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Economia

Fusão entre Bayer e Monsanto pode prejudicar produtores rurais, dizem especialistas

Concentração das gigantes do agronegócio piora concorrência entre marcas e monopólio pode afetar preços de insumos

A possível fusão entre Bayer e Monsanto, gigantes produtoras de insumos para a produção agrícola, pode gerar prejuízos para os produtores rurais brasileiros. É o que sugerem as fontes ouvidas pela Globo Rural nesta segunda-feira (23/5).

A principal queixa é sobre o oligopólio de grandes empresas, que diminui a concorrência e pode influenciar diretamente os preços de seus produtos. “A concentração piora [se houver a fusão]. A concorrência entre Bayer e Monsanto era positiva para os agricultores. Com a fusão, seria ruim, justamente agora que a Bayer estava crescendo em biotecnologia”, explica Glauber Silveira, da Câmara Setorial da Soja.

Ele complementa dizendo que a possível fusão é “frustrante”. “Quanto menos empresas, pior é. Não tem competição. Deveria ter o surgimento de mais empresas, assim como o fortalecimento das que existem, e não empresas grandes desse tamanho. Me dá medo”.

Endrigo Dalcin, presidente da Aprosoja-MT, segue a mesma linha de raciocínio. De acordo com o executivo, o produtor não vê com bons olhos o controle de mercado. Para ele, a nova empresa que surgirá com a fusão pode tirar ou manter tecnologias no mercado dependendo da ligação comercial. “O problema é a centralização das empresas de biotecnologia. São produtos diferentes numa empresa só, o que deve gerar problemas de mercado, e também nos preço. Se houvesse mais empresas disputando, seria mais interessante”, aponta o executivo.

Mesmo com esse possível monopólio, Dalcin elogia a empresa alemã de químicos. “A Bayer é uma boa empresa, tem boas relações com os produtores, só temos ressalvas sobre o tamanho da empresa”, diz, referindo-se à possível fusão.

A postura mais amigável da Bayer também foi apontada pelo advogado especialista em agronegócio Néri Perin como um possível ganho da fusão. A união pode beneficiar agricultores que produzem suas próprias sementes e que lutam na justiça contra o pagamento de royalties à Monsanto. “A princípio, não tem alteração [no processo judicial], já que a Bayer seria sucessora das ações contra a Monsanto. Isso só muda se a Bayer tiver um perfil igual ao da Monsanto em dialogar com a classe agrícola”, diz, lembrando que a Bayer tem um perfil mais voltado para a parceria com agricultores, enquanto a Monsanto sempre assumiu a postura mais impositiva, o que gera conflitos. “Acredito que o diálogo seja mais tranquilo com a Bayer”, opina.

Biotecnologia europeia

Já para Reginaldo Minaré, consultor para a área de tecnologia da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a fusão pode ter outro propósito, relacionada ao mercado de transgênicos. “A Bayer tem forte atuação na área química e atuação tímida em sementes, e a Monsanto é uma grande empresa da biotecnologia e que atua timidamente em agroquímicos. Cada uma com um pé em um continente (Europa e América, respectivamente). A União Europeia desde os anos 2000 tem uma posição mais restritiva a transgênicos”, observa, ressaltando o fato da empresa europeia buscar fusão com a empresa de biotecnologia americana que tem uma oferta maior de produtos transgênicos prontos na linha de produção. “Isso sinalizaria uma diminuição da resistência da União Europeia aos transgênicos? Não vejo isso como principal objetivo, mas é uma variável que gosto de analisar”, argumenta.

Minaré ainda observa que o movimento foi inesperado. “Quinze anos depois surge esse movimento inesperado. Muito se discutiu que a produção de transgênicos resistentes a determinadas pragas provocaria mudanças no mercado agrícola, com transgênicos demandando menos produtos químicos. Assim, o lucro iria para a biotecnologia em detrimento dos químicos. Chama a atenção essa fusão de dois segmentos que pareciam ser antagônicos e objetos de disputa”, finaliza.