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Exportação

Economista recomenda foco no mercado externo

Com a economia brasileira em recessão, José Roberto Mendonça de Barros disse, em palestra na Câmara Árabe, que as empresas precisam aumentar seus esforços para exportar.

O economista José Roberto Mendonça de Barros, da consultoria MB Associados, deu palestra na noite desta segunda-feira (07/03) na Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo, e recomendou aos empresários que invistam nas exportações neste momento em que a economia brasileira vai mal. “As empresas devem fazer um esforço maior para vender lá fora”, disse Mendonça à ANBA.

Em sua avaliação, embora o cenário internacional não seja o ideal, também não é ruim. Há muita diferença de desempenho econômico entre os países. “Alguns estão bem e outros estão em dificuldades”, afirmou.

 As empresas brasileiras, porém, podem aproveitar o dólar valorizado para ampliar seus negócios lá fora. Com a alta da taxa de câmbio, os produtos brasileiros ficam mais baratos quando cotados em dólar e o exportador acaba faturando mais em reais com a conversão do valor da venda. “As empresas precisam colocar as exportações em seu plano de negócios”, ressaltou o economista.

O presidente da Câmara Árabe, Marcelo Sallum, destacou que esta busca pelas exportações já pode ser observada, e citou como exemplo a maciça participação de companhias brasileiras na Gulfood, feira da indústria alimentícia que ocorreu no mês passado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. “A exportação está sendo o caminho de muitas empresas”, ressaltou Sallum.
Mendonça aposta no aumento das vendas externas ao longo de 2016, como de fato está ocorrendo, e avalia que a balança comercial brasileira pode acumular um superávit acima de US$ 30 bilhões, contra um saldo positivo de US$ 19,7 bilhões em 2015 e um déficit superior a US$ 4 bilhões em 2014.

Com base nos números das contas externas, o economista observou que pela primeira vez o Brasil passa por um momento de forte turbulência econômica “sem que haja falta de dólares” no País. Além do superávit comercial, ele citou o alto volume de reservas internacionais (US$ 370 bilhões, segundo o Banco Central) e a redução do déficit em conta corrente, que este ano deve zerar.

Embora o desempenho econômico seja diferente de país a país, Mendonça afirmou, por exemplo, que os Estados Unidos continuam a ser um bom mercado, apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano estar crescendo menos do que o esperado; a China, mesmo com perspectiva de desaceleração econômica, deverá aumentar a importação de alimentos, o que beneficia diretamente o Brasil e os EUA; e a Argentina poderá melhorar sua relação comercial com o Brasil com o governo do novo presidente Mauricio Macri, contribuindo também para o fortalecimento do Mercosul.

Na seara interna, o câmbio pode também beneficiar as empresas brasileiras ao tornar mais caros os produtos importados, inclusive os chineses.

Agricultura é destaque

O desempenho da economia brasileira, porém, será novamente negativo, na avaliação de Mendonça. Após um recuo de 3,8% em 2015, o PIB do Brasil deverá cair pelo menos na mesma proporção este ano.

Para ele, a única exceção ficará por conta do setor agropecuário, que poderá avançar 2,2%, contra 1,8% em 2015. O economista não poupou elogios à atividade e disse que outros setores devem se inspirar nela.

“A boa notícia é que a cadeia agropecuária continua a crescer”, declarou. “É que o centro do modelo de negócios [do setor] é o aumento da produtividade. É o único setor assim, que mesmo estando bem, ganhando dinheiro, busca aumentar [a produtividade]”, acrescentou.

 E isso ocorre por meio de uma “agenda permanente de inovação”, com investimentos em ciência e tecnologia. “Na média, os segmentos urbanos não conseguem fazer isso. É uma grande lição setorial”, ressaltou.

Ao lado do mercado externo, o investimento em inovação, adoção de melhores práticas e redução de custos são outras recomendações que o economista fez aos empresários que acompanharam a palestra.

Ele disse também que é um bom momento para adquirir ativos no Brasil a preços baixos, mas alertou que não adianta esperar por benefícios fiscais ou crédito subsidiado por parte do Estado, dada a queda de arrecadação do governo.

Mesmo com a diminuição das receitas, e com o consequente déficit nas contas públicas, para Mendonça não há perigo de o Brasil dar o calote em seus credores. Para que esse perigo realmente existisse, seriam necessários muitos anos de desempenhos econômicos desastrosos. Ele disse, inclusive, que tem recomendado aos seus clientes a compra de títulos do Tesouro como opção de investimento.

Na opinião do economista, o principal problema do Brasil atualmente é a falta de confiança na economia em função da crise política. Nessa situação, o empresariado não investe por medo de não conseguir vender a produção e o consumidor não compra porque não sabe se conseguirá pagar. “É um circuito que se retroalimenta”, declarou. “O cenário econômico está sendo muito determinado pelo político”, acrescentou.