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Micoplasmas e as síndromes respiratórias - por Eva Hunka

Eva Hunka é Médica Veterinária e Mestre em Medicina Veterinária Preventiva

Micoplasmas e as síndromes respiratórias - por Eva Hunka

PersonalidadesOs micoplasmas são microrganismos bem peculiares. Geneticamente são relacionados às bactérias Gram positivas, porém têm comportamento de Gram Negativas, talvez pela ausência de parede celular.

Em 1905 houve uma descrição de Mycoplasma gallicepticum em um quadro de pneumonia em Perus, e esta foi, provavelmente, a primeira identificação de micoplasma aviário. Mas só na década de 60 estes microrganismos foram “elevados” a condição de espécie, neste mesmo período o Mycoplasma gallicepticum(MG) e o Mycoplasma synoviae (MS) chamaram a atenção para quadros clínicos na avicultura industrial.

Estes micoplasmas, apesar de patógenos primários, são mais percebidos quando em associação com outros microrganismos, fazendo das micoplasmoses doenças de grande impacto econômicos. Frequentemente associados á Escherichia coli, Doença de NewCastle, e bronquite infecciosa, passam desapercebidos pois costumam causar doenças por mecanismos indiretos.

Em poedeiras comerciais o MG pode causar um prejuízo de 10 a 20 ovos por ave, causando lesão nos sacos aéreos além de atuar como coadjuvante nos casos de doença respiratória crônica (DRC). No caso do MS, a queda na produção é mais discreta, cerca de 5 a 10 ovos por aves, ou mesmo afetar apenas a qualidade dos mesmos, e por isso, muitos produtores não dão a devida importância. Porém, assim como o MG, também está associado aos quadros de DRC, além de causar peritonite e sinovite, e nesses casos o Staphilococus aureus e enterococos são os coadjuvantes. Como as perdas oriundas deste patógeno são inespecíficas, existe um conceito de que o MS é secundário em importância.

Infecções por MG e MS exacerbam ou intensificam quadros de reação pós-vacinal contra NDV, IBV e ILT e em casos complexos de DRC, frequentemente apresentam infecções bacterianas secundárias (E. coli), o que dificulta ainda mais seu diagnóstico, já que a sorologia e o isolamento não apresentam uma boa correlação.

Quadros de DRC comumente são tratados com antibióticos, e muitas vezes os lotes apresentam uma melhora considerável. Estes tratamentos também são indicados para lotes já infectados, porém não eliminam a transmissão e favorecem a manutenção do agente na propriedade.

Para o controle das micoplasmoses, um programa de biosseguridade deve ser implementado, o que irá colaborar para o status sanitário geral da granja, prevenindo também, contra outras enfermidades importantes e que afetam a produtividade do plantel. Nas granjas de Poedeiras comerciais, o estabelecimento de um programa vacinal precoce irá favorecer a eliminação do agente. O início da vacinação deve ocorrer antes do período de infecção que deve ser identificado através testes laboratoriais em aves de diferentes idades dentro do plantel.

Uma vez identificado o momento da entrada do agente no lote, o programa vacinal deve ser escolhido. No caso de MG, temos atualmente no mercado várias opções: vacinas inativadas, fortes ou suaves, que podem / devem ser utilizadas em situações específicas. Algumas vezes o uso combinado de mais de um tipo de vacina em períodos determinados pode ser recomendado. Para MS, existe no Brasil apenas uma vacina viva de cepa mutante, e a vacinação em poedeiras comerciais pode ter efeito benéfico sobre as patologias do aparelho respiratório.

A dificuldade em identificar as perdas causadas pelo MS, muitas vezes escondidas por DRC acaba por relegar este importante microrganismo como um agente secundário, além da falta de literatura específica sobre o tema.

No caso das síndromes respiratórias, os micoplasmas, além de agravar o quadro clínico de forma silenciosa, ainda podem trazer prejuízos, pois afetam a resposta vacinal contra outros agentes, exacerbando as reações pós-vacinais e muitas vezes, diminuindo a eficiência das mesmas. Nestes casos, como a sorologia é uma ferramenta limitada, devemos focar no processo de vacinação, escolhendo um programa adequado para a realidade da granja e seguindo as boas praticas de vacinação.