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Sanidade

EPIDEMIOLOGIA E PROFILAXIA DA INFLUENZA AVIÁRIA

Mecanismos de transmissão em populações animais e respectivas medidas de profilaxia  

“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o  resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo,  para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece  nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas.” SUN TZU 

CONTEÚDO:  

I. Conceituação.

II. Distribuição geográfica: 1ª, 2ª, 3ª, e 4ª ondas; distribuição geográfica na América do Sul.

III.Conceitos gerais de profilaxia: prevenção, erradicação e controle.

IV. Características de importância epidemiológicas do vírus da influenza aviária: considerações gerais; características de importância epidemiológica (infectividade,  patogenicidade, virulência, persistência e resistência; e sensibilidade frente aos agentes  físicos e químicos).

V. Habitat natural do vírus de influenza aviária: características, presença do vIA na  América do Norte); papel epidemiológico da África e da Austrália como sumidouro do  Via; ausência de vIA no Peru e no Brasil.

VI. Hospedeiros: reservatórios naturais; aves suscetíveis de ecossistemas artificiais;  características das aves que transportam e disseminam o vIA (aves migratórias de rotas  curtas e áreas preferencias); e características de importância epidemiológica das aves  que transportam e disseminaram o Via; Imunidade.

VII. Cadeia de transmissão/cadeia epidemiológica da influenza aviária: fontes de  infecção, vias de eliminação, vias de transmissão, porta de entrada e suscetíveis.

VIII. Profilaxia: medidas gerias de profilaxia e medidas de profilaxia relativas às fontes de  infecção, vias de transmissão e aos suscetíveis.

I. CONCEITUAÇÃO: 

Influenza aviária (IA) doença infecciosa altamente transmissível causada por vírus da  família Orthomyxoviridae conhecida desde o século XIX responsável por muitos casos  esporádicos bem como graves surtos. Aves aquáticas são os hospedeiros naturais do vírus  da influenza (vIA) tipo A. A dinâmica do ciclo da infecção ocorre entre espécies de aves  aquáticas muitas das quais são migratórias com transmissão para aves domésticas e  outras espécies de animais. 

Transbordamento do vírus de aves aquáticas silvestres para galinhas e outras espécies  ocorre frequentemente. Muitos desses transbordamentos são transitórios a menos que o  vIA tenha se adaptada a determinados hospedeiros específicos. Até 2003, a maioria dos  transbordamentos a partir de aves silvestres envolveu vIA de baixa patogenicidade (lPAI)  tendo muito deles se convertido em vírus de alta patogenicidade (HPAI) em galinhas.  Desde 1959, maioria dos surtos pelo vírus HPAI tem sido manejado por programas de  eliminação total do plantel afetado que tem erradicado a maioria deles (SWAYNE et al,  2020).

II. DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

Mapa 1

Figura 1. Distribuição geográfica global de  influenza aviária de alta patogenicidade de  2005 a 2022 (WAHIS/OMSA).

 

 

 

Figura 2

Figura 2. Distribuição geográfica global de
influenza aviária de alta patogenicidade.
30/03/2023 (WAHIS/OMSA).

 

 

 

O fato dos vírus HPAI H5N1 detectados na América do Norte em novembro e dezembro  de 2021 terem sido originários do noroeste da Europa e pertencem ao clado 2.3.4.4b)  estão se disseminando pela Ásia, Europa, África e América do Norte, atualmente estão  ausentes da América do Sul e Oceania, poderá ser eventualmente importante na  caracterização molecular dos vírus isolados na América do Sul (CALIENDO et al, 2022). 

Estudos de SHI et al (2023) demonstraram que os vírus causaram três ondas de surtos em  vários países da Ásia, África, Europa e América do Norte. 

1ª onda – 2005 a 2010 – foi causada pelo vírus H5N1 e 55,2 milhões de aves morreram  ou foram destruídas. Os surtos ocorridos nesse período foram relatados principalmente  em países asiáticos, embora alguns países africanos e europeus também tenham sido  afetados 

2ª onda – 2011 a 2019 – foi causada por múltiplos subtipos de vírus H5 e 139,9 milhões  de aves morreram ou foram destruídas ( Figura 1 (a). Os surtos neste período foram  relatados na Ásia, Europa, África e América do Norte ( Figura 1(b)). 

3a onda – começou em 2020 e foi causada principalmente pelos vírus H5N8 e  H5N1; 193,9 milhões de aves morreram ou foram destruídas até o final de novembro de  2022. Os surtos neste período foram relatados principalmente na Europa e na América do  Norte, embora alguns também tenham sido relatados em países asiáticos e africanos 

Na América do Sul foram relatados como ilustrado no Quadro 1. 

Quadro 1. Distribuição geográfica da IA na América do Sul segundo o tipo de vírus e data  de notificação. Fonte – OIE (19/02/2023)

País/Território genótipo/sorotipo/subtipo Data
Argentina Vírus Influenza A de alta patogenicidade (Inf. com)  (não aves, incluindo aves selvagens) (2017). Não tipificado ou parcialmente tipificado 2023/02/16
Guatemala Vírus Influenza A de alta patogenicidade (Inf. com)  (não aves, incluindo aves selvagens) (2017) H5N1 2023/02/16
Bolívia Vírus Influenza A de alta patogenicidade (Inf. com)  (não aves, incluindo aves selvagens) (2017) H5N1 2023/02/15
Uruguai Vírus Influenza A de alta patogenicidade (Inf. com)  (não aves, incluindo aves selvagens) (2017)  Pendente 2023/02/15

III. CONCEITOS GERAIS SOBRE PROFILAXIA  

A transmissão ou cadeia epidemiológica ou cadeia de transmissão é uma sucessão de  eventos desde a fonte de infecção seguida da via de eliminação e vias de transmissão e  culminado com o suscetível. Se esta cadeia de sucessão de eventos não for interrompida,  a doença persistirá na população, pois a transmissão pode ocorrer indefinidamente.  

O conhecimento da cadeia epidemiológica é o fundamento para a correta seleção das  medidas de profilaxia. Considera o agente etiológico, hospedeiros e o meio ambiente. A atuação profilática: 

PREVENÇÃO: educação sanitária, vigilância e biosseguridade  

CONTROLE: isolamento, sacrifício, tratamento ou vacinação objetivando reduzir a prevalência da doença na população  

ERRADICAÇÃO: consiste no sacrifício dos animais infectados (portadores), doentes, contatos e comunicantes (animais que foram expostos ao risco de infecção), saneamento do meio ambiente e vazio sanitário; 

Para a prática da profilaxia é preciso partir do princípio que todo agente patogênico se  encontra no meio ambiente infectando ou parasitando hospedeiros invertebrados e/ou  vertebrados (caso da IA) e que os animais criados em estabelecimentos de produção (comercial ou genética) no Brasil são livres da influenza aviária (IA) e que o objetivo da  exploração animal é manter esta condição. A figura abaixo ilustra o ciclo de uma doença  endêmica. Os diferentes componentes do meio ambiente (seres vivos e inanimados) representam os perigos para a exploração animal.  

Figura 3. Ilustração da ocorrência de doenças em áreas geográficas endêmicas

Fotos Atualizadas

Como atuar profilaticamente? Educação sanitária e biosseguridade para decisão de  estabelecimento de produção livre ou com mínimo de doenças transmissíveis.  

Figura 4. Situação que se deseja manter no Brasil (livre) nos planteis comerciais e com o perigo da IA rondando perto ou longe.

Fotos Atualizadas

Como atuar profilaticamente no caso da IA? Vigilância, educação sanitária e  biosseguridade para manter estabelecimentos de produção livre de IA.  

A cadeia epidemiológica inicia pela fonte de infecção da qual é eliminado pelas vias de  eliminação, alcança o novo hospedeiro da mesma espécie ou não através das vias de  transmissão e entra no novo hospedeiro (suscetível) pela porta de entrada. Considera a  relação agente etiológico, hospedeiro e meio ambiente e indica o caminho da profilaxia  (prevenção, controle ou erradicação). 

A profilaxia é sempre introduzida após a confirmação da suspeita (diagnóstico clínico)  pelo diagnóstico laboratorial. As medidas de profilaxia objetiva interromper a cadeia de transmissão atuando sobre as causas e daí a importância de se conhecer a cadeia de  transmissão que está inserido no conter de Análise de Risco.  

Causa: são os fatores do meio ambiente que carreiam o vírus da fonte de  infecção até o suscetível. As causas, na cadeia de transmissão são representadas pelas vias de transmissão e são objeto das medidas de biosseguridade.  

IV. CARACTERÍSTICAS DE IMPORTÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DO VÍRUS DA  INFLUENZA AVIÁRIA (vIA) 

a. Considerações preliminares: 

O vírus de alta patogenicidade (HPAI) é originário do vírus de baixa patogenicidade (LPAI)  através de trocas no ponto de clivagem da hemaglutinina proteolítica incluindo mutação  dos múltiplos aminoácidos não básico para básico, duplicação dos aminoácidos básicos  ou recombinação com inserção de aminoácidos celular ou viral (CALIENDO, 2022).  

Segundo HANDEL et al (2013) se a transmissão ocorrer principalmente por contagio  indireto e escalar está iretamente relacionado com a carga viral (dose infectante), e  considerando a virulência ou as respostas imunes insignificantes, a pressão evolucionária,  é necessário que os vírus influenza evolua para uma boa resistência em altas temperaturas  dentro do organismo do hospedeiro. Para todos os outros cenários, os vírus influenza  apresentou boa resistência ambiental em baixas temperaturas. 

Os vIA podem permanecer infecciosos por longos períodos, até ou até mais de um ano,  quando mantidos em águas superficiais à temperatura ambiente do Alasca. Portanto, as  zonas úmidas podem representar um meio importante no qual os vIAs infecciosos que  podem residir fora de um reservatório biótico (RAMEY et al, 2022). 

O tempo de sobrevivência do vIA foi determinado ser mais longo em águas superficiais  filtradas com baixa temperatura (<17°C), pH neutro a básico (7,0 a 8,5), baixa salinidade  (<0,5 ppt) e baixa concentração de amônia (<0,5 mg /litro). (KEELER et al, 2014) 

Segundo SWAYNE et al (2020), os vIA quando eliminados do organismo da fonte de  infecção estão protegidos por matéria orgânica tais como secreção oro nasal ou fezes  que aumentam a resistência à inativação por meios físicos ou químicos. 

b. Característica de uma agente etiológico/patógeno de importância epidemiológica:  

Infectividade: definida com a capacidade que um patógeno possui de infectar  um hospedeiro e sua medida é a dose infectante 50% (DI50), ou seja, infectar  50% dos animais expostos, face à impossibilidade de se determinar a DI50  como no caso da IA, apenas se menciona como baixa infectividade (requer alta dose do patógeno) e alta infectividade (requer baixa dose do patógeno). Vírus  da IA apresenta alta infectividade. 

Patogenicidade: definida como a capacidade que um patógeno apresenta em  provocar aparecimento de sinais clínicos e sua medida é a prevalência. O vírus  da IA pode ser de baixa paternidade (LPAI) e de alta patogenicidade (HPAI)  

Virulência: é a medida da severidade de 1 caso clinico e a medida máxima da  virulência é a letalidade (porcentagem de mortos entre doentes). Não  confundir com mortalidade (porcentagem de mortos na população). A  virulência para aves silvestres (hospedeiros primordiais) é moderada, porém  alta para aves domésticas  

Persistência: definida como a capacidade que um patógeno apresenta,  quando entrar em uma população, ali permanecer por longo tempo ou  indefinidamente e a persistência do vIA é alta no hemisfério norte e  desconhece-se no hemisfério sul. A persistência é diretamente proporcional às  características do habitat (temperatura e umidade) e disponibilidade de  alimentos 

Resistência: definida como a capacidade que um patógeno apresenta em  sobreviver no meio ambiente na ausência de parasitismo. 

Resistencia do vírus da IA: As condições de frio e umidade aumentam a  sobrevivência do vIA no meio ambiente. Por exemplo:

Em dejeto líquido permanece viável por cerca de 105 dias no inverno e por  30-35 dias nas fezes a 4oC, por 7 dias a 20oC e por 4 dias a 25-32oC na sombra.  Na água a 28oC, vIA de alta patogenicidade (HPAI) tem sua resistência  reduzida em 1 log a cada 4-5 dias respectivamente após 26-30 dias, mas a  17oC sobrevive por 94-158 dias. 

Dessecação: destrói o vIA, pois, não sobrevive em objetos secos incluindo  calçados e vestuário.  

Influência da linhagem de vírus: algumas linhagens H5N1 Gs/GD isolada de  aves de aquática silvestres apresenta menor tempo de sobrevivência no  ambiente quando comparado com o vírus LPAI e outras linhagem de H5N1  Gs/GD que podem apresentar resistência no ambiente por maior período de  tempo.  

c. Sensibilidade frente aos agentes físicos e químicos 

O vIA é relativamente instável no meio ambiente. 

Agentes físicos tais como calor, pH extremos, condições hipertônicas e dessecação  podem destruir o vIA.

Solventes orgânicos e detergentes como desoxicolato de sódio e dodecil sulfato  de sódio inativam o vIA porque apresentam envelope lipídico  

Na presença de matéria orgânica: vIA é destruído por inativantes químicos como  aldeídos (formaldeído ou glutaraldeido), Beta-propriolactona, etileninima binária e  dióxido de cloro (ClO2) (SWAYNE et al, 2020; SUN et al, 2022).  

Após a remoção de matéria orgânica: desinfetantes químicos como fenóis, ions da amônia (incluindo desinfetantes como amônia quaternária), agente oxidizantes  (como hipoclorito de sódio e Virkon S®), ácidos diluídos e hidroxucloramina  podem destruir o vIA. 

V. HABITAT NATURAL DO VÍRUS DA IA 

a. Características: o habitat natural do vIA são as águas oceânicas abertas, em ambiente bentônico (fundos dos mares) habitados principalmente por seres planctônicos e nectônicos que são dependentes das características das massas de  água mais adequados ao seu ciclo de vida e conhecidos como seres pelágicos. Rotas  pelágicas são as rotas oceânicas percorridas pelas aves reservatórios do vIA, onde,  normalmente, vivem seres vivos que não dependem dos fundos marinhos, é um  ambiente ecológico de águas oceânicas abertas, acima do ambiente bentônico dos  fundos dos mares habitados principalmente por seres planctônicos e nectônicos. São  dependentes das características das massas de água mais adequados ao seu ciclo de  vida e conhecidos como seres pelágicos (CALIENDO et al, 2022). 

Bentônicos: são seres vivos do fundo dos mares que dependem de um sustento, seja ele  consolidado (ou firme, como o costão rochoso e os recifes de coral) ou não consolidado (ou mole, como: areia e sedimentos de baixa granulação).

Planctônicos: organismos que apresentam pouca ou nenhuma capacidade de locomoção e, portanto, não são capazes de vencer a força da água e assim são transportados de  maneira passiva pela corrente de água.

Nectônicos: são organismos aquáticos que se destacam por sua capacidade de vencer a  força da correnteza e com apresentam capacidade de deslocamento e natação. Exemplos: aves, peixes, alguns grandes insetos aquáticos, moluscos, anfíbios, répteis e até mesmo  algumas aves.

Figuras 5 6 e 7

Figura 8

Figura 9

Daphnia magna, caranguejo  

Título de RNA viral tenham sido consistentemente maiores no tecido Daphnia magna,  invertebrado aquático do que na água, pesquisas adicionais são necessárias para  avaliação do papel epidemiológico como um vetor potencial de infecção por vIA para  aves aquáticas (MEIXXEL 2013). 

Figura 10

Caranguejo de águas frescas

Figura 11

A ecologia do vIA é ainda parcialmente conhecida. Caranguejos de águas frescas não  podem ser negligenciados como fator biótico no ecossistema da IA. A análise da  habilidade dos caranguejos em acumular e disseminar o vIA que permanece infeccioso  por 48 horas enquanto que na água resiste por 36h. Acumulam vIA em suas brânquias e  trato gastrointestinal e disseminam para outros caranguejos e para água (MA et al, 2021)  

b. Presença vIA na América do Norte (ROTA DO ATLÂNTICO):  

  • O vírus HPAI H5N1 foi detectado na América do Norte em novembro e dezembro  de 2021 originários do noroeste da Europa e pertencem ao clado 2.3.4.4b do  HPAI. Muito provavelmente, esses vírus surgiram no noroeste da Europa no  inverno de 2020/2021, se dispersaram da Europa no final do inverno ou início da  primavera de 2021 e chegaram à América do Norte no outono de 2021 via rota  do Atlântico. Os vírus podem ter sido transportados através do Atlântico por aves  migratórias usando rotas diferentes, incluindo rotas islandesas, groenlandesas/ árticas ou pelágicas (mares abertos) (CALIENDO et al, 2022).  
  • No período de 2015 a 2017 foram estudadas amostras de aves aquáticas de áreas  de reprodução (Maine) e invernada (Maryland) dentro da rota do Atlântico) ao  longo da costa leste da América do Norte para investigar as tendências espaço temporais na persistência e disseminação do vírus influenza. Foram. Isolados 109 

vIA de 1.821 amostras cloacais/orofaríngeas de patos selvagens (Anas  platyrhynchos) e patos pretos americanos (Anas rubripes), duas espécies com  importância ecológica e de conservação na rota aérea que também são  reservatórios dos vIA. Apresentaram similaridade >99% com nucleotídeos em  todos os segmentos gênicos encontrados entre oito pares de aves no local ao  norte ao longo dos anos, indicando algum grau de estabilidade entre as  constelações genômicas e a possibilidade de persistência ambiental. O exame dos  registros de anilhamento indica movimentos migratórios diretos de aves aquáticas  entre os dois locais em uma estação anual, fornecendo um mecanismo para o fluxo  gênico viral inferido. Evidências foram encontradas para a disseminação do vírus  de aves limícolas para gaivotas (Laridae) e de patos para aves limícolas e aves  domésticas. Este estudo contribui para a compreensão da ecologia do vIA em aves  aquáticas dentro da rota do Atlântico (PROSSER et al (2022). Obs. interpretar com  base no conhecimento do período de transmissibilidade do vírus pelas aves  migratórias.  

Obs. A rota do Atlântico entra no Brasil por Pernambuco (Ilha Coroa do Avião) e  vai até o sul da América do Sul 

c. Papel epidemiológico da África como sumidouro do vírus da IA: como na  dinâmica da disseminação global de um vírus zoonótico e economicamente  importante tal como a gripe aviária altamente patogênica (HPAI) H5Nx da linhagem  Gs/GD foi caracterizado os padrões espaço-temporais de difusão deste vírus  durante três ondas epidêmicas intercontinentais HPAI H5Nx e foi demonstrado que  a África atuou principalmente como um sumidouro ecológico dos vírus HPAI H5Nx  (FUSARO et al, 2019). 

d. O papel epidemiológico da Austrália como sumidouro do vírus da IA: baseados  no conhecimento que as condições ambientais relevantes e os padrões de migração  e reprodução das aves são substancialmente diferentes no hemisfério sul e estudos  mostrando que vAI são raramente introduzidos na Austrália, seguidos por décadas  de circulação isolada e eventual extinção (WILLE et al, 2022). 

d. Ausência de vIA no Peru (ROTA DO PACIFICO): a Área Marinha Protegida de Punta  San Juan (PSJ) (15°22′S, 75°12′W) protege as principais populações reprodutoras de  pelicanos (Pelecanus thagus) e cormorões guanay (Phalacrocorax bougainvillii) no  Grande Ecossistema Marinho da Corrente de Humboldt. Não foi detectada  presença de circulação do vírus da IA (WATSON et al, 2022). 

e. Ausência vIA (H5 e H7) no BRASIL: monitoramento de 2816 aves de 391  explorações de fundo de quintal de onze diferentes sítios de aves migratórias  localizados em sete estados brasileiros no período de 2011 a 2015. Pela análise  das 2716 amostras de soro (Teste de ELISA competitivo para proteína NP do 

anticorpo) e subtipificado pela inibição da hemaglutinação para os dezesseis  subtipos do vírus influenza A não foram detectados anticorpos para os subtipos  H5 e H7 do vIA, mas detectados para os subtipos H1, H3, H4, H6, H8, H9, H10, H12,  H13 e H16 de nove dos onze sítios. Suabes de traqueia e cloaca foram submetidos  à prova de PCR em tempo real para detecção do RNA do vírus influenza e o RNA  do vIA foi detectado em apenas três amostras de uma mesma propriedade e  nenhum vírus hemaglutinante foi isolado a partir deste material. Os resultados  obtidos permitem concluir que os vírus de influenza aviária de baixa  patogenicidade circulam em aves de subsistência criadas no entorno de sítios de  aves migratórias no Brasil e alertam para a importância da ampliação da vigilância  ativa nesta população (REISCHAK, 2016). 

f. Ausência vIA (H5 e H7) no Rio Grande do Sul (ROTA DO ATLÂNTICO): o Parque  Nacional da Lagoa do Peixe é uma fonte de múltiplos subtipos de vIA, com os  níveis de vírus influenza em aves sendo mais altos no final do período de invernada  nesta região. Os vírus H6N1 foram o subtipo predominante identificado. Esses  vírus eram mais semelhantes aos vírus da linhagem sul-americana do que aos da  linhagem norte-americana. O estudo de 1.212 amostras estudadas, 48 (4,0%)  continham RNA do vírus influenza detectável. Sequências virais parciais foram  obtidas de 12 dessas amostras, mostrando a presença dos vírus H2N2 (1), H6Nx  (1), H6N1 (8), H9N2 (1) e H12N5 (1). Como os vírus H6 predominaram, geramos  genomas completos de todos os 9 vírus H6. As análises filogenéticas mostraram  que eles eram mais semelhantes aos vírus da linhagem sul-americana. Os vírus  H6N1 não causaram sinais de doença em furões infectados e, apesar das diferenças  genéticas, eram antigenicamente semelhantes aos isolados norte-americanos  (ARAÚJO et al, 2018). 

Obs. Brasil considerado como livre de IA (BRASIL 2022) 

VI. ECOLOGIA DA INFLUENZA AVIÁRIA  

É influenciada por diversos fatores incluindo padrões climáticos e migratórios, porém  pouco se conhece a respeito.  

Disseminação a longas distâncias ligadas às migrações inter e intra continentais estoa relacionadas com habitats de reprodução na Beringia compartilhadas com as espécies  migratórias da América do Norte e Ásia  

Além desses fatores há influência da temperatura da agua, pH, salinidade e biota c existente que impactam na viabilidade de resistência do vírus na natureza.  

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: podem potencialmente alterar a ecologia do vIA por  diversos meios: aquecimento pode alterar padrões e tempo de migração criando novos rearranjos de espécies e novas oportunidade para o rearranjo e carreamento  do vírus. 

TEMPERATURA DA ÁGUA E COMPOSIÇÃO QUÍMICA: interferem na sobrevivência  do vIA resultando em alteração do vírus. Shift pode alterar potencial de persistência,  patogenicidade e transmissibilidade ampliando potencial pandêmico no homem e  animais 

FUTUROS ESTUDOS: mecanismos e vias de introdução bem como evolução no Novo  Mundo são ainda obscuros. Merecem mais estudos pontos como ecologia e evolução  do vIA incluindo interações entre variáveis como alterações do uso da terra e  demográfica no Sudeste Asiático; aquecimento no Ártico; localização e mistura  interespécies; interação entre aves silvestres e domésticas; e o papel das medidas  preventivas nos estabelecimentos de produção avícola bem como preparo em  medidas de contingencia. 

VII. HOSPEDEIROS  

O vírus da Influenza Aviária (vIA) tem sido isolado, em nível mundial, de mais de 90  espécies de aves de vida livre pertencentes a 13 diferentes ordens representando 61%  das espécies naturalmente infectadas (SWAYNE et al, 2020). Abaixo alguns exemplos de  cada ordem: 

a. RESERVATÓRIOS NATURAIS: 

  • ANSERIFORMES: patos, marrecos, gansos, cisnes, anhumas e tachãs 
  • CHARADRIIFORMES: aves marinhas, gaivotas, andorinha do mar, maçaricos,  codorna japonesa, codornizes, mandrião, araus. 
  •  Outras ordens: Ciconiiformes (garças e ibis), Columbiformes (pombas),  Falconiformes (aves de rapinas), Galliformes (perdiz e faisão), Gaviiformes  (mergulhão), Gruiformes (carqueja e galínila), Passeriformes (perching birds—e.g.,  maina, tentilhão e tecelão), Pelecaniformes (cormorante), Piciformes (pica pau),  Podicipediformes (mergulhão), e Procellariiformes (cagsrra). Representam 61% das  famílias de aves conhecidas. 

b. AVES SUSCETÍVEIS DE ECOSSISTEMAS ARTIFICIAIS COMO AGRICULTURA,  CATIVEIRO, LAZER E DE EXPOSIÇÕES  

PSITTACIFORMES (papagaios, cacatuas e periquitos);  

CASUARIIFORMES (emu/ema australiana);  

STRUTHIONIFORMES (avestruz); 

Em suma, suscetíveis incluem também galinhas, perus, codorna japonesa (Coturnix  japonica), galinha d´angola (Numida meleagris), perdiz-da-virginia (Colinus virginianus), 

várias espécies de faisão, perdiz chucar (Alectoris chukar), ganso (Anser anser  domesticus), patos (mallards [Anas platyrhynchos domesticus] e patos Muscovy [Cairina  moschata domesticus]). 

Aves das ordens Psittaciformes provavelmente são infectadas depois da captura e após  a incorporação no plantel existente ou na quarentena. Passeriformes de vida livre  (estorninho e pardal) tem sido detectado associado com surtos em aves de criação  industrial em razão do contato próximo.  

No Brasil, segundo SANTOS et al (2022) estão descritas 57 áreas de agregação  distribuídas por 490 células da grade (localidade) em 19 estados e em ilhas oceânica representando a maior parte das áreas de ocorrência de espécies migratórias limícolas e  costeiro-oceânicas. Poucas são as áreas com agregação expressiva de indivíduos de  espécies florestais ou campestres. 

c. Características das aves que transportam e disseminam o vírus da IA. 

Aves de migração intercontinental: rotas de retorno são distintas das rotas de vinda  

Rotas Migratórias

Aves migratórias de rotas de curta duração e áreas preferencias

Segundo HÉNAUX & SAMUEL (2011), o reservatório natural do vírus da gripe A são as  aves aquáticas dos gêneros Anseriformes e Charadriiformes.  

Segundo VERHAGEN et al, (2014), a disseminação do vírus de IA ocorre pela participação  de aves migratórias de curta duração (voo de 1.000 a 2.000 km) e não as de longa  distância. Aves sadias e recuperadas de influenza tem autonomia média de 400 km/dia  (SUN et al, 2018). 

Segundo LAM et al (2012), em face das deficientes informações a respeito da importância  das aves migratórias na ecologia e evolução do vírus da IA notadamente sobre padrões  de disseminação da IA em escala intercontinental realizaram estudos de genes virais. Os  resultados sugeriam fortemente que a disseminação intercontinental de aves é uma das  maiores barreiras ecológicas incluindo as distâncias entre rotas. As rotas na América do  Norte são usualmente concebidas como áreas nas quais rotas migratórias relacionadas  ocorrem dentro de uma definida área geográfica, representando agregados de população  de aves que são espacialmente e temporalmente isolados daquelas rotas  intracontinentais como ilustrado na figura 9. 

Figura 9. Taxas de rotas migratórias especificas dos EUA (LAM et al, 2012)

Figura 9

Probabilidade máxima estimada do nível médio do fluxo interno do gene interno do vIA;  Rota do Pacifico (vermelho), Rota Central (verde), rota do Mississipi (amarelo) e Rota do  Atlântico (azul). As cores das barras e da região onde se encontram ilustram a medida do  gene. Por ex. a barra vermelha na região terrestre amarela indica a extensão do fluxo do  gene entre a Rota do Pacifico e a Rota do Mississipi enquanto a barra vermelha na região  terrestre vermelha indica o fluxo do gene dentro da Rota do Pacífico. As taxas foram  estimadas para 95% de confiança. Verificaram que os genes identificados na rota do  Pacífico (vermelho) diminuíram significantemente. 

Segundo SUN et al (2018), são favoráveis à disseminação do vírus distâncias das  invernadas, rodovias, relevos elevados, taxa de ocupação por vegetação, uso e cobertura  da terra. Essas áreas encontram-se mais concentradas na Europa Central, leste do  Mediterrâneo e leste e sudeste Asiático. Conglomerados de focos estão relacionados com  nível social, econômico e ecológico da região. Estas variáveis relacionadas à localização  devem ser priorizadas nos esforções de controle. 

Segundo GASS et al (2023), o movimento do vIA no ártico e subártico reflete a migração  de aves selvagens ao redor do perímetro do norte circumpolar, favorecendo voos de curta  distância entre as regiões proximais ao invés de voos de longa distância sobre o interior  polar. A Islândia conecta o movimento do vírus entre a Europa continental e a América 

do Norte, consistente com a migração para o oeste de aves selvagens da Europa  continental para o nordeste do Canadá e a Groenlândia. Embora as taxas de difusão do  vírus fossem semelhantes entre os grupos taxonômicos de aves na Islândia, as gaivotas  (Charadriiformes) desempenham um papel descomunal como favorecendo voos de curta  distância entre regiões proximais, em vez de voos de longa distância sobre o interior polar  que desempenham um papel descomunal como sumidouro (escoadouro) de IAVs de  outros hospedeiros aviários antes da migração. Esses dados identificam padrões de  movimento do vírus nas latitudes do Norte e informam futuras estratégias de vigilância  relacionadas a IAVs sazonais e emergentes com potencial preocupação de saúde pública. 

Segundo YUN et al (2022), a disponibilidade de habitat determina a distribuição de aves  aquáticas migratórias ao longo de sua rota, o que influencia ainda mais a transmissão e a  disseminação espacial dos vírus da influenza aviária. Estudos de modelagem esclareceram  as possíveis consequências da perda de habitat na disseminação e transmissão do vAI na  escala da rota migratória e sugeriu os mecanismos por trás desses efeitos, indicando a  importância da observação na mudança dos padrões espaciais e temporais dos surtos de  IA. 

Características epidemiológicas das aves que transportam e disseminam o  vírus da IA são as que estão com infeção ativa e não as recuperadas:  

Período de transmissibilidade (período de tempo de eliminação do patógeno pela fonte  de infecção) 

O período de tempo médio para eliminação do organismo da ave migratória e disseminar  o vírus da IA para outras aves é igual a 3,1 dias (± 0,1 dia) (HÉNAUX & SAMUEL, 2011;  LATORRE-MARGALEF, 2008; SODA et a, 2022; AZEVEDO-JUNIOR et al, 2002); 

Com base em estudos de avaliação quantitativa de risco pelo método de telemetria por  satélite para longas distâncias verificou-se que é baixa a probabilidade de as aves  migratórias dispersarem vIA a longas distâncias. Estimou-se que aves migratórias  disseminam vIA somente por 5-15 dias/ano significando disseminação por cerca de 500  km. Ressalte-se que o tempo de parada nas invernadas é maior que o período de  transmissibilidade. Transmissão a longas distancias talvez requeiram transmissão entre  aves nas invernadas. Infecções indicam não alterar a habilidade de voar (GAIDET et al,  2010).  

Em estudo baseado em infecção experimental em aves Anatidae (marreca  eurasiana/Mareca penelope, patos selvagens/Anas platyrhynchos e pintails do norte/ Anas  acuta) inoculadas com virus H5N6 HPAI por via intranasal com 106, 104 ou 102 EID50 (H5N6). A maioria dos patos inoculados com ≥ 104 EID50 do vírus soro converteram em  10 dias após a inoculação e o vírus foi eliminado principalmente por via oral por no 

máximo 10 dias após infecção, seguido por via cloacal na fase tardia da infecção (KOSUKE  et al 2022) 

Em 2020, meta análise de 152 grupos amostrados da população mundial detectou  prevalência combinada de circulação viral (testes moleculares) igual a 1,6% (95% CI 1,3– 1,9%) e o estudo ELISA produziu uma soro prevalência de 66,7%. Resultados  retrospectivos de detecção molecular variaram por ano, de 0,2% em 2014 a 96,9% em  2015 e 52,6% em 2020 (CALLE-HERNÁNDEZ et al, 2023) 

d. IMUNIDADE  

A proteção especifica é diretamente dependente da imunidade humoral, imunidade  celular, imunidade de mucosa e da imunidade inata  

Imunidade ativa humoral: imunidade ativa em decorrência de infecção natural bem  como da vacinação, desperta resposta imune humoral (anticorpos IgM e IgG) e  potencialmente imunidade de mucosa (IgA). A resposta por IgM é detectada já no 5º dia  após infecção (dpi) seguida de uma fraca resposta por IgY. A resposta imune de mucosa  pouco estudada. Imunidade humoral é um dos componentes da proteção especifica. Em  caso de se optar por vacina inativada, há a necessidade que seja incorporada em  adjuvante.  

A intensidade da resposta imune varia nas diferentes espécies de aves. Pesquisas revelam  que a melhor resposta é observada nas galinhas Leghorn seguida do faisão, peru, codorna  e pato. 

As proteínas de superfície HA e NA estimula produção de anticorpos neutralizantes e  protetores, porém a proteção contra HA é superior ao da NA. 

O nível de proteção contra infecção de mucosa e subsequente eliminação do vírus desafio  pode depender da similaridade do antígeno (ou da sequência da proteína viral) e do  antígeno de campo.  

Duração da proteção: é desconhecida,  

Em condições experimentais: em galinhas, a proteção experimental com 1 dose  de vacina tem sido observada que é da ordem de 30 semanas prevenindo  ocorrência de doença e mortalidade; 

Em condições de campo: em aves de produção comercial de vida curta como aves  aquáticas, perus e frangos, há indicação da necessidade de 2 doses e em aves de  vida longa haveria necessidade de 3 doses ou mais. 

Imunidade celular:  

A resposta efetora da imunidade celular depende inicialmente de célula T citotóxica,  usualmente células CD8 que identifica células infectadas mediando sua morte para 

abortar o ciclo de replicação viral. O nível de proteção é dependente do número de células  T circulantes que reconhecem especificamente peptídeos do vIA, porém os níveis de  células T especifica e reativa declina muito rapidamente após a infecção natural e  vacinação permanecendo pequeno número de células de memória. Células de memória  quando ativada poderá replicar e aumentar o número de células killer, porém esta  resposta demanda muitos dias e que por si só não é suficiente para proteger contra cepas  virulentas que podem matar as aves em 2-3 dias.  

Vacinas:  

Existem evidencias experimentais de proteção parcial avaliada com desafio com vacina  viva heteróloga preparada com vírus H1N1 e com vacina preparada com proteínas  internas do vírus H5N2 de vIA de alta patogenicidade. 

Infelizmente não existem testes diagnósticos para avaliação da imunidade celular  

VIII. CADEIA DE TRANSMISSÃO/CADEIA EPIDEMIOLÓGICA DA INFLUENZA  AVIÁRIA 

Fig. 10. Elos da cadeia de transmissão/cadeia epidemiológica 

Figura 10

1. FONTES DE INFECÇÃO: 

Definição: fonte de infecção é todo animal vertebrado que alberga o patógeno em seu  organismo e o elimina para o meio exterior através das vias de eliminação  a. Reservatórios: aves de outras espécies de aves em relação a espécie de interesse.  Para galinhas, todas as demais espécies suscetíveis são reservatórios tais como  aves migratórias, outras aves silvestres, suínos domésticos e aves de companhia e  de estimação. Obviamente, a transmissão está facilitada quanto mais próximas as  aves forem filogeneticamente. São responsáveis pela ocorrência do surto primário  b. Doentes e portadores em incubação: são fontes de infecção para aves de mesma  espécie.  

A epidemia de 2014-2015 na América do Norte demostrou que a transmissão do vIA  H5N2 da linhagem Gs/GD pode ocorrer entre aves silvestres e aves domésticas embora  não esteja claramente definida como ocorre a transmissão  

Obs. comunicante é aquele animal que esteve exposto ao risco de infecção, porém desconhece-se se foi infectado ou não. Se depois de superado o período de incubação  vier a adoecer, passará a pertencer à cadeia de transmissão na condição de fonte de  infecção (doente). Se não adoecer, passará a pertencer à cadeia de transmissão na  condição de suscetível.  

2. VIAS DE ELIMINAÇÃO:  

Definição: meio ou veículo de que vale o patógeno para ganhar o meio ambiente.  

vIA é eliminado pela secreção oro nasal, conjuntiva, saliva e fezes porque a replicação  ocorre nos órgãos respiratórios, intestinal e renal e/ou reprodutivo. Pode ser também  detectado na epiderme incluindo penas, folículos da pena bem como em glândulas como  o uropígio.  

3. VIAS DE TRANSMISSÃO: 

a. Contágio indireto: 

Transmissão aerógena entre aves silvestres: implica na necessidade de as aves  estarem muito próximas entre si, pois as gotículas de secreção nasal não se  dispersam com facilidade. Ilustra a importância da aglomeração 

Fig. 10. Ilustração da importância da aglomeração na disseminação da IA em ambiente aberto (aves silvestres) 

Aves silvestresObs. estudo realizado um modelo experimental observacional durante abate  sanitários de aves em um surto de IA causado por vírus LPAI foi possível observar  transmissão aerógena para um furão a uma distância de até 80 cm. 

Transmissão aerógena entre aves alojadas em galpões fechados: ilustra a  importância da aglomeração  

Fig. 11. Ilustração da importância da aglomeração na disseminação da IA  em ambiente fechado  

Ambiente fechado

b. Água de bebida: contaminada com secreções e excreções (fezes) de aves infectadas (doentes). 

c. Pessoas: funcionários ou visitantes que saem de granjas com IA e carreiam o vIA em  calçados e roupa, porém implica em pequenas distâncias entre granjas em razão do  vírus não sobreviver em objetos secos.  

d. Veículos compartilhado entre granjas, caminhões de transporte de aves: importantes para a disseminação do vIA entre granjas  

Obs. note-se que muitos fatores como distâncias geográficas das populações de  hospedeiros, misturas de espécies em uma mesma área geográfica, idade e  densidade de aves e a temperatura ambiental impactam na habilidade do vIA se  movimentar entre espécies de hospedeiro que influenciam na incidência da  infecção/doença (por incidência entende-se a frequência de ocorrência de novos  casos, obviamente casos que surgem a partir do caso índice/primeiros casos) 

4. PORTAS DE ENTRADA: boca e narinas  

5. SUSCETÍVEL: aves, animais aquáticos, suínos domésticos e homem 

IX. PROFILAXIA  

A. MEDIDAS GERAIS DE PROFILAXIA (educação em saúde): objetiva esclarecer e  motivar pessoas direta ou indiretamente envolvidas na avicultura para fins de  notificação imediata quando da ocorrência de quadro clinico suspeito de IA  (síndrome respiratória nervosa) e treinar funcionários de estabelecimento de  produção em procedimentos de biosseguridade 

B. MEDIDAS DE PROFILAXIA RELATIVAS A CADA ELO DA CADEIA  EPIDEMIOLÓGICA 

1. MEDIDAS DE PROFILAXIA RELATIVAS ÀS FONTES DE INFECÇÃO (BRASIL,  2013) 

a. Sacrifico sanitário de todas as aves do estabelecimento afetado (BRASIL, 2013) 

b. Destinação adequada dos animais mortos e matérias descartáveis  pertencentes às propriedades e utilizados nas ações de emergência sanitária; 

c. Limpeza e desinfecção de veículos das propriedades da zona de proteção  envolvidos na produção animal, objetos e materiais permanentes. OIE/OMSA  recomenda emprego do desinfetante Dióxido de cloro (ClO2) liquido ou  gasoso para desinfeção do ar (SUN, 2022) 

Uma solução aquosa de ClO2 a 126 µg/mL por 15 segundos. O gás ClO2 na  diluição > 5 µL/L mantido por 1 h. 

2. MEDIDAS DE PROFILAXIA RELATIVAS ÀS VIA DE TRANSMISSÃO  

a. Limpeza e desinfeção de instalações, equipamentos, veículos e objetos  permanentes 

b. Vazio sanitário com colocação de aves sentinelas  

3. MEDIDAS DE PROFILAXIA RELATIVAS AOS SUSCETÍVEIS 

a. Vigilância para detecção precoce do vIA, monitorar a ocorrência de cepas  virais da IA para subsidiar estratégias de saúde pública e saúde animal. O Plano de Vigilância de Influenza Aviária e Doença de Newcastle (MAPA.  2022) envolve: 

  •  Vigilância passiva: investigações de casos suspeitos de SRN 
  • Vigilância passiva: investigação de mortalidade excepcional em aves  silvestres
  • Vigilância ativa em avicultura industrial
  • Vigilância ativa em aves de subsistência em áreas de maior risco de  introdução de IA
  • Vigilância ativa em compartimentos livres de IA e DNC

b. Vigilância no Brasil: critérios de amostragem da vigilância (MAPA 2022) Abaixo, ilustração da distribuição geográfica das regiões e dos pontos de vigilância  

Figura 12. Principais rotas de aves migratórias no Brasil e as três regiões selecionadas para  vigilância em aves de subsistência. Fonte: Plano de vigilância de influenza  aviária e doença de Newcastle. MAPA, 2022 

Figura 12

Figura 13: Critérios de seleção dos municípios por áreas de influência de 100 Km das  rotas de aves migratórias (critério 1) e a partir da densidade de  estabelecimentos (MAPA. 2022)

Mapa

Figura 12. Áreas de amostragem do componente de vigilância ativa em avicultura industrial. (MAPA. 2022)

Figura 19

Figura 20

Pontos de pouco de aves migratórias
locais/São Paulo. CEMAVE. 4a ed.,
2022

 

 

 

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