Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Sanidade

ENTREVISTA: Emergência de influenza aviária no mundo (re)acende alerta

Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Paulo Augusto Esteves, falou à Avicultura Industrial sobre o avanço da doença pelo mundo

ENTREVISTA: Emergência de influenza aviária no mundo (re)acende alerta

Os surtos de influenza aviária altamente patogênicas notificados à Organização Mundial para a Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês) na Europa e em diversos países pelo mundo nos últimos meses (re)acendem o alerta para os riscos da doença. De maneira geral, no entanto, episódios como esse são rapidamente controlados, afirma o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Paulo Augusto Esteves, doutor em Ciências Veterinárias, na área de Medicina Veterinária Preventiva (Virologia Veterinária). No entanto, em entrevista à Avicultura Industrial, ele aponta que “é sempre bom estarmos alertas”, mas vigilantes “de forma serena, sem pânico, para podermos agir com a precisão e coerência que este tipo de situação exige”.

Nos últimos meses, países como Reino Unido, Alemanha, Holanda e França registraram ocorrências de influenza aviária de alta patogenicidade. Outros países, aos poucos, foram se juntando, como a Suécia, a Dinamarca e o Japão. Diante desse cenário, a recomendação da OIE é o abate de todas as aves criadas nos locais afetados. .

Os relatos chamam a atenção da mídia, especializada ou não, dada a relação com outras zoonoses noticiadas em todo o mundo, como o coronavírus e a peste suína africana – doença que não é transmissível a humanos. No entanto, o pesquisador Paulo Esteves, aponta que os sorotipos de influenza aviária encontrados são de difícil transmissão para o homem.

Confira entrevista com o pesquisador da Embrapa.

Avicultura Industrial – Qual o panorama da IA altamente patogênica no mundo?

Paulo Esteves – Atualmente, conforme pode ser evidenciado ao acessar a página da Organização das Nações Unidade para Agricultura e Alimentação, através de monitorias realizadas ao redor do mundo em 2020, com relação aos Vírus da Influenza Aviária (VIA) que apresentam potencial zoonótico (H5Nx e H7Nx HPAI e H5Nx, H6N1, H7Nx, H9N2, H10N7 e H10N8 LPAI), foi detectada a presença dos subtipos H5 e H7 do VIA tanto de alta (HPAI) quanto de baixa (LPAI) patogenicidade, além do subtipo H9 de baixa patogenicidade (este último detectado em humano). Tais ocorrências deram-se, principalmente, na Ásia, Oceania, Europa, mas também (em número bem menor) na África, e na América do Norte.

 

AI – Tem ocorrido um avanço da doença?

Paulo Esteves – Como sugerido logo acima, eventualmente tem ocorrido surtos principalmente em alguns pontos da Ásia e, esporadicamente, na Oceania e Europa. Parece que tais surtos têm sido rápida e eficientemente contidos. Parece, também, que os surtos vêm ocorrendo mais ou menos nas mesmas regiões ao longo dos anos, sendo que a Ásia parece ser a região com maior número deste tipo de ocorrências ao longo do tempo.

Nas demais regiões, a impressão que se tem ao observar os dados fornecidos é de que ocorrem surtos mais localizados e esporádicos.

 

AI – O mundo precisa acender o sinal de alerta?

Paulo Esteves – É sempre bom estarmos alertas, vigilantes de forma serena, sem pânico, para podermos agir com a precisão e coerência que este tipo de situação exige. Importante que as medidas adequadas de biossegurança sempre sejam seguidas e respeitadas, mesmo quando ou em locais onde não houver registros da ocorrência de algum surto desta doença e, claro, especialmente nas redondezas dos locais onde tais surtos estejam ocorrendo.

 

AI – Quais são as principais características dessa doença?

Paulo Esteves – Com relação à patogenicidade, os Vírus da Influenza Aviária (VIA) são classificados em duas principais categorias: Influenza Vírus de Baixa ou de Alta Patogenicidade (em inglês: Low Pathogenic Avian Influenza (LPAI) e Highly Pathogenic Avian Influenza (HPAIV), respectivamente). Tais categorias referem-se à características que possibilitam ao vírus causar infecções e, consequentemente, sintomas mais ou menos severos em seus hospedeiros. Independente do tipo de VIA, em ambos os casos, estes vírus espalham-se rapidamente dentro dos lotes de aves alojadas.

Infecções de aves comerciais com VIA de baixa patogenicidade (LPAI) podem causar leves ou mesmo nenhum sintoma aparente (tais como o aparecimento de penas oriçadas e queda na produção de ovos). Por outro lado, infecções por VIA de alta patogenicidade (HPAI), pode causar doença severa e alta taxa de mortalidade.

Infecções por HPAI (com subtipos H5 ou H7, por exemplo) podem afetar múltiplos órgãos internos e atingir níveis de mortalidade de 90 à 100% em cerca de 48 horas.

AI – Qual o potencial que a influenza aviária tem para infectar seres humanos?

Paulo Esteves – Surtos de VIA em aves de produção são motivos de preocupação por várias razões, principalmente pelo fato de que infecções com VIA/ LPAI de subtipos H5 e H7 podem evoluir para vírus de alta patogenicidade (HPAI) com alto potencial para causar infecções em seres humanos. Além disso, existe sempre o potencial de que tais vírus disseminem-se rapidamente pelos lotes de aves causando doença severa e mesmo elevado número de mortes dos animais infectados, além dee um elevado e negativo impacto econômico e social.

Diversos tipos de VI podem infectar humanos (aviário, suíno, e outros). Tais infecções podem causar doenças que apresentam variados graus de manifestação desde infecções no trato respiratório superior apresentando sinais como febre e tosse, mas também, podem ocorrer sintomas mais graves tais como pneumonia, Síndrome Respiratória Aguda Grave, dores gastrointestinais, vômito, diarreia, conjuntivite, entre outros.

Muitos pacientes infectados com VIA subtipos H5 de uma forma geral, ou H7N9 apresentam sinais de infecções bastante agressivas sendo que os sintomas mais comuns são: febre alta (igual ou acima de 38°C) e tosse seguido de dificuldades para respirar. Nestes casos sintomas como dor de garganta ou coriza são menos comuns.

Outros sintomas (diarreia, vômitos, dor abdominal, sangramento nasal ou gengival, encefalite, dores no peito) também foram reportados.

Com relação à taxa de mortalidade em humanos, os subtipos de HPAI do VIA (H5 e H7N9) apresentam um valor percentual muito maior do que infecções por VIA sazonais.

Em humanos, infecções por VIA tipos H7N7 e H9N2 são geralmente leves ou subclínicas, embora tenha-se o registro de uma fatalidade após infecção por VIA H7N7 em humano na Holanda.

Finalmente, é importante salientar que, felizmente, VIA HPAI parecem disseminar-se com bastante dificuldade entre a população humana, o que tem limitado bastante o número de infecções por este tipo de vírus. Por isso mesmo, é necessária extrema atenção e tomadas de ações rápidas e efetivas de biossegurança que visem impedir o surgimento de um VIA HPAI com alta capacidade de disseminação entre os seres humanos.