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Comentário Avícola

Nem tudo é o que parece...

"A tendência da produção sem antibióticos cresce dia após dia, mas precisamos nos perguntar sobre as possíveis consequências disto"

Nem tudo é o que parece...

A tendência da produção sem antibióticos cresce dia após dia, mas precisamos nos perguntar sobre as possíveis consequências disto. A Penicilina, revolucionou a medicina e salvou milhares de vidas. Porém, com o passar dos anos, se descobriu que ela tem diversos efeitos colaterais, como a alergia, por exemplo. Mas ainda assim, é o antibiótico mais utilizado no mundo, mostrando que, apesar de tudo, ela continua a salvar vidas.

Vamos banir os antibióticos, ou vamos usá-los de forma responsável? Garantir a saúde das aves não é parte do bem-estar animal? Não pretendo fazer uma apologia ao uso de antibióticos, mas trago um olhar diferente ao tema. Uma argumentação que deve ser colocada na balança.

É certo que durante anos o uso destes medicamentos foi banalizado, e os mesmos eram utilizados sem nenhum critério, e muitas vezes, desnecessariamente. Mas a boa notícia é que isso vem mudando! Temos os programas mais radicais (NAE – No Antibiotic Ever), mas, mesmo nas criações convencionais, existe um movimento claro de uso responsável das drogas antibióticas.

Muitos consumidores que propagam o conceito de Antibiotic Free, também levantam a bandeira do Bem-Estar Animal, e muitos deles esquecem que tratar animais doentes faz parte deste bem-estar. Não tratar os animais doentes, pode significar maior morbidade e mortalidade. E novamente chegamos ao conceito de uso responsável do medicamento.

Para os consumidores, aves criadas sem antibióticos, pode significar altos padrões de bem-estar animal. Mas até que ponto isso é verdade? Não usar antibióticos, não coloca a saúde animal em primeiro plano, mas usar antibióticos apenas quando realmente necessário, coloca o médico veterinário no verdadeiro papel de um profissional de saúde. Sim, nós temos adeptos da homeopatia, da medicina alternativa, etc, assim como existe na saúde humana e por isso existem as criações NAE e RWA (Raised Without Antibiotics).

Esta reflexão é valida pois o grande motor destas mudanças é a percepção que o mercado consumidor tem sobre este tipo de criação. Mas precisamos “separar o joio do trigo”. Antibióticos, bem-estar animal e sustentabilidade são temas bem diferentes, mas que parecem circular todos na mesma esfera para o grande público.

Ações tomadas hoje, podem parecer as mais adequadas, mas, muitas delas, quando analisadas a longo prazo, podem significar uma pegada de carbono muito maior, o que não seria o melhor quando pensamos em sustentabilidade.

Não existe uma unanimidade! Todos os sistemas de criação têm pros e contras. Talvez o grande erro seja a necessidade de agradar a todos, quando na verdade, deveria haver uma conscientização do publico em geral sobre estas diferenças, visto que existe discordâncias inclusive no conceito destas criações entre países. Na Europa, por exemplo, produtores de frango orgânico podem tratar os animais em caso de doença clínica, pois isso implica em bem-estar animal. Já nos EUA está prática não é permitida.

Talvez o equilíbrio seja a palavra que resume toda esta discussão. O equilíbrio entre os métodos de prevenção, as práticas de manejo e o uso responsável de medicamentos, quer sejam estes antibióticos ou não, pode melhorar o resultado zootécnico e ser sustentável.

O uso indiscriminado de antibióticos e a resistência a eles é, certamente, um problema de Saúde Pública. Diminuir o uso, ou usa-lo de forma racional, é inevitável. Lembrando que o uso racional, deve considerar os conceitos de bem-estar animal e de sustentabilidade, pois só assim vamos reduzir o risco à saúde humana, sem deixar de lado a prática da Medicina Veterinária.