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Entrevista

Infraestrutura é a prioridade de SC para continuar forte no agro

O novo secretário da Agricultura e da Pesca do estado, Ricardo Gouvêa, afirma que os investimentos nessa área devem trazer mais milho e barater custos dos produtores

Infraestrutura é a prioridade de SC para continuar forte no agro

A falta de milho que afeta os custos dos produtores de frango e de suínos em Santa Catarina é um dos principais problemas a serem enfrentados pelos próximos quatro anos, segundo o novo secretário da Agricultura e da Pesca, Ricardo Gouvêa. Ele atendeu à redação e destacou algumas das principais missões que deverá ter como secretário. Dentre elas, está a busca por recursos para melhorar estradas no Estado e buscar junto ao governo federal a viabilização da Ferrovia Norte-Sul, o que ampliaria a oferta de grãos para os produtores.

Na entrevista, Gouvêa também demonstrou preocupação com a obtenção por outros estados do certificado de livre de febre aftosa sem vacinação. Segundo ele, a medida requer maior controle sobre a origem dos animais. “Depois de o rebanho vacinado e bem controlado, parte para os controles, que aumentam muita vigilância”, disse.

Redação AI/SI – Qual a perspectiva do Senhor à frente da secretaria em relação aos setores da avicultura e da suinocultura?

Ricardo Gouvêa – Se olhar cadeia produtiva avicultura e suinocultura, pelo foco da secretaria, temos que continuar com o trabalho muito forte que está sendo feito em relação à sanidade no estado. O controle é estratégico para manter ou incluir novos mercados para exportação. Esse é o primeiro ponto estratégico para Santa Catarina. O segundo ponto, é a questão de como manter a competitividade da agroindústria no estado. Temos situações, como dependência do milho de outros estados. Isso tem que ser trabalhado. No curto prazo, não adianta falar do preço do milho, mas como fazer para ele chegar de maneira competitiva.

AI/SI – A propósito, no último ano houve grande aumento de custos para os produtores de Santa Catarina. O que o estado pode fazer?

Gouvêa – O estado pode tentar junto ao governo federal algum subsídio em relação ao frete. O frete encarece muito o milho para SC. Governo tem vários programas que funcionam para outras regiões. Temos como característica justamente a transformação da proteína vegetal em animal.

AI/SI – E quanto à infraestrutura no estado, como ferrovias e rodovias, é um gargalo?

Gouvêa – Sim. Na sequência, pensamos na viabilização das estradas. Se pensarmos nesse modal, temos que trabalhar bastante forte em infraestrutura, como a BR – 163 e a BR- 470, que liga o estado ao Mato Grosso. A longo prazo temos que falar da ferrovia, que ainda é um sonho. Ela ligará ao centro-oeste, que é onde está a grande produção de grãos. Temos que viabilizar o Brasil. Não somos contra a exportação de grãos, mas se lá tem uma característica que é plantação de grãos, aqui é a transformação dessa proteína vegetal em proteína animal. Temos bom relacionamento com governo federal, com o ministro de Infraestrutura (Tarcísio Gomes de Freitas) e o Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para tentar viabilizar isso. A produção agrícola gera muitas divisas para o pais.

AI/SI – O que Santa Catarina está fazendo nesta questão?

Gouvêa – O governo de Santa Catarina está priorizando a infraestrutura do estado. Vamos ter um planejamento com isso. Além disso, na questão da competitividade, temos que viabilizar, tentar mostrar a riqueza não só através do fornecimento de insumos. Se conseguirmos viabilizar, trazer esse milho com custo melhor, vai impactar em todos, nos produtores independentes, na agroindústria, o que viabiliza toda a cadeia produtiva. Se compararmos Santa Catarina com o Paraná, aquele estado é autossuficiente em milho. Eles têm hoje uma política que vem trabalhando há muito tempo a transformação do milho em proteína animal. E o Paraná vem crescendo em produção de frangos e suínos. É diferente, porque o estado que tem essa condição.

AI/SI – O Paraná, aliás, junto com outros estados, está pleiteando o status de livre de febre aftosa sem vacinação. Qual a sua avaliação quanto a isso?

Gouvêa – O pleito dos outros estados é viável e interessante, uma vez que o país se tornará inteiramente livre. Santa Catarina para manter o status aqui isoladamente (é o único estado com o status de livre de febre aftosa sem vacinação) tem um custo altíssimo. Assim, vamos diluir esse custo com eles. Mas também gera preocupação essa iniciativa, porque precisa fazer trabalho muito grande, de muitos anos. Não é da noite para o dia. Depois de o rebanho vacinado e bem controlado, parte para os controles, que aumentam muita vigilância. O Paraná nos preocupa muito (o estado deve obter o mesmo status em 2019) porque o governo do Paraguai falou que não vai tirar a vacina. E a vacina sabemos que não deixa aparecer a doença, mas não quer dizer que não tem o vírus circulando. O Paraná é vizinho do Paraguai, então como fazer esse controle? Outra preocupação é que não haverá algo que SC fez e que continua. É o controle de origem do animal, de onde veio, onde nasceu, quem é a mãe. A OIE (Organização Mundial da Saúde Animal) exige a comprovação de origem do animal. Outros estados não querem fazer essa comprovação de origem. Para comprovar origem uma das alternativas é a identificação do animal com brinco. É a rastreabilidade do animal. Tudo isso temos aqui. Dois elementos que a OIE exige e não se esta dando atenção. Quando se retira a vacina, o animal fica exposto e pode aparecer a doença de forma muito agressiva. Quando Argentina tentou tirar, isso aconteceu e teve de voltar a vacinar. Temos que aumentar ainda mais nosso controle.

AI/SI – Existe preocupação também do estado em relação à redução das exportações?

Gouvêa – Quero só acrescentar que não basta só o reconhecimento da OIE do status sanitário. O status é como receber a camisa para entrar em jogo. Para fazer o gol, como entrar em mercados como Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos, eles exigem exatamente aquilo que falei, que é a comprovação de origem. No nosso caso, todos os certificados internacionais firmados pelo governo brasileiro constam que o animal foi nascido e criado em Santa Catarina. É uma diferença comercial. Se alguém tem esse interesse, precisa entender que o reconhecimento não é automático.