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Fazenda da Toca será financiada por 'CRA verde'

Empresa levantou R$ 25 milhões com emissão, inédita no segmento de produção de ovos

Fazenda da Toca será financiada por 'CRA verde'

A Fazenda da Toca, do empresário Pedro Paulo Diniz, levantou R$ 25 milhões com a emissão de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) com selo verde, o primeiro concedido ao setor de avicultura de postura no país. Maior produtora de ovos orgânicos da América Latina e modelo na produção regenerativa, que utiliza apenas áreas degradadas e já desmatadas há muito tempo, a empresa projeta mais que dobrar de tamanho nos próximos três anos: até 2024, ela prevê ampliar o volume de produção em 133%.

O investimento será na expansão do plantel de galinhas, criadas em ambientes livres, sem gaiolas e com alimentação regulada a partir de grãos orgânicos, apelo de cuidado que garantiu o selo Certified Humane Brasil de bem-estar animal. Os recursos também servirão para ampliar a produção das embalagens, 100% recicláveis e biodegradáveis. Elas são usadas no transporte dos ovos – produzidos na fazenda de 2,3 mil hectares em Itirapina (SP), a 200 km da capital – a uma ampla rede de supermercados nas regiões Sul e Sudeste e no Distrito Federal. Em breve, eles chegarão também ao Nordeste.

Parte do dinheiro será ainda para a conclusão do projeto Carbon Free, que pretende reflorestar 23 hectares na propriedade com 37 mil mudas de plantas nativas da Mata Atlântica e neutralizar 100% das emissões de gases do efeito estufa geradas pelo sistema produtivo até 2023, outro feito inédito no setor avícola. A fazenda fez um inventário da pegada de carbono e criou um indicador de emissão de cada ovo para calcular a necessidade de recomposição vegetal.

A Toca, que conta com investimentos da Península Participações, empresa de investimentos da família Diniz, estruturou-se para entrar no mercado das finanças verdes. “A agricultura do jeito que fazemos regenera a vida, a biodiversidade, sequestra carbono e tem um impacto super importante”, conta Pedro Paulo Diniz. “Isso não é luxo hoje, é necessidade para a humanidade continuar vivendo neste planeta. Então, por que não usar instrumentos de mercado já disponíveis para nos financiar?” Essas qualidades e as diversas certificações da Fazenda da Toca fizeram a diferença. A Necton Investimentos, corretora de valores recém-adquirida pelo BTG Pactual, coordenou a operação e disse que a demanda pelos papéis foi 240% superior à oferta.

“A aceitação foi excelente. O investidor tem preferência por ativos com esse viés sustentável”, diz Rafael Giovani, diretor de distribuição da empresa. Pulverizada, a operação contou com 48 investidores, muitas pessoas físicas, com perfil profissional e qualificado.

Mas ainda há um longo caminho a percorrer, afirma Diniz. Primeiramente, para amadurecer o mercado das finanças mistas no país e também o próprio negócio para que seja possível, por exemplo, achatar as taxas de financiamento. Outro obstáculo é a reputação desgastada do Brasil na área ambiental. “A gente ter uma imagem melhor, principalmente no exterior, é super importante. Isso vem atrapalhando um pouco as nossas conversas com investidores. Em muitas delas tivemos que justificar por que o Brasil ainda está com esse nível de desmatamento”, relata.

O investimento tem potencial para ter efeitos sobre todo o setor, acreditam os envolvidos. Os desdobramentos incluiriam aumento da demanda por grãos orgânicos, como milho, soja e trigo, e a atração de pequenos produtores ao processo. Quem ajudou na operação espera que ela ajude a mostrar que é possível produzir de forma sustentável e orgânica em larga escala e ser financiado com instrumentos sofisticados.

A Ecoagro, securitizadora que lidera o mercado de CRAs no Brasil, estruturou a operação. Com prazo de oito anos e taxas de juros não reveladas, o financiamento foi colocado de pé e finalizado em 60 dias. Segundo Moacir Ferreira Teixeira, sócioexecutivo da Ecoagro, nem os bancos de fomento do agronegócio poderiam oferecer essas condições.

Quase 60% das operações realizadas pela Ecoagro em 2021 já são “verdes”, com mais de meio bilhão de reais captados nessa categoria. O potencial do mercado brasileiro de green bonds é de US$ 163 bilhões até 2030, afirma o executivo. Desde 2015, quando foram iniciados esses negócios, já são mais de US$ 8 bilhões.

Teixeira conta que os investidores têm demonstrado olhar atento a esses diferenciais, que despertam nos participantes da operação, segundo ele, também um sentimento de “pertencimento”. “Em vez de o dinheiro ir para a poupança ou para um título público, está indo diretamente para a produção, que vai gerar renda, riqueza e também remuneração para o investidor”, diz.