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Manejo pré-abate e sua importância para a qualidade, rendimento e inocuidade

É imprescindível que essa fase seja muito bem coordenada a fim de que seja assegurada a integridade da matéria-prima entregue ao abatedouro.

Manejo pré-abate e sua importância para a qualidade, rendimento e inocuidade

O pré-abate é a etapa responsável pelo carregamento dos frangos em idade de processamento das granjas à planta por meio de quatro operações – programação de retirada, jejum, carregamento e transporte. Devido ao seu significativo potencial de riscos à qualidade, rendimento de carcaça e inocuidade alimentar, é imprescindível que essa fase seja muito bem coordenada a fim de que seja assegurada a integridade da matéria-prima entregue ao abatedouro.

O pré-abate inicia com a elaboração do programa de retirada, que precisa ser informado com, pelo menos, 24 horas de antecedência aos granjeiros para que haja tempo suficiente e adequado para preparar, corretamente, os galpões de onde serão retirados os frangos. A programação informa a hora do corte da ração, a quantidade de aves a ser carregada, o número de aves por gaiola e a hora do início e término de carregamento de cada caminhão.

A etapa seguinte é o corte da ração, o jejum, que tem a finalidade de esvaziar o sistema gastrointestinal das aves antes do apanhe para diminuir o risco de contaminação durante o abate e evisceração. A contaminação confere perdas econômicas significativas às empresas avícolas por ser necessário reduzir a velocidade de abate para permitir a inspeção adequada das carcaças, após a evisceração, pelas autoridades sanitárias e pelas perdas geradas pela presença de matéria fecal ou manchas de bílis na superfície interna ou externa das carcaças. A contaminação é uma das 5 maiores causas de perdas em plantas avícolas no Brasil. Após a retirada da ração, deve-se garantir às aves acesso livre à água até que o carregamento seja iniciado. Deixar água livre, mesmo que de rotina e adotada no mundo todo, parece ser controversa em relação à contribuição para o esvaziamento do sistema gastrointestinal e consequente redução da contaminação durante a evisceração. Há trabalhos que demonstram que a ausência de água livre durante o jejum não afetou a incidência de contaminação fecal das carcaças no abatedouro, posteriormente. Mas, a água desempenha outro papel importante, que é o de assegurar o inquestionável conforto térmico às aves durante o apanhe e transporte, reduzindo o risco de mortalidade.

Durante o jejum há uma redução do peso vivo da ave, que é inerente ao processo. Essa diminuição, provocada pela excreção das fezes nos primeiros instantes e pelo uso, pelo frango, de suas reservas de água e energia para se manter vivo até o abate, não é recuperada no abatedouro, posteriormente, sendo uma perda líquida, irreversível e de grande expressividade econômica para as empresas. Por isso, para que o programa de jejum seja eficaz, é necessário que ele seja desenhado por profissionais com o conhecimento desejado e devido de todo o processo, para que se obtenha, assim, o equilíbrio entre os aspectos econômico (perda de peso vivo) e sanitário (esvaziamento do sistema gastrointestinal).

A coleta das aves é um procedimento delicado, cujo principal risco são as lesões que podem sofrer (hematomas e fraturas), consequências diretas do método de apanhe e da supervisão do trabalho, e que podem estragar facilmente, em apenas algumas horas, os resultados árduos e custosos obtidos na engorda. Estudos demonstram que um terço das lesões de carcaça observadas na planta são atribuíveis ao carregamento. Dessa forma, para conservar a qualidade das carcaças, reduzindo as perdas posteriores por prejuízos ou desclassificação dos produtos por qualidade no abatedouro, alguns poucos aspectos devem ser cuidados, sendo estes, todavia, cruciais para o sucesso da operação. Bebedouros e comedouros devem ser removidos antes do início do trabalho. Preocupar-se com o arejamento do galpão durante o carregamento diminui o estresse térmico e a mortalidade. Dividir os galpões em currais contendo a quantidade aproximada de aves por carga em cada um deles antes de começar o carregamento e cercar as aves, em grupos de 200 a 400 animais, facilita, expressivamente, o manuseio e a coleta das aves. A qualificação e o grau de conhecimento do supervisor de carregamento e dos apanhadores, a presença do granjeiro durante todo o trabalho, e a adoção de um método de apanhe que, de fato, proteja a ave, são pré-requisitos fundamentais para os resultados. Há 3 métodos manuais e clássicos de carregamento: pelos pés, pelo pescoço e individualmente. Dos três, o apanhe pelos pés e pelo pescoço são os que mais afetam a integridade física das carcaças por causa das lesões internas e externas que eles provocam, ao passo que o apanhe individual é o que, de longe, mais protege o frango. Escolher um ou outro método é uma decisão exclusiva da empresa, que deve ser tomada com base na relação custo-benefício oferecida por cada um deles.

Na América Latina, o transporte de aves vivas é feito, geralmente, em gaiolas, um elemento de suma importância no esforço de assegurar a qualidade e o rendimento das carcaças entre a granja e a planta. Por isso, é recomendável estabelecer um limite de peso, ou de cabeças de aves, a ser transportado por gaiola para poder acomodar, confortavelmente, as aves durante o trajeto; escolher gaiolas com um design que facilite a colocação e retirada das aves; optar por gaiolas que estimulem o arejamento das aves durante o transporte e que estejam sempre em boas condições de conservação para evitar que as aves se machuquem.

A elaboração do programa de transporte deve contemplar as distâncias entre as granjas e a planta, o tipo de estradas e o peso dos caminhões vazios e carregados, para que seja possível programar os tempos de viagem de forma a assegurar que as viagens sejam tranquilas e que não faltem frangos no abatedouro. Implementar mecanismos de controle desses tempos ajuda a assegurar a consistência do processo. Os caminhões devem estar equipados com recursos que assegurem o conforto térmico das aves durante a viagem, uma das principais causas de mortalidade de transporte. Cerca de 50% da mortalidade é atribuível ao transporte, segundo estudos de campo.

No abatedouro, as cargas vivas devem seguir ao galpão de espera para receber a devida proteção enquanto aguardam para serem processadas. Os galpões podem ser de madeira ou de concreto armado, pois o que conta, e muito, é sua concepção e disponibilidade de recursos, que, afinal, é o que assegurará o conforto das aves. Eles podem ficar perto ou longe da plataforma; é recomendável que estejam cercados de arborização para criar um microclima agradável e proteger a instalação do sol direto. Devem dispor de ventiladores e aspersores a serem instalados de forma a otimizar a convecção natural do ar quente emanado da carga viva em cada caminhão. O teto deve ser alto e de telhas de material isolante, e deve contar com instrumentos de controle climático e procedimentos operacionais formais que guiem a operação a fim de assegurar a consistência dos resultados ao longo do dia.

O pré-abate é um processo de curta duração, mas cheio de ameaças aos frangos. Por isso, deve ser muito bem gerenciado para assegurar a qualidade e rendimento de carcaça e a inocuidade da matéria-prima. Quando isso é feito, estamos não apenas assegurando a melhor matéria-prima ao abatedouro, mas contribuindo para otimizar a rentabilidade e competitividade da empresa.