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Economia

Crise na zona do euro, pouso forçado na China e risco de mergulho recessivo dos EUA assustam investidores

Investidores podem preparar o coração para os solavancos que prometem continuar chacoalhando os mercados neste ano.

Crise na zona do euro, pouso forçado na China e risco de mergulho recessivo dos EUA assustam investidores

Os investidores podem preparar o coração para os solavancos que prometem continuar chacoalhando os mercados neste ano. Na opinião de especialistas, será um período apenas um pouco melhor do que 2011. “O ano vai ser difícil, a menos que os deuses do Olimpo grego intervenham”, brinca o diretor de investimentos da Fundação Cesp, Jorge Simino.

A boa notícia é que, embora o mapa dos fatos que poderiam causar verdadeiros tsunamis na economia global esteja coalhado de eventos significativos – como o de uma recessão na economia americana, uma forte desaceleração da economia chinesa ou a saída de um país da zona do euro -, a percepção geral é que a probabilidade de que algo dessa magnitude aconteça é pequena. “Acredito que vai ser um ano de insegurança financeira menor”, diz o ex-presidente do BNDES e hoje estrategista da Quest Investimentos, Luiz Carlos Mendonça de Barros.

A rejeição de um cenário de catástrofes, como a quebra de algum grande banco europeu, traz alívio. Ainda assim, gestores e analistas guardam palavras como “ano difícil” ou “ambiente agressivo” para o investidor.

Sem dúvida, o risco mais significativo – e nos últimos meses de 2011 o risco considerado mais provável – à economia global seria a saída de um país da zona do euro. A manobra colocaria em xeque o projeto de união monetária europeia, abalando os mercados. A Grécia pode sair? Pode. “Mas acho que isso tem 50% de chance de acontecer e outros 50% de não acontecer e, se for para escolher entre as duas possibilidades, eu escolho o não”, diz Simino, da Fundação Cesp.

Segundo ele, não seria mais possível voltar ao dracma sendo emissor de dívida em euro. Para o gestor, o país pode até ter “devaneios” de deixar a moeda, mas quando senta à mesa para discutir a partida reconhece que ela custará caro e opta por ficar. “Só em um estresse político absoluto a Grécia sairia”, diz.

Para Mendonça de Barros, o risco da saída de algum país da eurozona hoje é reduzido, mas isso pode voltar mais à frente, já que, segundo ele, uma questão importante foi levantada: “países tão diferentes podem coexistir economicamente?” O estrategista acredita, contudo, que os últimos posicionamentos do Banco Central Europeu (BCE) reduzem o risco de crédito do sistema bancário europeu, embora criem um sistema que chama de “zumbi”. “Como o do Japão 20 anos atrás, meio morto meio vivo.”

Há, contudo, um risco que sobrevive às iniciativas do BCE, do FMI e da própria União Europeia que é o relativo ao pesado calendário de rolagem da dívida da Europa, concentrado especialmente no primeiro trimestre deste ano. “Não tem jeito, o mercado vai especular, dizendo que os países não vão conseguir rolar as dívidas e que os juros vão subir”, diz Mendonça de Barros. “Mas com volatilidade e momentos de maior segurança, tudo está andando. Vejo recessão nos países periféricos e crescimento baixo nos europeus do norte”.

Lá fora, passada a crise de rolagem da dívida soberana, a partir de março, o cenário para a bolsa brasileira torna-se positivo. “Tenho duas apostas: uma mais calma, em bens de consumo e bancos, e outra em empresas voltadas a commodities, que, se eu estiver certo, devem ser favorecidas pela recuperação da economia chinesa”, diz Mendonça de Barros, para quem a bolsa pode subir de 20% a 25% este ano.

Um pouco mais cauteloso, Simino afirma que para os interessados em aplicar na bolsa 2012 será quase tão difícil como 2011. Mas, no cenário no qual acredita – sem quebra na Europa -, o Ibovespa tem fôlego para alcançar algo entre 65 mil e 70 mil pontos. “Se for investir em bolsa, é bom ter uma posição conservadora, em empresas sólidas e boas pagadoras de dividendos. Assim, se a bolsa tiver um tremendo rali, em alta de 20%, por exemplo, o investidor ficará com 14% ou 15% disto, o que está bom”. Agindo assim, diz Simino, até mesmo em meio a um evento de ruptura, o investidor ganha espaço para se defender.

Em relatório, a equipe do Deutsche Bank descarta a saída da Grécia da zona do euro, mas alerta que “o inconcebível não é mais impensável”. Segundo o Deutsche, o retorno dos gregos ao dracma envolveria uma brusca queda de preços de todos os ativos privados, larga reestruturação da dívida, imposição de controle de capitais e um provável colapso do sistema bancário grego – a um custo maior do que 30% do PIB do país. Embora não aposte no cenário, caso o pior aconteça, sugere a fuga para ouro ou títulos americanos, além do iene e da libra esterlina, que se beneficiam de queda no euro.

O mapa dos riscos contempla ainda a possibilidade de um duplo mergulho da economia americana, que passou por um ano difícil que incluiu, dentre outros fatores, o rebaixamento de sua nota de crédito e uma briga política impensável sobre o aumento do teto de sua dívida. O evento também não está mais no radar dos especialistas.

Segundo eles, um duplo mergulho da economia americana seria possível se a Grécia deixasse o euro ou se uma crise de financiamento maior atingisse a Itália e a Espanha. “O ‘double dip’ ficou para trás”, afirma Mendonça de Barros.

Simino ressalta que os americanos estão no meio de uma recuperação, ainda que fraca, e o esforço será mantê-la. “Se o PIB fechar 2012 em 2% ou 2,5% vai ser uma tremenda vitória”, diz.

Com relação à China, Mendonça de Barros lembra que a economia é um tanto mais complicada porque ninguém a entende direito. “Mas eu que acompanho China há bastante tempo avalio que eles têm tido todo o sucesso em equacionar problemas”, diz ao falar em crescimento entre 7% e 8% este ano, a não ser que um desastre ocorra na Europa.

Simino – que prevê expansão de até 9% para China – lembra que as ferramentas para lidar com problemas são várias no país asiático e vão muito além do capitalismo puro. “A intervenção estatal é via canetada, obrigando agentes econômicos a fazer o que o governo quer. Mas acho que temos que esquecer a China crescendo a 14% como já foi”, afirma ele. O fato, ressalta o Deutsche, é que, com reservas de US$ 3,2 trilhões, a China tem o poder de interromper o pouso – seja suave ou não – rapidamente.

Um último fantasma a rondar a economia global em 2012 – na verdade um fantasma bem mais camarada – seria um crescimento mundial surpreendente e muito acima do esperado. O desapontador é que este risco, mais até do que os anteriores, está fora de cogitação. “Não há este risco”, diz Mendonça de Barros. “A Europa vai crescer zero, os Estados Unidos, 1,5%, e a China algo entre 7% e 8%”, emenda. Simino é ainda mais enfático. “Eu não faria apostas exuberantes nessa direção”, finaliza.