Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Exigências e desafios

Palestra sobre a redução do uso de antibióticos na produção avícola fechou com chave de ouro a Conferência Apinco 2004.

Redação AI 07/05/04 – 19:10 – Se há dois assuntos que estão presentes em todas as rodas de discussão do segmento de avicultura, “do topo ao chão de fábrica”, esses, sem dúvida alguma, são a crescente necessidade de redução do uso de antibióticos promotores de crescimento na produção de frangos de corte e a detecção de resíduos em produtos avícolas. Temas polêmicos e que têm e terão influência decisiva na forma como se produz carne e ovos no Brasil, País eminentemente exportador, ambos estão atualmente entre os principais desafios de vários profissionais do setor.

Os dois assuntos foram amplamente debatidos no último dia da Conferência Apinco 2004. Palestra de encerramento do evento, depois de uma maratona de mais de 45 apresentações, a presença maciça no auditório foi a prova cabal da importância dessas questões para os técnicos brasileiros. A apresentação foi proferida por Paul Mc Mullin, pesquisador do Poltry Health Center da Inglaterra, cujo título foi Produção avícola após a redução do uso de antibióticos; risco potencial de contaminação cruzada e detecção de resíduos.

Paul Mc Mullin, pesquisador do Poltry Health Center da Inglaterra

Não se pode deixar de mencionar que a apresentação teve um atrativo especial: a visão apresentada na ocasião foi de um técnico da União Européia, ou seja, representante do mais exigente mercado importador do mundo e, por extensão, principal “cartão de visitas” para qualquer país exportador de produtos alimentícios.  
Segundo Mc Mullin, a ocorrência de problemas relacionados a produtos de origem animal, verificados ao redor do mundo nas últimas décadas, modificou radicalmente a percepção e atitude dos consumidores em relação ao consumo de alimentos.

Desde então, ressalta o pesquisador, os riscos referentes ao consumo de alimentos têm merecido atenção especial. Em outras palavras: o quesito segurança alimentar passou a ser primordial e indispensável. “Hoje não basta que um produto tenha qualidade nutritiva, seja bem conservado e econômico. Ele tem que ser comprovadamente seguro”, afirma Mc Mullin.  A percepção de risco pode até ser diferente da realidade, diz o pesquisador, mas as indústrias agrícolas, “especialmente as que dependem das exportações, sabem bem que a percepção não deixa de ter efeitos reais”.

Segundo Mc Mullin, a mesma desconfiança pode ser aplicada ao uso de antibióticos e à presença de resíduos. Nesse contexto, a reação dos órgãos reguladores é fazer análise de risco e informar o consumidor. O pesquisador explica que os intermediadores nas cadeias alimentares, principalmente os grandes supermercados da Europa, tentam interpretar essa percepção e pressionam os produtores a tomar ações que eles percebem como apropriadas para proteger seus consumidores.

O próprio princípio da precaução que consta na Declaração do Rio de Janeiro de Meio Ambiente de 1992, diz o pesquisador, expressa essa postura adotada pelos países, sobretudo os europeus. Diz a declaração: “Falta de certeza não deve ser motivo para não se tomar medidas efetivas”. “Precisamos entender que essa é uma questão política e não técnica”, diz Mc Mullin.

Diretrizes e aditivos químicos

Segundo o especialista, existe, já a alguns anos, uma tendência nítida da perda de licença de medicamentos e aditivos existentes para ração. A justificativa utilizada para essa postura é a  “proteção ao consumidor”, através do estabelecimento de Limite Máximo de Resíduos (MRL) e controles mais rígidos sobre a utilização de agentes antimicrobianos. “Há também um processo de aprimoramento de mecanismos de registro que tende a aumentar as exigências para manter o produto existente e registro de novos produtos”.

Mc Mullin falou sobre a Diretriz 81-851, legislação fundamental para a aprovação de medicamentos e vacinas veterinárias. No início, diz o pesquisador, não havia mecanismo centralizado de controle nesta área, cada país respondia a pedidos de registro dentro dos critérios estabelecidos, mas conforme seu interesse e procedimentos. “Havia portanto uma variabilidade muito grande entre as aprovações nos diversos países”.

Também abordou a diretriz 70-524, que cobre aditivos para ração como promotores de crescimento, coccidiostáticos, vitaminas etc. “Atualmente  o sistema exige aprovação por marca para várias categorias, embora não tenha estabelecido MRLs para a maioria dos produtos, mas isso virá em breve para algumas classes”. Segundo ele, já existe uma proposta para se transferir os coccidiostáticos para a legislação de medicamentos, mas isso não deve acontecer antes de 2008.

Uma nova regulamentação desta área, informa Mc Mullin, foi aprovada e publicada em 2003 e vai substituir a Diretriz 70-524 a partir de setembro deste ano. De acordo com a nova legislação todos os aditivos para ração e produtos similares administrados via água precisaram ser registrados. Para certos insumos, os coccidiostáticos por exemplo, um MRL será exigido. “Com essa legislação aumentará o papel do EFSA, agencia européia de segurança alimentar responsável pelo processo de aprovação de produtos. Serão também suspensas as licenças dos promotores de crescimento antimicrobianos a partir de janeiro de 2006”, afirma. 
Sobre a monitoria de resíduos, Mc Mullin falou sobre a diretriz 96-23-EC, que obriga que todos os países membros implantem um programa de monitoramento. Segundo ele, os programas variam em extensão, número, tipo de amostras testadas e publicação resultados. “Na Grã-Bretanha, o governo criou uma Comissão de Resíduos Veterinários (VCR) para aconselhar sobre o assunto e organizar monitoria”, explica. “Há também hoje um esforço no sentido de se desenvolver novas metodologias de monitoramento”, completa.

Nitrofuranos

Os nitrofuranos, explica Mc Mullin, foram amplamente utilizados dos anos 60 aos anos 90, principalmente para infecções Gran-negativas de suínos e aves durante as duas primeiras semanas de idade. De acordo com ele, o recadastramento das licenças de tais produtos levantou suspeitas quanto a mutagenicidade. “A maior parte dos nitrofuranos no Reino Unido terminou em 1992, no entanto, o uso de furazolidona ainda foi permitido por mais dois anos”. Segundo o especialista, a principal preocupação de usuários foi com relação a segurança do trabalho na fábrica de ração. Muitos países, entre eles o Brasil e os EUA, seguiram a Europa e suspenderam o uso de furazolidona e nitrofurazona, mas continuam a permitir o uso de outros tipos de nitrofuranos.

A implementação de medidas no Brasil, a partir de 2003 para evitar resíduos de AMOZ é altamente eficaz, diz o pesquisador. Prova disso é o fato da União Européia ter decidido reduzir a freqüência de testes para 20% dos lotes de carne de frango a partir de fevereiro deste ano.

Coccidiostáticos

De acordo com Mc Mullin, os ionóforos são mais utilizados em rações e atualmente vivem um processo de reavaliação. O pesquisador falou sobre a detecção de resíduos de nicarbazina em fígado de frangos. Segundo ele, é muito mais fácil encontrar resíduos da substância em fígado do que em músculo, tornado o assunto mais importante para empresas que exportam fígado para o consumo humano.

No final de sua apresentação Mc Mullin teceu alguns comentários importantes. Para ele, o novo sistema de monitoramento regulamentador de zoonoses, anunciado em 2002, vai influenciar significativamente todas as cadeias produtivas. Da mesma forma, afirma o pesquisador, a questão dos resíduos continuará a causar preocupações, sobretudo no que diz respeito a ensaios altamente sensíveis para os produtos do anexo IV e seu metabólitos. E a futura perda dos promotores de crescimento deve expor os ionóforos a uma seleção mais intensiva.

Mc Mullin concluiu sua apresentação com a seguinte afirmação: “os riscos podem ser comercialmente importantes mesmo quando não são tecnicamente significativos. E os riscos microbiológicos e de resíduos são importantes em muitos mercados atualmente”.