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Agroindústrias

Frigoríficos: Propostas pela Doux decepcionam franceses

Propostas apresentadas pela Doux provocam decepção geral na França.

Frigoríficos: Propostas pela Doux decepcionam franceses

As esperadas propostas para comprar – e salvar – o grupo francês Doux, maior produtor europeu de frangos e dono da Frangosul no Brasil, causaram decepção geral. O administrador judicial do caso, a própria Doux, sindicatos e o governo da França não escondem o descontentamento com as ofertas feitas até agora, que sinalizam desmantelamento e fechamento de unidades.

Nenhuma das propostas, apresentadas no dia 5, prevê a aquisição integral do grupo, disse ao Valor o administrador judicial da Doux, Régis Valliot. Ninguém quer as ações da filial brasileira, cujos ativos foram arrendados em maio pela JBS e que está atolada em dívidas de R$ 1bilhão, mais da metade com bancos. Esses títulos, que permitiriam obter o controle da subsidiária no Brasil, já haviam sido qualificados de “presente de grego” pelo administrador.

Valliot considerou as propostas “insatisfatórias” e pediu aos candidatos à compra da Doux, em recuperação judicial desde junho, para melhorá-las. “Isso está sendo negociado atualmente”. Segundo ele, 14 ofertas foram apresentadas, sendo que “várias delas” foram feitas por consórcios de empresas e envolvem “quase todo o grupo”. Uma fonte da Doux revelou, porém, que a Justiça francesa teria recebido apenas 11 dossiês. Talvez porque, como reconhece o administrador judicial, “três ou quatro são parciais e de pequeno porte”.

Seja qual for o número exato, para a Doux as ofertas de compra apresentadas são “consternantes tanto do ponto vista econômico quanto social”, afirma a companhia em comunicado publicado ontem.

Uma das propostas divulgadas, considerada a mais global, é a do consórcio liderado pela Sofiprotéol (braço financeiro do segmento francês de oleaginosas). Ele reúne cooperativas agrícolas (Terrena e Triskalia) e grupos privados como o Glon Sanders (líder francês da área de alimentação animal), o LDC, de aves – que possui marcas importantes na França, como a Loué, Gaulois e Maître Coq – e a exportadora Tilly Sabco.

Essa proposta, que segundo a Sofiprotéol “envolve a globalidade das atividades e dos mercados da Doux”, mas não inclui a filial brasileira, levaria ao fechamento de três unidades na Bretanha (Quimper, Pleucadeuc e Graincourt) e resultaria em cerca de mil demissões, segundo o jornal “Le Figaro”. Ela também deixa de lado a dívida bancária do grupo, de € 430 milhões, quase a metade no Brasil.

“Essa oferta conjunta se insere em um plano de cessão e não conduz a negociações com os credores financeiros”, afirmou Philippe Tillous-Borde, presidente da Glon Sanders, filial da Sofiprotéol.

O governo francês, que apostou nesse consórcio, também pediu à Sofiprotéol para melhorar as propostas. Arnaud Montebourg, ministro da “recuperação do setor produtivo” da França, reiterou que quer evitar o “despedaçamento” da Doux e que a prioridade será dada a uma empresa ou consórcio que mantenha o número máximo de unidades e de empregos.

O consórcio da Sofiprotéol com pesos-pesados dos segmentos de frango e alimentação animal dividiu entre os candidatos os três polos do grupo Doux (exportação, produtos in natura e elaborados). “É um desmantelamento com seis ofertas separadas, mas apresentadas em conjunto para tentar obter, sob pressão, a venda dos ativos da empresa por um preço irrisório”, diz a Doux no comunicado divulgado ontem.

A Tilly Sabco, que pretende comprar as atividades de exportação da Doux, informou ter oferecido € 55 milhões por esse segmento. Mas uma fonte da Doux disse ao Valor que a proposta apresentada é, na realidade, de apenas € 6,5 milhões. Segundo a fonte, a área de exportação da Doux, rentável e com faturamento anual de € 500 milhões, é estimada em € 200 milhões.

Talvez por isso o grupo não tenha medido palavras ao afirmar, no comunicado, que a proposta de compra do segmento de congelados para exportação pode ser considerada “patética e irrisória”.

É fato que a proposta da Tilly Sabco surpreendeu especialistas. Muitos questionaram como uma empresa 11 vezes menor do que a Doux, e que também sofreu um processo de recuperação judicial, poderia comprar a área de exportação do líder europeu do ramo.

A Doux vai apresentar no dia 24 seu plano de financiamento para o chamado “período de observação”, que vai até o fim de novembro, e também proporá um “plano de continuidade” de suas atividades.

O grupo estaria atirando para todos os lados. Charles Doux, presidente do grupo, propôs no sábado aos produtores para entrar no capital da companhia. Segundo a imprensa francesa, a Doux estaria em contato com investidores do Oriente Médio. O Barclays, credor de € 140 milhões, também poderia voltar à mesa de negociações com Charles Doux para evitar o prejuízo total.

O administrador judicial afirmou ao Valor que o plano de continuidade que será apresentado pela Doux “é uma alternativa” que será estudada pela Justiça. “Esse plano ainda é possível se a Doux conseguir parceiros financeiros. Isso pode ocorrer em relação às areas de exportação e de produtos elaborados”, disse Valliot. No dia 27, será realizada a audiência no Tribunal de Comércio de Quimper que definirá o destino da Doux. Até lá, como afirma o grupo, “nenhuma pista está excluída”.