Ministros da Agricultura da África e da América implementam agenda comum com foco na inovação, na sustentabilidade e na rentabilidade
Os ministros concordaram que os dois continentes enfrentam desafios e oportunidades comuns frente à transformação de seus sistemas agroalimentares para torná-los mais sustentáveis e inclusivos
Ministros da Agricultura da África e da América acordaram em trabalhar em conjunto para construir uma agenda de cooperação e concordaram que os dois continentes enfrentam desafios e oportunidades comuns frente à transformação de seus sistemas agroalimentares para torná-los mais sustentáveis e inclusivos.
O acordo foi feito na Primeira Mesa Redonda de Alto Nível da África-Américas, convocada e organizada pela Aliança para uma Revolução Verde na África (AGRA, sigla em inglês) e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), tendo como título: “Construindo pontes para a futura cooperação em termos de sistemas agroalimentares”.
Os altos funcionários que participaram da atividade — realizada de maneira virtual — concordaram que, além das semelhanças e diferenças culturais e históricas que existem entre as Américas e a África, existe um desafio único e comum, o de construir uma agricultura repleta de conhecimentos, com uma face humana, juntamente com o cuidado do ambiente e também com os âmbitos da nutrição e da saúde, uma vez que, concordaram, é necessário produzir mais alimentos e de melhor qualidade.
Para isso, concordaram em construir ao longo do ano agendas que vinculem as instituições de assistência técnica ao setor agrícola — onde enfatizaram o papel fundamental da Embrapa, do Brasil; do INTA, na Argentina; e de todos os organismos de pesquisa nacionais latino-americanos e caribenhos — e seus cientistas e profissionais para aprofundar intercâmbios, bem como propuseram a realização, no segundo semestre de 2022, de uma cúpula ministerial de agricultura entre a África e a América.
Entre os participantes, estiveram Agnes Kalibata, ex-Ministra da Agricultura de Ruanda, enviada especial do Secretário Geral das Nações Unidas para a Cúpula de Sistemas Alimentares 2021 e Presidente da AGRA; Hailemariam Dessalegn, ex-Primeiro Ministro da República da Etiópia e Presidente da junta diretora da AGRA; Tereza Cristina, Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil; Julián Domínguez, Ministro da Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina; Zulfikar Mustapha, Ministro da Agricultura da Guiana; Renato Alvarado, Ministro da Agricultura e Pecuária da Costa Rica; Modibo Keita, Ministro de Desenvolvimento Rural de Mali; e Manuel Otero, Diretor Geral do IICA. Os moderadores foram Fadel Ndiame e Beverly Best, representando a AGRA e o IICA, respectivamente.
Durante a reunião foi proposta a convocação a realizar uma cúpula ministerial mais ampla entre os dois continentes ainda este ano, tendo como eixo questões de inovação — reiteradamente mencionadas nessa mesa redonda — consideradas indispensáveis para uma maior produtividade e sustentabilidade dos sistemas agroalimentares, como a agricultura digital e as pesquisas em biotecnologia.
Outros temas de interesse comum que surgiram no debate foram a recuperação dos solos degradados, a gestão eficiente da água e a promoção de um comércio internacional de alimentos mais aberto, mais justo e mais transparente.
A iniciativa de realizar essa aproximação entre as Américas e a África surgiu no longo caminho preparatório para a Cúpula de Sistemas Alimentares, realizada em setembro passado, explicou Agnes Kalibata, que foi a principal articuladora desse encontro global ocorrido em Nova York.
“Agradeço a Manuel Otero por construir pontes entre os dois continentes, uma vez que, sob uma perspectiva da Cooperação Sul-Sul, temos desafios comuns. Eu tenho visitado o Brasil e outros países latino-americanos e estou convencida de que devemos aprender com eles. Estou impressionada com os avanços obtidos na América Latina em pesquisa científica e em comércio”, disse Kalibata.
“A Cúpula — acrescentou — nos proporcionou uma oportunidade para unir esses continentes, visando aproveitar o melhor que os nossos países oferecem. É um momento perfeito para a Cooperação Sul-Sul e para aprender uns com os outros. Vamos demonstrar que a cooperação internacional pode nos ajudar a alimentar mais pessoas e a cuidar melhor do nosso planeta, sendo produtores responsáveis. Esse encontro é o início de uma série de compromissos”.
A Ministra Tereza Cristina concordou que há espaço para uma rica cooperação entre os dois continentes. “É crucial considerar a agricultura e a segurança alimentar de forma conjunta, pensar em um comércio agrícola livre e justo, bem como na sustentabilidade”, afirmou.
A Ministra da Agricultura brasileira vinculou a sustentabilidade dos sistemas agroalimentares à necessidade de que o comércio internacional agrícola seja transparente e justo, e foi crítica com o “protecionismo dos países desenvolvidos, que tem obstaculizado a consolidação de uma produção de alimentos mais moderna e dinâmica nos países em desenvolvimento”.
Tereza Cristina advertiu também que os países desenvolvidos devem reconhecer que não existe um único caminho para a sustentabilidade, e devem respeitar o princípio de responsabilidades comuns, mas diferenciadas quanto às políticas de mitigação da mudança do clima.
O ex-Primeiro Ministro da Etiópia, Dessalegn, contou que seu país trabalhou no combate à fome, com resultados positivos, com a colaboração do Brasil, e revelou que os países africanos estão ansiosos para intercambiar experiências com nações latino-americanas e caribenhas.
“As economias africanas cresceram nas últimas décadas, assim como os seus sistemas agroalimentares, apesar das catástrofes, como secas, inundações e, ultimamente, a pandemia de Covid-19. A África carece, como região, de acesso a tecnologias modernas e ferramentas mecanizadas que propiciem uma variedade e qualidade produtivas e aumentem a percentagem de terra cultivável. Muitos de nossos agricultores ainda são de subsistência, de modo que a cooperação com a América Latina e o Caribe nos permitirá melhorar a vida de nossas populações”, afirmou.
Zulfikar Mustapha falou em nome dos países da Comunidade do Caribe (CARICOM) e ressaltou que um dos desafios comuns enfrentados pela sub-região e por nações africanas é sua vulnerabilidade aos desastres naturais, favorecidos pela mudança do clima. “É muito positivo — afirmou — trabalhar em conjunto sobre temas de interesse comum, e um dos primeiros é a resiliência”.
A Argentina é um dos países latino-americanos que já está trabalhando com diversas nações da África em temas como a transferência de biotecnologia — âmbito em que a Argentina é reconhecida mundialmente —, a bioeconomia e o desenvolvimento de lacticínios e diversos cultivos, informou o Ministro Julián Domínguez.
“Essa parceria entre o IICA e a AGRA nos dá a possibilidade de aprofundar o trabalho conjunto. Estamos muito interessados em aprender com a região e em transmitir as tecnologias que estamos desenvolvendo”, acrescentou.
Para o Ministro Alvarado, um dos temas centrais que devem ser trabalhados em conjunto entre a América Latina, o Caribe e a África são as transformações que permitam que os agricultores recebam o preço justo por seus esforços.
“Não podemos — advertiu Alvarado — continuar com preços abaixo do custo de produção. Hoje, com o aumento global dos preços das matérias-primas e do transporte, é imperioso adequar os preços da produção agrícola. Os agricultores familiares não podem ser de subsistência; precisam ter acesso ao bem-estar”.
Na mesma linha, o Ministro de Mali, Modibo Keita, pediu por um “melhor vínculo entre os produtores e o mercado”, que possibilite uma maior rentabilidade para os agricultores.
Keita revelou que, em seu país, a principal preocupação é a escassez de chuvas por causa da mudança do clima, bem como os desafios que esse cenário apresenta para a sustentabilidade da produção agrícola.
O Diretor de Agricultura de São Vicente e Granadinas, Renato Gumbs, considerou que o comércio é a questão que une os dois continentes. “Devemos ampliar a nossa rede de parceiros”, disse Gumbs.
De Ruanda, Eric Gatera relatou o trabalho que está sendo feito no país africano com o objetivo de atrair os jovens para a agricultura. “Para isso, é necessário que haja um benefício e melhorias, em termos de status social, pois o setor agrícola geralmente não é atraente para os jovens”.
Yomira Paz, do Equador, contou que, em seu país, estão sendo implementadas medidas transversais de adaptação à mudança do clima, com enfoque de gênero.
O Diretor Geral do IICA enfatizou a necessidade de uma cooperação internacional maior e melhor frente às complexidades do cenário global. “Nenhum país se salvará sozinho nessa crise. Precisamos estar juntos para enfrentar problemas de natureza transversal. Tudo tem mais sentido se construirmos pontes. E é isso o que o IICA está fazendo: construindo pontes entre atores, países, sub-regiões e também com outros continentes”, disse Otero.
“A Cúpula — acrescentou — colocou a agricultura no topo da agenda mundial, e a nossa responsabilidade é evitar que ela caia daí. Precisamos que o consenso se transforme em fatos que transformem a qualidade de vida das zonas rurais, que melhorem a rentabilidade dos agricultores e que favoreçam práticas sustentáveis. Para isso, precisamos de uma maior cooperação Sul-Sul. Minha aspiração é que avancemos para uma visão compartilhada e uma agenda comum”.
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