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Agricultura Familiar

MST investe em pequenos produtores

Cooperativas do movimento farão oferta pública de títulos de renda fixa 

MST investe em pequenos produtores

Um grupo de sete cooperativas organizadas pelo Movimento dos Sem Terra, o MST, prepara sua primeira oferta pública no mercado de capitais. Com aporte inicial de 100 reais, pequenos investidores poderão financiar a produção de alimentos orgânicos do movimento. O título a ser emitido é de 17,5 milhões de reais e será lançado até o final deste mês.

Embora esta seja a primeira oferta pública, não é exatamente a estreia do MST no mercado financeiro. O movimento emitiu títulos de renda fixa (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) em outras duas ocasiões. A primeira rodada, em maio de 2020, captou 1 milhão de reais entre cerca de cinco investidores — entre eles o idealizador da operação, Eduardo Moreira, que trabalhou nos bancos Pactual e Brasil Plural e é colunista de CartaCapital. A segunda rodada, mais parruda, amealhou 5 milhões de reais para quatro cooperativas nordestinas, com o apoio do Consórcio Nordeste (grupo formado pelo governo de todos os estados da região). Ambas as colocações foram privadas, isto é, oferecidas somente a investidores qualificados, que a CVM define como pessoas ou empresas com investimentos financeiros superiores a 1 milhão de reais.

Moreira apresentou o MST à uma securitizadora (a empresa responsável por comprar a dívida do movimento), a Gaia Agro, cujo fundador e presidente, João Paulo Pacífico, encarna o espírito da sigla ASG – ambiental, social e governança – muito antes de o conceito viralizar. O grupo já ultrapassou a marca de 20 bilhões de reais em securitizações nestes doze anos.

“Quatro pessoas do MST e quatro da Gaia se reuniram pela primeira vez na securitizadora, um ano atrás”, conta Moreira, engenheiro formado pela PUC-Rio, que morou em diversos acampamentos do MST e imaginou o que os sem-terra poderiam produzir se dispusessem do financiamento usualmente disponível ao agronegócio. “Fiquei muito emocionado.” Do outro lado do balcão, o investidor tem o conforto de uma aplicação que passou pelo crivo dos reguladores, mas pode saber que seu dinheiro é empregado em alimentação saudável e contribuindo para os pequenos negócios familiares da agricultura orgânica.

O CRA do MST tem prazo de cinco anos, com remuneração de 5,5% ao ano, isenção de Imposto de Renda, e é lastreado em cédulas de produtor rural (CPR) das cooperativas Coana, Coapar, Coopaceres, Cooperoeste, Cootap, Copacon e Copavi, que produzem leite, milho, soja, arroz, açúcar mascavo e suco de uva, nos Estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sl e São Paulo. O pagamento da dívida aos investidores começa a acontecer no segundo ano da operação. E os títulos vendidos aos investidores de varejo estarão protegidos de inadimplência até o limite de 17% do valor da operação. Essa fatia corresponde às cotas subordinadas da emissão, que recebem um retorno maior, mas também absorvem as primeiras perdas.

“Este é o resultado de um ano de esforço na preparação de uma operação que o investidor sabe para quem e para o quê está colocando seu dinheiro. Tem que inverter a lógica do mercado financeiro”, afirma Moreira. Os interessados podem se inscrever na plataforma Finapop.