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Opinião: em defesa da nossa avicultura

Veja a opinião de Abelardo Baltar da Rocha sobre a avicultura do Nordeste e de Pernambuco.

Redação AI 03/04/2003 – Muito oportuno o discurso pronunciado no final de fevereiro, na Câmara Federal, pelo deputado Inocêncio de Oliveira em defesa da avicultura do Nordeste e de Pernambuco. Trata-se de um texto sintético e objetivo, de fácil compreensão, ilustrado com um sem números de dados, e que vai no âmago do problema abordado: consegue mostrar com clareza a crise que vem passando esse cluster.

Deve-se ressaltar que o conjunto de atividades voltadas para a avicultura, em Pernambuco, constituem-se num dos mais importantes clusters do Estado. Depois da exploração da cultura da cana de açúcar, a avicultura é a atividade primária que vinha gerando maior renda. Portanto, a cadeia produtiva da avicultura tem um significado fundamental para economia de Pernambuco, precisando ser preservada de qualquer forma. Não há as mínimas condições de se abdicar da mesma, já que nessas últimas décadas passou a ser uma das atividades essenciais no Estado, tanto no que diz respeito à formação da renda do setor primário, como na criação de empregos.

A origem da crise, como todos sabem, resulta do precário abastecimento dos insumos (principalmente o milho e a soja) necessário ao funcionamento dessa atividade. Vive-se, atualmente, uma situação crítica.

Perdas e danos – Os produtores perderam, de acordo com o discurso feito pelo Deputado, cerca de R$ 100 milhões em receita no segundo semestre do ano passado, havendo uma redução do emprego, nesse mesmo período, de, aproximadamente, 18 mil vagas. Inocêncio diz que vem recebendo, constantemente, veementes apelos dos dirigentes da Associação dos Avicultores de Pernambuco (AVIPE) e, individualmente, dos produtores regionais para que transmita ao Governo e, no caso, ao ministro de Agricultura, o quadro dramático da situação, no sentido de transferir para o Nordeste os estoques disponíveis na CONAB, muitas vezes estoques grandes, localizados em outras regiões do País.

O Nordeste, desabastecido de milho, é obrigado a realizar importação do produto da Argentina, com muita freqüência. O descontrole e o descompasso na distribuição do produto nacional mostram que faltou ao Governo FHC uma política de balanceamento dos estoques nacionais, pois em 2001 – pasmem os Srs Deputados – o Brasil chegou a exportar o produto, sem previsão dos níveis de consumo que se avizinhavam. Todavia, como salientou recentemente o comentarista Eduardo Ferreira, na sua coluna no Diário de Pernambuco, “a safra brasileira de 20012002 caiu para 37 milhões de toneladas. No começo do ano passado, só havia 1,8 milhões de toneladas. Mas o estoque acabou com destinação para a região Norte, o Espírito Santos e até Minas Gerais, que, contraditoriamente, é o segundo maior produtor de milho do País”, como salientava o conhecido jornalista.

Estoques de milho – O equacionamento do abastecimento de milho no Nordeste passa pela criação de estoques reguladores, dentro de uma planilha de previsão do consumo regional, que registre os níveis da produção nacional e os volumes das eventuais importações de milho, quer da Argentina, quer dos EUA, ou de outras fontes, de modo a assegurar um fluxo contínuo do produto. Sabe-se quanto é importante a avicultura para o abastecimento do mercado interno e para as exportações brasileiras, hoje um item importante dessas exportações. Na verdade, o discurso de Inocêncio Oliveira reflete a situação trágica a que chegou o abastecimento de insumos para esse segmento tão importante economia pernambucana até o início desse ano em curso.

No presente momento, uma das soluções preconizadas é a importação de transgênicos. Preconceitos a parte, esse parece ser um caminho viável para que, de imediato, se encontre solução para o grave problema. Existe, nos meios técnicos e acadêmicos, toda uma sustentação teórica favorável a utilização desses produtos. Mas, de qualquer maneira, é preciso reconhecer que trata-se de um assunto ainda bastante polêmico, pois inúmeras instituições ligadas a preservação do meio ambiente se opõem ao uso dos mesmos.

Achei interessante, entre outras, a opinião do Engenheiro Agrônomo Daniel Reis de Sousa a respeito da referida controvérsia. Coloca-se como um moderado. No seu ponto de vista, existe uma desinformação muito grande sobre quase todos os geneticamente modificados. Dificilmente os estudos que lhes são favoráveis utrapassam os limites das universidades ou dos centros de pesquisas. A Embrapa, por exemplo, tem vários produtos estudados esperando a legislação que liberaria seu uso. Daniel também cita o Food and Drougs Administration (FDA) nos EUA. O FDA liberou o uso de produtos transgênicos na lavoura, como também na dieta dos americanos. Mas essa liberação sempre resultou de exaustivas pesquisas e testes quanto aos riscos ambientais e alimentares existentes. Segundo o Engenheiro Agrônomo, as autoridades brasileiras não podem mais se omitir em questão tão relevantes para a agropecuária do País.s É preciso enfrentar, o mais rápido possível, esse difícil problema.

Todas essas questões relacionadas a crise da avicultura no Estado serão debatidas no Condepe, na próxima segunda feira (7), pelo Secretário Gabriel Maciel e a direção da Avipe. Presenças confirmadas do vice-governador Mendonça Filho e da economista Tânia Barcelar. O evento será patrocinado pelo Fórum Pernambuco Século XXI.

por Abelardo Baltar da Rocha – Coordenador do Fórum Pernambuco Século XXI