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Biocombustível

ANP começa a avaliar alternativas para comercialização de biodiesel

Sebo apresenta desvantagem, e dependência da soja permanece para a produção do combustível.

Pouco mais de um ano depois do início da mistura obrigatória de biodiesel ao diesel mineral, o programa aproxima-se de sua transição mais delicada: a extinção dos leilões de compra até hoje realizados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ainda não há data, resolução, decreto ou afirmativa do governo federal que marque o momento da guinada, mas ela, por outro lado, já deixou de ser exclusivamente pleito das indústrias.

O fim dos leilões tem sido solicitado pelas fabricantes desde sempre, mas a própria ANP já estuda internamente alternativas que possam dar novo um norte na comercialização do combustível. A necessidade de alteração ganha corpo, segundo argumento corrente no mercado, porque se aproxima o momento de elevação da adição compulsória do biodiesel ao diesel mineral, que é atualmente de 3%.

“Acho que está no momento de pensarmos em um modelo transição, no passo seguinte ao do modelo dos leilões”, diz Edson Silva, superintendente de abastecimento da ANP. Embora saliente que essa é “uma avaliação pessoal”, Silva afirma que, internamente, a agência tem desenhado diferentes cenários para estudar um sistema que substitua o que está atualmente em vigor.

Soja- As pesquisas se multiplicam em diversas frentes, mas um dos problemas que mais afligem técnicos, autoridades e fabricantes de biodiesel permanece: a dependência da soja. Em determinadas épocas do ano, a participação da oleaginosa como matéria-prima para o biocombustível recua, mas logo adiante ela volta a ganhar força.

O sebo bovino consolidou-se em segundo lugar em importância para o setor. Em vez de a matéria-prima fazer frente à soja, contudo, reiterados relatos de “cristalização” (ou “solidificação”) do biodiesel feito com ela como base franzem a testa de quem tenta incentivar a diversificação. O maior concorrente da soja – que, ainda assim, está em um longínquo segundo lugar – tem problemas técnicos que impedem sua maior utilização.

O problema da cristalização do biodiesel feito à base de sebo animal, reitere-se, não é novo, mas preocupa por continuar a ser registrado mesmo sob o esforço de diversificação das matérias-primas. Preocupa também porque há registros da solidificação mesmo em locais do país não necessariamente conhecidos pelas baixas temperaturas.

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) recebeu relatos de cristalização do biodiesel, por exemplo, no Rio de Janeiro. “Os casos não são novos, mas a frequência tem sido um pouco maior”, diz Alísio Mendes Vaz, vice-presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom). “E há preocupação porque houve registros também no verão. Foram casos isolados, mas ocorreram em pleno verão do Rio”.

O Sindicom solicitou ao Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) uma pesquisa sobre o uso de sebo animal para a fabricação de biodiesel. Do trabalho saiu a recomendação, já encaminhada à ANP, de que não seja feito biodiesel puro (B100) com uso exclusivo do sebo. Ao contrário do biodiesel de óleo vegetal, que começa a se solidificar sob temperaturas de 0ºC a 5ºC, o de óleo animal começa a se cristalizar a partir dos 22ºC.

Em fevereiro, de acordo com a ANP, a soja respondeu por 73,6% da produção de biodiesel no país. Sebo e óleo de algodão ficaram com 19,2% e 4,9%, respectivamente. As restantes, com 2,1%.