O produtor rural e o preço dos alimentos
Por José Zeferino Pedrozo, Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
José Zeferino Pedrozo
Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
O consumidor brasileiro tem a tranquilidade de viver em um regime de segurança nutricional, com oferta de alimentos baratos e em abundância. De tempos em tempos a conjugação de alguns fatores – como seca, redução de área plantada, queda de produtividade, forte demanda internacional por produtos básicos e exportação estimulada pela posição cambial – provoca a elevação dos preços de alimentos da cesta básica no mercado interno. Mas quem ganha, nessas situações, geralmente não é o produtor rural.
A agricultura foi um dos poucos setores que – desde a eclosão da pandemia – nunca suspendeu as atividades. Mesmo com prejuízos ou margens negativas, o produtor manteve a produção de leite, grãos, frutas, hortigranjeiros, ovos e carnes.
Nesse período houve a elevação do custo de produção em razão da pandemia. A agricultura é essencial, mas precisa também dar resultados. Deve ser economicamente viável e financeiramente rentável ao agente econômico, seja ele agricultor, produtor rural ou empresário rural.
Veja-se o caso do arroz, um dos cereais mais consumidos do mundo. O consumo mundial na safra 2018/2019 foi de 494 milhões de toneladas. O maior produtor é a China e o Brasil fica em 11º lugar. No ano passado, o País colheu 12 milhões de toneladas, mas, os preços ruins dos anos anteriores e a seca deste ano levaram à redução da área plantada (houve migração para soja) e a safra baixou para 10,4 milhões de toneladas. Além da produção menor, a situação cambial estimulou a exportação de arroz industrializado para o México. No início da colheita, o produtor recebia R$ 45,00 pela saca de 50 kg, preço que evoluiu para R$ 100,00/saca. Entretanto, o mercado externo pagou melhor, razão pela qual o arroz brasileiro fluiu para o mercado mundial.
É justo assinalar que os arrozeiros amargaram muitos anos de prejuízos e que os ganhos deste ano não repõem as perdas do passado. Com a atual escassez do produto no mercado doméstico será necessário importar porque a próxima safra só entra em fevereiro de 2021.
As proteínas vegetais influenciam as proteínas animais. O preço das carnes e derivados está sendo influenciado pelo aquecido mercado do milho, já que ele é o principal componente da ração animal. A produção nacional (safra e safrinha colhidas em 2020) atingiu 100 milhões de toneladas, para um consumo interno de 70 milhões de toneladas e exportação de 30 milhões de toneladas de milho. Os bons preços internacionais estão direcionando boa parte da produção para a exportação. A indústria de aves e suínos já está importando – e pagando um preço maior: R$ 71,00 no porto mais a operação logística de internalização.
A grande procura pela soja no mercado mundial e a valorização dessa oleaginosa (insumo da alimentação animal) também contribui para elevar o preço das carnes. No início da colheita, em fevereiro, a saca de 60 kg estava sendo negociada com o produtor a R$ 85, 00, mas, atualmente, está cotada no mercado interno a R$ 130,00. Pela primeira vez na história recente do agronegócio brasileiro, o preço praticado no interior do Brasil estará acima da Bolsa de Chicago em razão da acentuada escassez do produto, ironicamente, na casa do maior produtor e exportador mundial.
O Brasil produziu 123 milhões de toneladas, ultrapassou os EUA e tornou-se o maior produtor e exportador de soja. Foram comercializadas para o exterior 80 milhões de toneladas da safra 2019/2020, das quais 60 milhões já foram embarcadas. O mercado está tão aquecido que 60% da safra brasileira do ano que vem (2020/2021) já está vendida no mercado internacional e isso criou uma situação surreal: o País vai ter que importar soja.
Como explicar que o maior produtor e maior exportador importará soja para alimentar o parque agroindustrial de aves e suínos? Falta de planejamento? Falta de inteligência agrícola?
Por outro lado, a atividade leiteira é outra imersa em pífios resultados. O aumento do preço do leite, neste ano, deve-se a um período histórico de baixa produção, aumento do consumo nas classes mais baixas e procura maior por derivados lácteos em consequência do isolamento provocado pela pandemia do novo coronavírus. O preço pago ao produtor geralmente aumenta entre março e agosto, período em que a captação de leite é prejudicada pela baixa disponibilidade de pastagens. Nesse ano, essas condições foram agravadas pelas intempéries climáticas mais severas, pelo aumento dos custos de produção e pelos efeitos decorrentes da pandemia.
Quando o preço dos alimentos está em baixa, o produtor rural trabalha no vermelho e, quando os preços estão em alta, os melhores resultados ficam com os atravessadores, as tradings, os atacadistas e varejistas. Essa distorção precisa ser equacionada.
Assuntos do Momento

Fornecimento de ovos diminui na Polônia com crise da influenza aviária na UE
Cerca de 5 milhões de aves já foram abatidas na Polônia, o maior produtor de aves da União Europeia, mostraram os dados da inspetoria veterinária local.

Cobb destaca importância dos ângulos de viragem para melhor eclodibilidade e qualidade do pintinho
Por Scott Jordan, especialista em Incubação e Serviços Técnicos da Cobb-Vantress

Katayama Alimentos investirá R$ 15 milhões em 2021
A indústria avícola teve incremento de 40% em seu faturamento de 2020 e anuncia para este ano um aumento do plantel de aves e aposta nas exportações para Ásia e Oriente Médio

VBP do agro atinge R$ 1 tri em 2021; avicultura crescerá 22,5%
A estimativa do Ministério da Agricultura indica que o Valor Bruto da Produção na pecuária crescerá 5,1% neste ano, puxado por setores como frango, carne bovina e leite

Preço médio dos ovos em fevereiro é o maior da série
As cotações elevadas estão atreladas à menor oferta, principalmente de ovos maiores, uma vez que o setor intensificou os descartes das poedeiras mais velhas.

Avicultura de MT renova seguro contra influenza aviária e doença de newcastle
Ao todo 300 milhões de aves para corte e 10,5 milhões de aves de postura foram asseguradas contra eventuais ocorrências das duas doenças