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Economia

Crise quase zera superávit do Brasil com a União Europeia

Superávit brasileiro com a Europa encolhe nos primeiros cinco meses do ano em relação a 2011. Volume de importação europeia explica o resultado.

Crise quase zera superávit do Brasil com a União Europeia

A crise na União Europeia fez os países do bloco procurarem – e conseguirem – uma maior inserção no mercado interno brasileiro. No acumulado de janeiro a maio, o saldo da balança comercial dos europeus com o Brasil caiu dos expressivos US$ 3,4 bilhões de 2011 para apenas US$ 80 milhões este ano, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

Essa virada no comércio com o Brasil foi obtida por mérito dos europeus. Nos primeiros cinco meses do ano, os países da União Europeia aumentaram suas vendas ao Brasil em 13%, mas controlaram suas compras e importaram 5% menos produtos brasileiros. Para chegar a esse resultado, os europeus seguraram os preços e aumentaram a quantidade de produtos vendidos, em movimento oposto ao verificado no comércio do Brasil com o resto do mundo, no qual o preço das importações subiu mais que o volume.

A mudança nas transações com os europeus, no caminho de um menor superávit brasileiro, dá o tom de toda a balança comercial do país para o ano, na visão de José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação e Comércio Exterior do Brasil (AEB). “O preço das commodities explica a maior parte dessa retração. Com as economias dos países da União Europeia em recessão ou baixo crescimento, o apetite por produtos primários diminuiu, afetando diretamente nossa balança com eles”, afirmou.

A queda no preço do minério de ferro em relação ao alto patamar em que o produto estava cotado em 2011 foi um dos principais responsáveis pela contração nas exportações para a Europa, que somaram, ao todo, US$ 19,8 bilhões. Produto mais vendido à Europa, ele gerou US$ 2,7 bilhões para a balança, valor 21% menor do que em 2011. Além do minério, a queda foi disseminada e envolveu toda pauta de bens, como café, alimentos industrializados e madeira.

Do outro lado, a Europa aumentou a venda de manufaturados e produtos de maior valor agregado no Brasil. Máquinas e aparelhos mecânicos e elétricos e motores e veículos representaram a linha de frente, que também contou com crescimento de 69% das vendas de adubos e fertilizantes, indispensáveis na agricultura brasileira.

A resposta para o aumento das importações está no ganho de competitividade dos produtos europeus. Enquanto o preço médio dos bens comprados da Europa aumentou 3%, os bens do resto do mundo ficaram 6,3% mais caros no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Ajudado pelo preço, o volume das importações oriundas da Europa cresceu 14,5% na mesma comparação, enquanto a quantidade total importada pelo Brasil (considerando todos as origens) subiu apenas 3%.

Só a Alemanha, por exemplo, tem os europeus como compradores de 50% de suas exportações. A desaceleração econômica fez com que os países fortalecessem a estratégia de procurar outros mercados para manter o nível de produção, segundo Rodrigo Branco, economista da Funcex. “Eles estão com a demanda decrescente e não conseguem absorver tudo. A prova disso é que a maior presença não é localizada, ela aconteceu em praticamente todos os setores em que eles são competitivos.”

Os mesmos alemães, que foram bastante afetados em termos de mercados consumidores com a crise na zona do euro, são responsáveis pelo maior déficit do Brasil com a UE – ele passou de US$ 2,1 bilhões de janeiro a maio do ano passado para US$ 3 bilhões agora.

O movimento de melhora na balança para o lado da Europa não se restringiu ao país de Angela Merkel. Aqueles países com quem o Brasil tinha déficit ampliaram o saldo, enquanto naqueles com os quais o Brasil tinha superávit, esse encolheu, incluindo Espanha, Itália e Portugal. Até a Grécia vendeu mais e comprou menos: o superávit brasileiro caiu de US$ 66 milhões para US$ 43 milhões.

Mesmo com a Holanda, com quem o Brasil teve superávit de US$ 4,5 bilhões, o ganho foi menor. O país, contudo, não pode ser tomado como referência, pois serve como entreposto para produtos que vão para todo o continente, especialmente para a Europa Central, segundo Welber Barral, sócio da M Jorge Consultores Associados. “Existe o ‘efeito Roterdã’, que distorce as estatísticas”, disse.

O saldo da balança com os europeus nos primeiros cinco meses do ano é o menor desde 2002, quando o Brasil teve déficit de US$ 3 milhões, em corrente de comércio que ficou em torno de US$ 11 bilhões. A perspectiva para o ano é que o comércio com o bloco siga com patamar de superávit baixo. A soja, que estava com preço alto no início do ano, serviu para segurar o resultado destes primeiros cinco meses. Soma-se isso o salto nas vendas de aeronaves, de US$ 444 milhões até maio de 2011, para US$ 762 milhões agora.

Para Castro, da AEB, a China (com compras menores) e os Estados Unidos (vendendo mais manufaturas) devem levar a balança brasileira neste ano para um saldo bem inferior aos US$ 29,8 bilhões de 2011. A Europa vai ter forte influência nessa desaceleração. “Você pega um bloco em que o país é historicamente superavitário e muda o disco. Não tem como não influenciar o resultado final”, diz.

A previsão para o resto do ano de Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, é de um ritmo menor das importações europeias. Isso vai acontecer pela defasagem entre o ritmo da atividade do país e o tempo até o produto chegar em solo nacional. “O resultado está mais ligado à situação do fim do ano passado, quando estávamos mais aquecidos. Os números do segundo semestre vão estar ligados ao desempenho da primeira metade deste ano, que está fraco”, afirmou.