumas atividades dependentes cadeia a frente.

Forçosamente este cenário deverá alterar o comportamento de vários atores. Isso porque estamos perdendo sistematicamente nossa capacidade de competir no comércio internacional baseados em vantagens comparativas, exuberância e charme. Uma vez que hoje valem as vantagens competitivas, criadas fundamentalmente pela ação estratégica das organizações públicas e privadas, juntas.

Se o Governo não faz a parte dele, em muitos casos também não fazemos nossa parte. Temos falta de profissionalismo, fisiologismos, interferências das pessoas e famílias nos negócios, culminando em uma postura patrimonialista, falta de orientação e foco, mas principalmente, uma baixíssima cultura de parcerias e alianças.

Temos de tomar decisões nos próximos meses, uma vez que o governo não irá retomar o seu papel, mesmo que errático, na condução deste processo. Neste sentido o cenário poderá ser entendido com de desespero ou de ação.

O comportamento dos atores dentro da cadeia produtiva deve assemelhar mais à cooperação do que concorrências e disputas. Elos não podem ter alavancagem operacional sobre os elos mais fracos. É necessário construir ações entre empresas que visem à eficiência sistêmica, isto é, a promoção de ações que beneficiem todas as organizações sobre uma ótica inter-setorial.

Passa a ser necessário amenizar a inexistência das políticas agrícolas tradicionais, até mesmo pelos altos custos que representam, de modo que se crie um ambiente propício aos investimentos privados em especial no estabelecimento de parcerias, alianças e joint-ventures entre as empresas nacionais e também públicas e privadas.

Passa a ser necessário o autofinanciamento e alavancagem das cadeias de maneiras mais criativas, estruturadas e independentes. A exemplo do que ocorre em outros setores, parcerias de estruturação de negócios em modalidades de investimento Built to suit em conjunto com “parceiros” fornecedores de contratos de locação da planta e/ou equipamento em longo prazo, construídos para atender aos interesses das agroindústrias.

Cautela e caldo de galinha não fazem mal, diziam os antigos. Também não vão resolver a situação. O vento ainda não está soprando e quando soprar talvez a direção não agrade a todos. Será necessário remar muito. Sorte a todos, feliz 2017!

Dr.Carlos Henrique Orssatto é Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), Mestre em Engenharia de Produção, Doutor em Engenharia com ênfase no estudo de cadeias produtivas e diretor administrativo da Imoto – Contato [email protected]