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Crédito Rural

Carteira de crédito rural do Banco do Brasil atinge R$ 300 bilhões

Marca recorde deverá ser alcançada nas próximas semanas; aumento em 20 meses alcançará R$ 100 bilhões

Carteira de crédito rural do Banco do Brasil atinge R$ 300 bilhões

Depois de enfrentar uma concorrência crescente nos últimos anos e perder terreno no crédito rural, o Banco do Brasil reagiu e está prestes a alcançar uma marca histórica no segmento. Com um crescimento de R$ 100 bilhões em 20 meses, a carteira de agro da instituição deverá alcançar o recorde de R$ 300 bilhões nas próximas semanas – em setembro, o saldo estava em R$ 286 bilhões, com alta de 26,7% no terceiro trimestre.

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O salto semelhante anterior foi bem mais lento. Demorou mais de nove anos, entre o fim de 2012 e abril de 2021, para a carteira agro do banco sair de R$ 100 bilhões para R$ 200 bilhões. Segundo o vice-presidente de Agronegócios do BB, Renato Naegele, a aceleração reflete a busca por novas fontes de recursos para financiamentos, a ampliação da capacidade comercial do banco e uma estratégia focada em retomar a hegemonia e se manter no topo desse mercado.

Segundo Naegele, essa estratégia envolveu o relacionamento com a ampla rede de clientes da instituição, a criação de novos produtos, a digitalização dos processos e o atendimento especializado ao segmento agroindustrial. Isso sem perder participação entre os clientes pessoa física, que representam 96% da carteira agro.

Banco do Brasil conversa com fundos estrangeiros para securitizar a carteira sustentável do agro

Os resultados dos últimos seis trimestres foram recorde. A tendência é encerrar o ano com crescimento de 22% na carteira, que poderá até superar R$ 300 bilhões. Um dos destaques são os títulos do agronegócio, cujo saldo chegou a R$ 21,6 bilhões. Mais da metade (R$ 11,5 bilhões) é de Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), que atende cooperativas e agroindústrias. O volume de Cédulas de Produto Rural (CPRs) financiadas pelo BB está em R$ 10,1 bilhões, e 84% disso contratado via mobile, em 10 mil operações.

“O banco vinha perdendo participação ao longo dos anos, e fizemos tudo isso mantendo o share de 59% no crédito para pessoa física”, completou o executivo.

Sucesso em máquinas

Houve quedas pontuais nas carteiras de produtores de arroz e de suínos, mas o saldo de financiamento de máquinas e implementos, por exemplo cresceu 30%, ou R$ 11,1 bilhões, em 12 meses. Mesmo refletindo o acesso ao crédito durante boa parte da safra passada, quando os juros estavam mais baixos, Naegele disse que o número sinaliza a confiança do produtor em continuar investindo.

“Nitidamente, esta é uma safra de custeio, mas isso não quer dizer que houve retração nos investimentos”, indicou. De julho a setembro, os desembolsos de crédito rural do BB para investimentos aumentaram 26%. Mas Naegele pondera que muitos produtores estão capitalizados e pagando parte das operações à vista, principalmente de máquinas, para garantir uma entrega mais rápida por parte das fábricas.

Apesar do cenário desafiador, a inadimplência da carteira de agronegócios do BB segue em queda – estava em 0,47% em setembro -, sem expectativa de piora. O que aumentou foi a carteira de operações prorrogadas (para R$ 12,8 bilhões), devido aos rebates concedidos nos financiamentos de produtores da região Sul e de Mato Grosso do Sul afetados pela seca na safra de verão passada, e de renegociações realizadas pelo BB com clientes que não foram totalmente atendidos por esse desconto. Foram cerca de 40 mil operações e R$ 1,9 bilhão prorrogados.

Mesmo com o prêmio mais caro, 52,8% das operações de custeio agrícola feitas pelo BB nesta safra têm seguro rural (R$ 19 bilhões) ou Proagro (R$ 5,2 bilhões). Naegele afirmou que a penetração desses mecanismos está aumentando, reflexo dos prejuízos causados pelo clima na safra passada.

No Plano Safra 2022/23, o BB já desembolsou R$ 90,6 bilhões, em mais de 285 mil operações em 4,8 mil municípios do país. Mais de R$ 55 bilhões foram para o custeio da safra, que está maior em termos de área e mais cara. O desempenho até agora representa 58% de todos os recursos liberados pelo banco em toda a safra 2021/22, que somaram R$ 153 bilhões. A expectativa é emprestar cerca de R$ 200 bilhões até junho do ano que vem.

Naegele está otimista com o cenário econômico e setorial para 2023. Segundo ele, a taxa Selic chegou ao topo e vai começar a recuar, o que permite projetar um Plano Safra 2023/24 “bem mais favorável, com juros menores e mais recursos equalizados para pequenos e médios produtores”.

Alternativas de funding

O banco também está concentrado em buscar fontes alternativas de funding para financiar o setor. A linha com o NDB, banco de desenvolvimento dos BRICs, já desembolsou R$ 100 milhões, e há recursos na esteira. Agora, o BB negocia a estruturação de uma linha com o Banco Mundial – que poderá ter em torno de US$ 500 milhões, mas depende de aval da União e aprovação do Senado, de longo prazo (15 a 20 anos).

Em outra frente, a instituição tenta conversar com grandes fundos estrangeiros para securitizar a carteira sustentável do agronegócio. Atualmente, cerca de 49% das operações (R$ 140 bilhões) têm o carimbo sustentável. A meta é “vender” a carteira sustentável para investidores internacionais com interesse em apoiar a agricultura sustentável no Brasil. “A necessidade de ampliar as fontes de financiamento não é em função da restrição fiscal do governo para alocar recursos no setor, mas porque a demanda, que já está aquecida, tem uma grande oportunidade de crescimento do agro em função da situação mundial”, disse Naegele.

O destino desses recursos já está definido. “Além do ABC+, de técnicas sustentáveis, deveríamos ter, sob a lógica de investimento em infraestrutura estruturante do agronegócio brasileiro, o programa AEI, para armazenagem, energia e irrigação”, afirmou Naegele. Segundo ele, esse tripé pode levar o agronegócio brasileiro para “outro patamar”.