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Artigo: A gripe aviária e as cooperativas agrícolas

Daniel Augusto Maddalena, consultor especializado em cooperativismo, expressa sua opinião sobre o perigo sanitário e comercial que a doença representa para a avicultura brasileira.

Redação AI (24/01/06) – A gripe aviária está se espalhando de forma rápida e avassaladora. Inevitavelmente, parece migrar para todos os continentes. Nosso país não deverá ficar de fora e a pergunta que se faz necessária é: quando esse aterrorizante mal chegará? 

A morte de frangos, galinhas, além de outras aves, entre elas algumas espécies migratórias, fizeram com que a imprensa mundial destacasse amplamente o fato, já considerando a possibilidade de uma pandemia. No oeste da Ucrânia, Croácia e Turquia e no norte da Mongólia e Sibéria já foi contabilizada a morte de 140 milhões de pássaros, depois de o vírus ficar incubado por anos em aves dessas regiões (segundo recente reportagem veiculada na revista americana Health). 

Nos casos em que a gripe foi contraída por seres humanos, as informações dão conta de um índice de morte de 50%, embora estudos apontem que esse percentual pode ser muito maior. Há a possibilidade de existirem inúmeros casos que não foram diagnosticados como tal moléstia e reportados às agências de saúde.

O vírus (H5N1) é letal e comparado pelos cientistas ao vírus da Gripe Espanhola, que matou milhões de pessoas no século XIX. O risco e a preocupação são reais e as providências no sentido de conter uma catástrofe devem ser urgentemente tomadas. O problema não é mais restrito à Ásia ou Europa. Já estamos na “rota da morte”. Os EUA estão prevendo para o próximo verão a chegada do vírus, transportado pelos pássaros que migrarão para aquele país, e já consideram o fato mais dramático que a “síndrome do terrorismo”.

No Brasil, temos um grave problema: muito se fala, mas pouco se faz. Como estão nossas fronteiras? Temos um plano nacional de contenção da epidemia?

Ao verificar nosso sistema produtor de carne de aves, identificaremos a existência de uma barreira quase que instransponível, na medida em que contamos com uma escala de produção muito pouco concentrada. Já se imaginou o que fazer com milhões de aves criadas em granjas e pequenos “galinheiros” espalhados pela vastidão de nossa zona rural? Apenas uma única ave que contraia o vírus e o espalhe dentro de um “galinheiro doméstico” pode decretar o fim de uma geração de produção avícola no país. Tomemos como exemplo a China e o que está ocorrendo na Europa.

A detecção do vírus na carne de aves produzidas aqui e exportadas para a União Européia, nosso maior cliente, certamente provocará embargo, assim como ocorreu recentemente com a febre aftosa. Embora de menor risco potencial à saúde humana, quase “quebrou” os produtores nacionais de carne bovina. Seqüela, também, da inércia governamental.

Como conseqüência do embargo, os grandes produtores (que concentram as vendas e exportações avícolas) terão foco no mercado nacional. Baseados na lei número um do comércio, a da oferta e procura, lançarão, em queda vertiginosa, o valor do produto para o consumidor interno final. E é aqui que entram os pequenos produtores e as cooperativas agrícolas. Como estarão frente a essa mudança de cenário econômico? Estarão preparadas para concorrer com uma inversão do mercado externo para dentro de casa?

Mais do que refletir sobre o fato, torna-se imprescindível a tomada de ações emergenciais, que evitem o surgimento ou, ao menos, uma provável proliferação do vírus. Ele trará não somente a morte de aves e seres humanos, mas o desaparecimento de todos os produtores despreparados para a guerra de mercado que se iniciará.

Na outra ponta, pesquisas surgem a cada dia, com foco no combate à gripe aviária. Muitas até agora ineficazes. Uma, porém, pode trazer luz no fim do túnel.

No sul da Alemanha, algumas cooperativas de produtores de aves estão obtendo sucesso no teste de um novo produto, que é diluído na água de consumo das aves, aspergido em ambientes de produção e abate e na assepsia das granjas e gaiolas. Seu uso levou praticamente a zero o índice de contaminação das aves a ele expostas. A CWG Clean Water Group, conhecida empresa de tecnologia em tratamento de água no mundo, tem efetuado diversos testes e comprovado a eficiência desse produto na supressão e erradicação de bactérias, vírus e outros esporos nocivos à saúde das aves.

Para nós, a esperança é que tal tecnologia chegue ao país antes mesmo da necessidade de se combater o mal presente. Como diz o ditado, melhor é prevenir que remediar. Nesse caso, atentar ao ditado é, literalmente, uma questão de vida ou morte. Fica também a expectativa de que as autoridades nacionais, em parceria com o Ministério da Agricultura, convoquem as entidades, empresas, cooperativas e microprodutores do segmento para uma conscientização plena a respeito do grave problema que se avizinha. Afinal, se a chegada da gripe parece inevitável – que estejamos preparados para combatê-la.