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Entrevista

Como a Dália planeja faturar meio bilhão daqui a 10 anos na avicultura

O presidente, Carlos Alberto, conversou com a Avicultura Industrial sobre o novo momento vivido pela cooperativa

Como a Dália planeja faturar meio bilhão daqui a 10 anos na avicultura

Demorou quase 73 anos para a Dália Alimentos, de Encantado, no Rio Grande do Sul, entrar na avicultura. Já consolidada como produtora de leite e carne suína, em 2014 a cooperativa iniciou o planejamento para começar a produzir frango. Seis anos depois e após investimento de R$ 200 milhões, a Dália entra em 2020 querendo aumentar margens e se tornar outro importante player do setor avícola. O plano é ambicioso e prevê que no ano atual será possível faturar R$ 113 milhões com as vendas dessa proteína. No ano que vem, a cooperativa quer praticamente dobrar esse valor e, em 2030, chegar a quase meio bilhão em receitas somente com a carne de frango.

 

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Apesar de o setor avícola ser um dos mais importantes da economia brasileira são muitos os entraves para indústrias – inclusive, as consolidadas, como a Dália – entrarem nesse setor. De acordo com Carlos Alberto de Figueiredo Freitas, presidente-executivo da cooperativa, a burocracia e um grande volume de licenças tornam esse processo moroso e difícil.

Para entrar na avicultura, a cooperativa estruturou nove núcleos para a produção de frangos de corte. Cada um deles tem oito aviários no sistema Dark House, dos quais 174 associados fazem parte, além da Dália Alimentos, que possui uma cota em cada associação. Cada núcleo tem capacidade para alojar 275 mil frangos semanalmente. A capacidade é programada para o abate de uma semana na unidade frigorífica em Arroio do Meio, totalizando 55 mil aves abatidas por dia.

O presidente, Carlos Alberto, conversou com a Avicultura Industrial sobre o novo momento vivido pela Dália Alimentos. Nesta entrevista, ele dá detalhes das estratégias para colocar o frango produzido pela cooperativa tanto no mercado doméstico quanto no exterior.

Avicultura Industrial – Em 2020 a Dália entra em um dos setores mais pujantes e tradicionais do país, a avicultura. Quando e porque a cooperativa decidiu entrar nesse setor?

Carlos Alberto de Figueiredo Freitas – A Cooperativa Dália Alimentos sempre teve como foco e interesse, ao longo da sua história de quase 73 anos de fundação, a avicultura. Contudo, em função de ter optado estrategicamente por estruturar e consolidar antes a suinocultura e, posteriormente, a pecuária leiteira, deixou a cadeia avícola para anos mais tarde. Em 2014 começamos a trabalhar a ideia, por entender ser uma cadeia que tem condições de agregar valor, trazer resultados positivos, tanto para a cooperativa e, principalmente, para o quadro social, constituído por pequenos produtores e entender que a avicultura consorcia muito bem com suínos e leite. É muito difícil viabilizar uma pequena propriedade familiar caso não tenha essas três atividades.

 

AI – Qual a expectativa com essa iniciativa e quanto a Dália investiu para entrar no setor?

Freitas – Muito positiva. Acreditamos que com o ingresso na avicultura teremos condições de atingir margens de contribuição positivas. Baseados na projeção do faturamento que a avicultura irá representar, temos a convicção que essa nova cadeia produtiva irá viabilizar a cooperativa como um todo. Importante salientar que o investimento total no Programa Frango do Corte foi de aproximadamente R$ 200 milhões, cerca de R$ 100 milhões nas indústrias e outros R$ 100 milhões no campo.

 

AI – Como está sendo a experiência em relação a isso?

Freitas – A experiência ainda é nova, mas está sendo extremamente enriquecedora. Elaborar um programa de avicultura a partir do marco zero, mesmo estudando o setor há anos, remete a novidades e a muitos desafios. Contudo, o fato da Dália Alimentos ser uma empresa nova no segmento traz benefícios, como o caso de iniciar um programa com um grau de tecnologia e inovação igual e/ou superior aos demais existentes no Brasil, tanto na indústria quanto nos aviários e nas granjas. Conseguimos planejar as rotas e viabilizar a logística para que os núcleos para produção dos frangos de corte permanecessem próximos ao Complexo Avícola, localizado em Arroio do Meio, que inclui frigorífico, fábrica de farinhas e fábrica de rações.

 

AI – A cooperativa já tem uma estimativa de quanto poderá faturar em 2020 no setor avícola?

Freitas – Em 2019 elaboramos o Planejamento Estratégico da Dália Alimentos 2020-2030. Em 2020, como estaremos no início das atividades, não iremos produzir com a capacidade total prevista, mas parcial. Prevemos uma receita operacional bruta de R$ 113 milhões para o exercício, enquanto a receita operacional bruta global da cooperativa estimada é de R$ 1,4 bilhão. Em 2021, com a consolidação do programa avicultura, a projeção operacional bruta da Dália para o setor é de R$ 192 milhões e a receita operacional global de R$ 1,6 bilhão.  

 

AI – Existe alguma projeção de qual o impacto da avicultura da Dália no faturamento total da cooperativa no longo prazo? É possível estimar em termos percentuais, por exemplo, para 2030?

Freitas – De acordo com o que já consta no Planeamento Estratégico 2020-2030 da Dália Alimentos, chegaremos ao ano de 2030 com a receita operacional bruta de R$ 3,1 bilhões e, destes, a Divisão Frango de Corte representará R$ 486 milhões, em percentual equivalendo a 14,7% do faturamento. Já a Divisão Produtos Suínos, segundo projeção, representará 37,4%, a Divisão Produtos Lácteos 44,1% e a Divisão Varejo 3,9%. Os lácteos aparecem no topo em função do número de famílias envolvidas com a atividade em nosso quadro social, hoje constituído por cerca de três mil famílias em 130 municípios gaúchos.

 

AI – A cooperativa enfrentou percalços para entrar no setor? Quais foram os principais obstáculos?

Freitas – Não tivemos grandes obstáculos, mas o que tornou o processo moroso, ou seja, os fatores dificultadores estão ligados à burocracia brasileira, como, por exemplo, o volume de licenças, muitas vezes difíceis para conquistar. Talvez se elaborássemos um programa igual a este em outro país, não teríamos tantos percalços com licenciamentos, legislações, burocracias e taxas como há no Brasil.

 

AI – Por outro lado, quais fatores ajudaram a Dália a entrar na avicultura?

Freitas – O que alavanca e impulsiona um programa como este, em primeiro lugar, é a equipe de trabalho. Os funcionários, os associados, os fornecedores, as lideranças que, diariamente, vestem a camiseta Dália com amor e coragem, além das dez prefeituras da região que foram parceiras. As autoridades em nível estadual e federal que ajudaram para que este sonho se tornasse realidade. Aqui, destaco, em especial, a Cargill/Nutron que, desde o início do programa, nos concedeu consultoria e muita troca de experiências com posteriores importantes decisões entre a equipe técnica da Dália e a equipe técnica da Cargill/Nutron; assim como a Plasson, responsável pelos aviários implantados nos nove núcleos, no modelo Dark House.

 

AI – Que linhagem genética a Dália está utilizando na produção?

Freitas – Pretendemos trabalhar com duas linhagens: inicialmente com a Cobb e depois a Ross.

 

AI – O foco da Dália será o mercado interno ou externo?

Freitas – O foco da Dália Alimentos sempre foi e será os dois mercados, interno e externo, e a busca pelo mercado que registrar melhor rentabilidade. Ao longo dos anos percebemos, principalmente na suinocultura, que devemos explorar ao máximo as oportunidades existentes. Como somos uma cooperativa com alto grau de industrialização no abate de suínos, temos que ter uma marca forte no mercado brasileiro, que é o grande consumidor de produtos embutidos, bem como um bom percentual na exportação para comercializarmos um volume maior de cortes suínos. Acreditamos que no setor frango de corte, a percentagem de exportação será maior que a de suínos, tendo em vista que o nível de industrialização da cadeia aves é menor e que os cortes predominam.

 

AI – Quais medidas e estratégias a cooperativa pretende adotar para entrar nesses mercados, que já tem fortes competidores?

Freitas – As estratégias são as mesmas adotadas nos segmentos suínos e lácteos, áreas em que já operamos. No mercado brasileiro existem inúmeras empresas nacionais e internacionais qualificadas e fortes e temos orgulho em afirmar que a Dália Alimentos ocupa um espaço de destaque neste cenário, competindo, dentro do seu percentual, vitoriosamente. Com o frango não será diferente e aguardamos por grandes oportunidades. Possuímos clientes que já conhecem a qualidade dos produtos com a marca Dália e estão aguardando a nossa entrada na linha frango de corte. Importante ressaltar que o mais importante disso tudo é de que o Brasil mantenha o bom status sanitário que hoje possui.

 

AI – Como foi o trabalho de incorporar ou ampliar as atividades dos produtores associados com a criação de frangos de corte?

Freitas – A Dália Alimentos foi inovadora em seu Programa Frango de Corte e ao perceber que o mundo segue uma tendência de escala viável na produção, com alto nível de tecnologia agregado, com vistas a alavancar os índices e os resultados, como bem-estar animal e qualidade de vida dos trabalhadores, estruturamos um sistema de produção associativo. Quando analisamos as empesas concorrentes e seus últimos projetos, percebemos que existem granjas arrojadas, com o melhor nível de tecnologia. Porém, ainda existem os primeiros aviários sem escala e tecnologia. A partir disso, percebemos que teríamos que ser diferentes e competitivos, desenhando um programa moderno, sem produtores individuais. Estruturamos nove núcleos para a produção de frangos de corte com oito aviários Dark House em cada núcleo, dos quais 174 associados fazem parte, além da Dália Alimentos, que possui uma cota em cada associação. Cada núcleo tem capacidade para alojar 275 mil frangos semanalmente, cuja capacidade é programada para o abate de uma semana na unidade frigorífica em Arroio do Meio, totalizando 55 mil aves abatidas por dia. Estes núcleos foram estruturados em parceria com as prefeituras, visando a proximidade de cada um com o abatedouro, viabilizando a logística. O primeiro abate deverá ocorrer até o final do mês de fevereiro, em fase inicial e de testes, com dez mil aves.

 

AI – O que o senhor gostaria de acrescentar?

Freitas – Quando estruturamos o Programa Frango de Corte, programamos três módulos: o primeiro prevê o abate de 55 mil frangos por dia, o segundo também 55 mil chegando aos 110 mil frangos no terceiro e último módulo. O parque industrial da Dália, ou seja, o Complexo Avícola – que inclui frigorífico, fábrica de farinhas e fábrica de rações – já estão adaptadas para essa expansão. Importante salientar que quando a Dália Alimentos começou a concepção deste projeto o Brasil passava por uma acentuada crise e havia perdido a habilitação para exportar a alguns países do mundo. Com o setor em crise, muitos nos questionavam se não seria um absurdo investir naquele momento. Respondíamos que era justamente naquele momento que deveríamos investir, porque após uma crise sempre vem a retomada da economia.