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Grandes produtores do Centro-Oeste fecham parcerias e ampliam plantio

<p>Para isso, eles não fizeram compras ou arrendamentos de fazendas, mas fecharam parcerias com outros agricultores tradicionais da região.</p>

Redação (27/09/06) – Mesmo com as turbulências que marcam o segmento de grãos no país nos dois últimos anos, temperadas por forte pressão sobre o governo federal por mais crédito e renegociação de dívidas, alguns grandes produtores do Centro-Oeste ampliaram significativamente suas áreas de cultivo de soja e algodão nesta safra 2006/07.

Quem passou melhor pela crise de liquidez, aprofundada pelo câmbio, entra com recursos para custear o plantio da nova safra. Os que não tiveram a mesma sorte e acumularam dívidas, cedem propriedades, estruturas e braços. Riscos e lucratividades são divididos.

Foi assim, após assumir terras de colegas, que Eraí Maggi, do grupo Bom Futuro, de Rondonópolis (MT) – primo do governador do Estado, Blairo Maggi -, saiu de uma área de 110 mil hectares para cerca de 160 mil hectares. Os detalhes das negociações são mantidos em sigilo, mas as parcerias vão durar cinco anos. Ou seja, mesmo que o cenário agrícola mude nesse período, elas continuarão valendo. “Vamos plantar e gerenciar”, resume o agrônomo do Bom Futuro, Francisco Soares. “Assim, quem não tinha condições de conseguir crédito para essa safra terá ao menos uma chance de ganhar alguma coisa na colheita”, explicou ele.

Entre os que cederam áreas para o grupo está a Agropecuária Sachetti, uma das maiores produtoras mato-grossenses de grãos. “Tirando as dívidas, o resto vai bem”, disse ao Valor uma fonte do grupo, que preferiu não ser identificada. Essa pessoa confirmou a parceria com o Bom Futuro e afirmou que foi a única saída. “Estamos sendo penalizados pelo crédito, não teríamos como plantar”, afirmou, sem informar a área incluída na negociação. A fonte comentou que a família Sachetti, que saiu do Paraná rumo ao Centro-Oeste nos anos 80, continuará cuidando sozinha apenas de “uma pequena área” destinada à suinocultura.

Outro que confirmou a parceria foi Orlando Polato, dono de 32 mil hectares. “Estamos potencializando o que temos de bom e sabemos que as compras e vendas do Bom Futuro são as melhores que existem”, justificou. O produtor, paranaense que foi para o Centro-Oeste há 26 anos, também não revelou o teor do contrato, mas disse que será dada prioridade ao cultivo de algodão e à produção de sementes.

Ele reforçou que teve prejuízo por dois anos e estava com capacidade limitada para a compra de insumos. “Sem isso talvez não plantasse algodão, que é uma cultura mais cara”. Tanto Polato como um integrante da família Sachetti contaram que outras parcerias do gênero foram formadas no Estado – em Rondonópolis e outras cidades.

Consultado, o diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja), Ricardo Tomczyk, disse que são casos isolados. Mas um empresário do ramo de equipamentos agrícolas afirmou que outras parcerias do gênero foram feitas, em uma das poucas oportunidades encontradas para ampliar a área de plantio no Centro-Oeste – que, de uma maneira geral, deve cair. Mas o assunto é tratado de forma velada, para evitar constrangimento entre as partes.

Em Primavera do Leste, também no Mato Grosso, o grupo Fazenda Nova, que tem entre os sócios Wilson Vian e João Pessa, também vai aumentar a área de algodão usando propriedades de terceiros. Em 2005/06 foram plantados 7 mil hectares e agora serão 20 mil, sendo 3,5 mil de um parceiro. “O plantio de pequenas áreas de parceiros já vinha acontecendo. A novidade é que isso seja feito por grandes grupos tradicionais”, disse o gerente comercial Carlos Abudi.