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O Divulgador Científico

José Reis morreu em maio deste ano e deixou uma lacuna no meio científico brasileiro, mas mostrou o caminho a ser trilhado desde 1932, quando começou a publicar artigos na revista Chacaras e Quintaes.

Redação AI (Edição 1105/2002) – O mundo científico brasileiro

José Reis sempre se preocupou com as questões sanitárias dentro da avicultura.

acordou na manhã de  16 de maio deste ano com a notícia da morte do professor José Reis, vítima de uma pneumonia. O seu falecimento ocorreu há menos de um mês de seu aniversário, quando completaria 95 anos. Em sua vida, dedicou mais de 70 anos à Ciência e sua divulgação, com o início da carreira voltado para o estudo de doenças avícolas. Tanto que ficou conhecido entre amigos e admiradores como o médico das galinhas.

Questões sanitárias ainda não eram pautas principais da avicultura, que mal engatinhava para se organizar enquanto setor produtivo na década de 30, mas Reis já identificava o grande problema que elas representavam para a atividade. Contratado para trabalhar no Instituto Biológico de São Paulo como bacteriologista em 1929, descobriu ali a necessidade de se divulgar as descobertas científicas, procurando atingir o maior número de pessoas possíveis.

Capa da edição de janeiro de 1932, na qual José Reis responde à cartas de produtores na seção O Médico das Aves.

A história ele mesmo contou em entrevista à edição inaugural da revista Ciência Hoje, publicação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entidade na qual foi um dos fundadores em 1948. Certo dia, um sitiante foi até o Instituto Biológico procurando uma solução para uma peste que estava dizimando suas galinhas. O pesquisador Hermann Von Ihering, que trabalhava com Reis, o procurou e colocou a ele o problema: que peste seria esta? O jovem pesquisador aceitou o desafio e logo começou a assessorar outros produtores que o procuravam. Mas para desincumbir-me bem dessa missão de aconselhar, informar os sitiantes, tornava-se importante estabelecer contato com eles a falar-lhes e escrever-lhes com a maior simplicidade. Ao fim de pouco tempo, eu estava escrevendo artigos em revistas agrícolas, como Chacaras e Quintaes, declarou Reis na entrevista.

Livro – A colaboração com Chacaras e Quintaes (hoje Avicultura Industrial) passou a ter uma certa regularidade e a parceria resultou na publicação do livro Moléstias das Aves Domésticas em 1932. Com 43 capítulos e 180 páginas, esta edição foi distribuída gratuitamente a quem conseguisse cinco ou seis assinantes para a revista ou vendida ao preço de 10 mil réis aos interessados. Quando as provas chegaram à sede da revista, o então editor e proprietário na época, conde Amadeu A. Barbiellini, escreveu: Hoje 15 de abril de 1932 recebemos das oficinas gráficas os primeiros exemplares do extraordinário manual Moléstias das Aves Domésticas (…) obra original, que é o primeiro trabalho publicado por um cientista sul-americano e relativo às moléstias galináceas estudadas no nosso continente.

Anúncio do livro Moléstias das Aves Domésticas, lançado pela editora Chácaras e Quintaes em 1932.

Este livro foi publicado quatro anos antes do Tratado de Ornipatologia, escrito por José Reis em conjunto com Paulo Nogueira e Annita Swenson Reis, sua esposa. Obra que obteve repercussão internacional.

José Reis tomou então novos rumos e abraçou diversas causas. Batalhou pela implantação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), incentivou a realização das feiras de ciências nas escolas e se tornou jornalista e principal divulgador científico do Brasil. Este intenso trabalho lhe rendeu em 1975 o prêmio Kalinga, oferecido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Entre 62 e 67 foi diretor de redação do jornal Folha de São Paulo. Voltaria anos mais tarde à Folha, com a coluna semanal Periscópio, no Caderno Mais, discutindo, explicando e difundindo o conhecimento científico. Batalha que travou até o momento final de sua vida.