A culpa não é do produtor rural
As cadeias produtivas de carnes, grãos, lácteos e hortigranjeiros, entre outras, estão impactadas pelo aumento generalizado de custos diretos
José Zeferino Pedrozo
Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
O Brasil é pródigo na produção de alimentos. As exportações brasileiras alimentam cerca de 1,5 bilhão de habitantes. Nosso protagonismo no mundo será gradativamente ampliado porque somos reconhecidos como a grande potência alimentar do Planeta. Se dependesse somente dos produtores rurais, a população brasileira teria a alimentação mais barata do globo. O produtor determina o padrão de qualidade de seus produtos, porque isso depende diretamente de fatores que estão sob seu controle. Entretanto, não define o preço final ao consumidor porque sobre ele agem variáveis imprevisíveis e incontroláveis como custos, clima, mercado etc.
Nesse momento as cadeias produtivas de carnes, grãos, lácteos e hortigranjeiros, entre outras, estão impactadas pelo aumento generalizado de custos diretos, como energia elétrica, gás, combustíveis, embalagens, matérias-primas, mão de obra e outros insumos. O custo da nutrição dos animais, por exemplo, explodiu em face da escassez de milho e farelo de soja no mercado, caracterizando o pior choque de oferta desde 1990.
A volta do processo inflacionário – sintoma de falta de higidez na economia – afeta a vida de quem produz e de quem consome. É um mal que precisa ser atacado com todas as armas que a gestão macroeconômica dispõe antes que fuja ao controle e gere uma situação de estagflação. Esse cancro o brasileiro conhece e sabe seus deletérios efeitos. Em consequência desse quadro, os produtores estão trabalhando com margens negativas e muitos estão sendo forçados a reduzir a produção para diminuir o prejuízo. O governo central está aplicando os remédios ortodoxos, como o aumento da taxa de juros, a isenção das importações dos produtos com maior alta de preços, entre outros.
O caso do leite merece atenção especial. A cadeia de lácteos em Santa Catarina é uma das mais eficientes e produtivas do País. Nas últimas décadas, o Senar, Epagri, Sebrae, as cooperativas agropecuárias e o Ministério da Agricultura fizeram contínuos e consistentes investimentos na profissionalização dos pecuaristas, na modernização da gestão das propriedades rurais, no aprimoramento genético dos rebanhos, na adequação da nutrição animal e na melhoria geral de manejo. Nesse esforço de qualificação destaca-se a assistência técnica e gerencial na área da bovinocultura leiteira. Os resultados se manifestaram na elevação da qualidade e no aumento da produção.
Uma distorção tributária – alegada pelos Laticínios e negada pela Fazenda Estadual – vem retirando a competitividade da indústria catarinense em relação, por exemplo, ao leite de origem sul-rio-grandense que ingressa em território catarinense. A comercialização do leite gaúcho gera maior crédito de ICMS do que o leite catarinense, levando as empresas atacadistas e varejistas (supermercados) a preterirem o produto local em favor do produto importado. Essa distorção chegou a ser corrigida pela Assembleia Legislativa, mas foi vetada pelo Governador e seu veto, posteriormente, mantido pelos deputados. Ou seja, o esforço foi inútil.
É fundamental neste momento em que a população está pagando mais caro pelos alimentos compreender que os aspectos determinantes desse encarecimento não estão centrados no produtor, mas em fatores macroeconômicos dos quais os próprios produtores são agentes passivos. Historicamente, a mesa dos brasileiros é farta porque a agricultura nacional produz com eficiência, qualidade, sustentabilidade e preços acessíveis. Quando esse quadro muda, não há ganho nem culpa para o produtor rural. Somente prejuízo.
Assuntos do Momento

Cuba investiu US$ 130 milhões na compra de frango dos EUA no primeiro semestre do ano
Apesar da quantidade de frango comprada dos EUA, a população cubana não vê a diferença e continua sofrendo com a escassez de alimentos

Soja e milho recuam em Chicago por preocupações com demanda chinesa
O contrato setembro fechou em queda de 41 centavos, a 14,94 dólares por bushel

Dados preliminares apontam que foram abatidas 1,49 bilhão de cabeças de frango no segundo semestre
Já a produção de ovos de galinha foi de 992,44 milhões de dúzias no 2º trimestre de 2022

Genética avícola evoluiu, elevando patamares produtivos com agregação de novos ganhos de eficiência no campo
Os avanços científicos das últimas décadas aceleraram os processos de atualização genética dentro dos programas de melhoramento, estabelecendo novos padrões produtivos aos frangos de corte, o que deve se ampliar ainda mais em um futuro próximo

Como soluções nutricionais impactam a performance das aves | Henrique Braga - Nutron/Cargill
Henrique Braga é diretor de negócios - aves da Nutron Cargill

Gripe aviária altamente patogênica é confirmada em rebanho não comercial na Califórnia
As autoridades estaduais colocaram em quarentena as instalações afetadas e as aves restantes na propriedade foram despovoadas para evitar a propagação da doença