Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Crescimento contínuo

A estrutiocultura continua a crescer em ritmo acelerado e vê surgir algumas iniciativas de abate, mas ainda não conseguiu a publicação da Portaria que regulamenta sua atividade no País.

Redação AI (Edição 1107/2002) – A estrutiocultura brasileira continuou em 2002 a seguir sua tendência de crescimento. O presidente da Associação dos Criadores de Avestruz do Brasil (Acab), Celso da Costa Carrer, prevê um aumento entre 30% e 35% do rebanho nacional. “Eu acredito que hoje estamos com um plantel de 65 mil a 70 mil aves”, afirma. Esta rápida expansão tem sua origem na entrada de matrizes em seu primeiro ano reprodutivo, além do próprio crescimento vegetativo e da importação expressiva de filhotes durante o ano.

O rebanho acelera. Hoje ele está estimado entre 65 mil e 70 mil aves

Este aumento do plantel também é estimulado pela movimentação, ainda forte, de novos criadores que estão entrando na atividade. Isto gera um intenso fluxo comercial entre os produtores, ainda o principal mercado da estrutiocultura. “Mas já começamos a ver iniciativas de consolidação da cadeia, as quais vão certamente consolidar o mercado de carne e couro nos próximos anos”, diz o presidente da Acab. Outra meta da entidade é o de substituir a importação de plumas pela produção nacional. No Brasil há uma grande demanda por este produto. Só a indústria carnavalesca consome cerca de 15 mil quilos por ano de plumas, sendo que é possível retirar de cada avestruz uma média semestral de 250 gramas entre curtas e longas (de maior valor).

Abate – O ano marcou o início de algumas iniciativas de abate, procurando assim consolidar a cadeia produtiva do avestruz. A Acab é cautelosa ao avaliar esta nova etapa da produção. Ela teme que se gere uma expectativa junto ao consumidor que venha a ser frustrada pela falta do produto ou pela impossibilidade de compra devido ao alto preço. Hoje um quilo de carne de avestruz está em torno de R$ 90, um valor acima do limite de compra da maior parte da população brasileira. “Preços muito altos geram falsas expectativas tanto ao produtor quanto ao consumidor, o que de certa maneira pode trazer desilusões em relação ao produto, deixando-o até indisponível”, afirma Carrer.

Com estes valores no varejo, o presidente da Acab não acredita que seja possível realizar um trabalho de mercado, no qual se identifique o perfil do consumidor da carne de avestruz. A entidade pretende promover campanhas de divulgação da qualidade da carne e de fomento ao consumo, mas isto estará atrelada às necessidades de oferta e demanda, que ainda é muito pequena para a realização de campanhas de marketing mais agressivas.

A maior parte da carne que chega ao mercado atualmente tem origem nacional, mas são volumes extremamente pequenos. Pelo ritmo de crescimento que a atividade tem apresentado nos últimos anos, a expectativa é de que haja um plantel, cujo abate possa atender as reais necessidades do mercado, num curto espaço de tempo. “Este prazo deve girar em torno de dois ou três anos para que possamos ter uma quantidade razoável de produto, fazendo com ele chegue até o consumidor com preços mais convidativos”.

Maiores produtores – São Paulo ainda possui o maior rebanho do País. No  Centro-Oeste, os principais estão em Goiás e no Distrito Federal, mas há um movimento de crescimento tanto no Mato Grosso quanto no Mato Grosso do Sul. No Nordeste, os Estados que se destacam são Pernambuco, Ceará, Sergipe e Bahia, onde a estrutiocultura tem se firmado bastante. No Sul, tanto Paraná quanto Santa Catarina têm algumas iniciativas para a produção da ave. No Rio Grande do Sul havia uma orientação, definida por órgãos ambientais estaduais, que restringia a criação do avestruz. Segundo Carrer, a principal alegação era a de que na fauna do Estado já há a presença das emas. “A ema não é gaúcha, ela está na América do Sul e Central e não é um animal próprio do Rio Grande do Sul, porque temos a ema em todo o cerrado brasileiro, então era um argumento sem respaldo técnico ou mercadológico”.

A publicação de uma portaria do Ibama durante este ano, a qual reclassificou o avestruz como ave de produção, contribuiu para o encaminhamento das questões burocráticas relativas à ave no Estado, desmontando alguns dos argumentos que proibiam sua criação. “A reclassificação sinaliza que o avestruz é uma ave de baixo impacto ambiental e com grande potencial do ponto de vista produtivo e zootécnico”, destaca Carrer, acreditando que a portaria do Ibama também aponta para a consolidação da estrutiocultura como uma atividade agropecuária emergente nos próximos anos.

O início dos abates é visto com cautela pela Acab. O receio é frustrar o consumidor com o alto preço ou a falta do produto

O setor, no entanto, aguarda a finalização do prazo de consulta pública de mais 30 dias para que a Portaria da Secretaria de Defesa Agropecuária que normatiza a criação de ratitas (que inclui avestruzes e emas) seja publicada no País. O segmento vem discutindo esta Portaria há mais de dois anos com todo o setor avícola e com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Ela chegou a ir para consulta pública, em período anterior, mas o processo foi retardado, segundo o presidente da Acab, motivado por visões diferentes entre os segmentos de avestruz e ema. Uma destas discussões se refere ao fato de a criação de ratitas integrar o Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) do Mapa, o que é apoiado pelo setor de avestruz. “Isto é absolutamente necessário e tem nosso apoio desde o início”.

A expectativa da entidade agora é que a Portaria seja publicada no início do próximo ano. Embora esta seja a mais importante do ponto de vista do criador, há outras normativas que regulamentam a importação de aves, ovos e reprodutores. “Entendemos que as Portarias de importação devem ter seu rigor redobrado para não termos problemas com a entrada de material sanitariamente arriscado”.

Sanidade – E uma das principais preocupações é com a possibilidade da entrada no País da Influenza Aviária, que já chegou no Chile. O presidente da Acab afirma que não há relatos recentes desta doença em avestruzes no mundo, mas há a preocupação teórica de que ele possa ser um portador, assim como outras aves, inclusive as migratórias. “O Brasil tem a segunda avicultura mundial e temos que assegurar tanto para o criador de avestruz quanto para o avicultor condições totais de segurança”. Em novembro a Acab participou de uma reunião do Comitê de Sanidade Avícola, do PNSA, em Macéio (AL), passando informações sanitárias, de criação e zootécnicas da ave para técnicos do Mapa e das secretarias agropecuárias dos Estados nordestinos. “Estamos trabalhando de forma afinada com o Ministério porque entendemos que só será viável criar avestruz no País se partirmos para uma atividade feita de forma profissional e com muito critério”.

A estrutiocultura tem crescido no Nordeste e deve ter no próximo ano uma atenção especial da Acab. Tanto que em 2003, a quarta edição do Congresso Brasileiro de Estrutiocultura deve ocorrer em um dos Estados da região. “A Acab é uma entidade nacional e tem que estar se deslocando para onde a fronteira da atividade se desloca”. Este ano ele foi realizado em Brasília, no Distrito Federal, e a entidade registrou uma mudança do público em relação ao primeiro. De iniciais curiosos, hoje o evento tem abrigado empresários, criadores e técnicos que de alguma forma estão vinculados ao segmento.

Desempenho – O setor também sentiu os efeitos da alta do dólar nos custos das rações. O estrutiocultor já encontra no mercado formulações específicas para o avestruz, mas a dolarização dos principais insumos onerou de maneira expressiva a produção. “Isto nos preocupa, mas o avestruz nos possibilita uma certa flexibilidade para que possamos trabalhar reduções nos custos destas rações”.

A África do Sul é a grande produtora mundial. O Brasil está longe de concorrer em quantidade com o país africano, mas em qualidade, o presidente da Acab afirma que a produção brasileira está bem adiantada. Otimista, ele acredita que será apenas uma questão de tempo para que o Brasil possa rivalizar com a África do Sul no mercado internacional.

A Acab já possui um programa de melhoramento genético, o Progestruz, realizado em parceria com o Grupo de Melhoramento Animal da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, em Pirassununga, interior de São Paulo. “Praticamente recebemos aves do mundo inteiro, fazendo com que o rebanho nacional tenha uma grande diversidade”, explica Carrer. Por meio dele será possível repassar ao criador informações genéticas, possibilitando a seleção de reprodutores que deixarão suas progênies as futuras gerações. “É importante frisar que o Progestruz não apenas irá gerar resultados tecnológicos importantes, mas também resultados ligados à certificação de qualidade do produto brasileiro no mercado nacional e internacional”.

Expectativas – A estrutiocultura deve continuar no próximo ano com o seu processo de crescimento e reestruturação, visando cada vez mais a profissionalização e especialização da produção. Carrer acredita que os criadores precisam se organizar e trabalhar não só questões produtivas, mas também relacionadas a abate, processamento e comercialização. “É importante também estarmos com todas nossas Portarias publicadas para dar segurança e parâmetros aos criadores”.


Carrer vê cada vez mais profissionalismo e especialização no setor

O presidente da Acab acredita que o novo governo irá eleger a agropecuária como uma das áreas mais importantes dentro de sua linha de trabalho, que é voltada para o desenvolvimento social. Neste sentido, ele crê que a estrutiocultura pode contribuir bastante como uma atividade geradora de renda e de produtos com valor agregado, inclusive para pequenas propriedades. “Estamos com uma expectativa muito positiva de que poderemos contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas para o desenvolvimento regional”, afirma Carrer.

Em algumas regiões, afirma ele, a estrutiocultura pode participar destes planos de maneira diferenciada e positiva. O que aumenta o otimismo do setor de que no próximo ano a atividade continuará em seu ritmo de crescimento e de consolidação no País.