Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Comentário

Os orçamentos nos projetos e modificações da fábrica - por Fernando Raizer

Artigo aborda dificuldades na análise e equalização de orçamentos em empresas de ração.

Tenho recebido solicitações de Gerentes de Fábricas e Gerentes de Produção com dificuldades na análise e equalização de orçamentos. 

Parte dessas dificuldades vem do fato de que o escopo detalhado da fábrica não foi adequadamente estabelecido, antes da solicitação dos orçamentos.

 “Outro tanto das dificuldades é gerado por orçamentos “do tipo” espartano hermético” recebidos de fornecedores, os quais na maior parte das vezes fazem isso propositalmente  para poder ofertar preços competitivos. 

Quando o Cliente descobre que comprou (p/ ex) um moinho, mas não o alimentador rotativo; ou então  que os inversores de freqüência para os motores grandes não fazem parte da oferta, aí já é tarde demais… 

A grande dificuldade inicial consiste em obter as previsões de vendas ou consumo para um horizonte de pelo menos cinco anos à frente.  Mesmo as melhores previsões pecam por conservadorismo ou exagero.

Também nessa fase, costumam ficar mal definidos quais exatamente o tipos de produtos serão produzidos. 

Um bom exemplo disso é quando um ano após o projeto / implantação  haver sido completado , o Dpto. Técnico ou de Vendas pede que você comece a produzir peletizados ,  mas  a  fábrica foi desenhada para produzir apenas farelos. – e ninguém se lembrou de deixar espaço (just in case…) para um sistema de peletização ; ou para um sistema de armazenagem ou adição de líquidos; ou  um sistema de adição automatizado de premixes, etc.

Mas vamos supor que você conseguiu “arrancar” do Dpto. Técnico ou de Vendas uma previsão bastante boa e completa do que eles esperam que você produza nos próximos cinco anos (volume e tipos de produtos) 

A partir daí , é possível começar a tomar as seguintes ações: 

1) Relacione tudo o que você precisa para atender a demanda prevista. Isso inclui um pré- projeto com a parte civil , equipamentos , e construções auxiliares  (exemplos de construções auxiliares: poço artesiano, cabine de medição , cercas para o perímetro , estação de tratamento de efluentes, etc.). Não se esqueça da pavimentação externa , pintura , sistema de hidrantes… 

2) Ao solicitar orçamentos para diversos fornecedores, faça uma relação detalhada, numerada por item , de quais informações você deseja receber de cada item  (ex: capacidade nominal em m3 de transportadores e de  silos,  produtividade líquida esperada, etc.), alem do prazo de entrega e condições de pagamento.  

3) Deixe claro nessa solicitação de orçamento  que numa etapa posterior você irá precisar de um contrato formal, o qual estabelecerá multas por atrasos nas entregas e/ ou no trabalho de montagem ,alem de garantias dos equipamentos e acompanhamento da operação antes de depois do start-up.

Dê preferência para quem está já bastante tempo no mercado- e mostra sinais de continuar (solidez).

Consulte os órgãos de crédito e  pesquise por ações da Fazenda  e cíveis por perdas e danos

4) Sugiro nunca separar o fornecimento da parte elétrica do fornecimento da automação, à não ser que você goste imensamente de resolver conflitos entre eles.  Você já terá suficiente  entre o fornecedor dos equipamentos / montagem, e o fornecedor da elétrica/ automação), se não for o mesmo para ambas as tarefas.

5) Delegue adequadamente tarefas de acompanhamento para o seu auxiliares, e faça um cronograma detalhado para as tarefas do projeto.

6) Mantenha registros detalhados do andamento dos prazos versus entregas dos subprojetos/tarefas. 

7) Para a automação ,especifique exatamente o que você quer automatizar, ou seja , faça delimitar exatamente o escopo da automação .

8) Componentes importados de terceira linha são baratos, e fazem uma diferença enorme no custo da automação . Verifique exatamente quais as marcas de componentes ele vai usar , dando a preferência para marcas reconhecidamente de primeira linha, de fácil substituição.

9) Exija contratualmente o cumprimento de prazos de entrega e implantação.

10) Faça-o incluir e especificar  os custos de start-up da operação e posterior acompanhamento, por quanto tempo e o que exatamente está incluso nisso.

11) Esteja ciente de quanto vai custar o serviço de manutenção do sistema e inclusões de equipamentos adicionais na automação depois que o sistema estiver implantado.

Chorar porque o preço de inclusão de mais um moinho ou de um liquido  na automação está muito caro não vai adiantar nada depois que você estiver rodando um determinado sistema.

12) Seja cuidadoso , e faça as coisas passo a passo.

Se você precisa apenas inicialmente apenas (ex:) da automação da dosagem, resista à tentação de contratar também (ex:) o roteamento do abastecimento de matérias-primas

-Certifique-se que uma quantidade adequada de treinamento para o seu pessoal está inclusa na proposta , caso contrário o molho pode sair quase mais caro que o peixe.

-Certifique-se que a automação ofertada se comunica adequadamente com o seu sistema gerencial de controle de estoques, Faturamento, controle de processos , Compras e Custeio, caso contrário você fará uma “salada” de planilhas de Excel , e sistemas diferentes operando de maneira independente , sendo operados por um monte de pessoas que não se comunicam , e sem gerar as informações que você necessita… Isso se chama Integração do Sistema.

Você pode pensar que não é necessário detalhar bem aquilo que você pede para o fornecedor orçar , mas se não fizer isso , vai acabar comparando bananas com maças , e fazer a pior escolha: apenas preço aparente.

Volta a frisar que orçamentos propositalmente “sintéticos” são feitos de maneira proposital pelo fornecedor , para induzi-lo a comprar aquilo que é aparentemente mais barato- e na maior parte das vezes não é…

Segue abaixo um trecho da correspondência trocada com um Gerente de Fábrica, que tem o desafio de triplicar a capacidade da sua operação em curto espaço de tempo:

“Peça também para o fornecedor o fluxograma completo. No orçamento eles fazem referencia a vários desenhos, mas lhe mandaram apenas a planta, e um corte – e os demais desenhos que são referenciados na relação dos motores e pneumática?

-Como o fornecedor fez uma relação à parte dos motores e moto redutores , na falta dos desenhos fica difícil determinar qual moto-redutor ou motor pertence a cada equipamento… Também não estão especificando velocidade da correia tipo de caneca , numero de lonas da correia… Capacidade de elevador é especificada em m3/ hora , e não em tons/ hora… 

As válvulas distribuidoras de múltiplas vias- mesma observação acima : no descritivo do equipamento não consta o moto redutor – está tudo em uma relação à parte… – isso vai complicar equalização de orçamentos e futura automação.   Aliás , qual é o total de Hps / KWs adicionais que você vai ter na fábrica? 

 Também não especificou como os cones dos silos são construídos – seriam chapas presas com um monte de parafusos ?  – ou são gomos com flanges parafusadas ? Tem suporte com manga filtrante no topo para lidar com o volume de ar deslocado? Qual é a espessura das chapas do cone e parte reta? 

Roscas dosadoras – nenhuma delas foi discriminada com motor e redutor – vide observação acima…  

-Também não estão especificando capacidade de cada rosca em M3/ hora …  O coração do seu sistema de dosagem depende da velocidade e precisão com que você vai fazer essa operação. 

-Caçamba de pesagem de 2000 kg – O correto é especificar capacidade total e útil em m3. – qual seria a marca dessas células de carga? 

-Qual é a velocidade da corrente dos redlers que estão oferecendo? Tem chapa separadora para o retorno da corrente?  As palhetas são de aço ou de nylon/ polímero montadas em aço? A corrente corre sobre guia de aço endurecido?Ou direto na chapa do fundo?  A descrição de cada redler deveria especificar acionamento , caso contrário você poderá ter surpresas quando abastecer um ingrediente de alta densidade , como calcário ou bicalcico, por exemplo. 

– Note que estão lhe oferecendo gavetas sem pistão pneumático e sem solenóide- está tudo em uma relação à parte. Estará completa?  Outro detalhe : os silos de dosagem ofertados terão comportas manuais de manutenção? 

– Idem para o pré misturador quanto ao acionamento. Quanto ao misturador ofertado , presumo que é do tipo duplo helicóide (não especificaram) , mas seria bom que você obter garantia de que esse misturador tem um CV menor ou igual a 5% , retenção de produto menor ou igual a 0,2% , pode partir cheio sem desarmar a chave , e já vem com spray nozzles para dois líquidos.  Um detalhe : você especificou para eles que vai adicionar dois líquidos?

Isso altera também a capacidade de mistura.  No seu lugar , e para esse tipo de misturador , aplicando dois líquidos eu faria a conta de 12 batchs / hora , ou seja 24 tons/ hora, e não 30 tons hora. 

– Sistema de ar auxiliar para o moinho: Qual é a capacidade em m3 de ar por minuto? São quantas mangas? Quais as dimensões das mangas , qual é o material das mangas , qual é a área filtrante total? São teflonadas? 

– O Moinho é de alta ou baixa rotação?  Qual é a área de tela.?Quantos HPs (máximo) pretendem ou recomendam utilizar nesse moinho?  Se um dia você pretender peletizar (4 mm) , para as 30 tons hora que você irá (???) produzir na mistura , esse moinho daria conta de moer 30 tons/ hora em peneira de 2 mm? Creio que não… Verifique e certifique-se com o fornecedor que com a motorizarão presumida de 125 hp você conseguira moer 30 tons/ hora com o DGM requerido para as rações fareladas das diversas fases da linha de suinos… parece-me que não, e isso será certamente um gargalo. 

-O skip de micros ofertado não inclui moto redutor nem painel de controle… – estaria incluso na relação de motores à parte? Estaria incluso na automação (controlado por) do módulo Toledo ST 34?  

Montagem: Estão orçando custo de hora homem… Sugiro você pedir orçamento fechado do trabalho de montagem. Pela nossa experiência, se assim não for, isso pode ficar muito caro… E cuidado com soldas e cortes se a fabrica estiver trabalhando. 

Parte elétrica: Não vi menção à parte elétrica no orçamento…  As cabines do Centro de Controle de Motores aparentemente não estão inclusas.   Tampouco a mão de obra de montagem elétrica não está especificada. Outro detalhe: Motores de potencia maior ou igual a 20 hp terão inversores de freqüência para a partida? 

– Estão ofertando apenas um modulo básico de automação da dosagem da Toledo , o ST 34 .Acho conveniente pedir também orçamento da parte elétrica e automação do roteamento básico dos ingredientes e PAS. Idem quanto à correção do seu fator de potencia. E aproveitando o tema, o seu transformador é suficiente para esse acréscimo na potencia instalada? 

Prezado,
Tenho certeza de que a sua diretoria não gostaria de ter “surpresas” com relação ao custo total desse projeto. Do jeito que está esse orçamento , isso certamente vai acontecer”.

 Sucesso!

Fernando Raizer
Raizer Consultoria Empresarial e Treinamentos Ltda
Skype: fernando.raizer1
E-mail:
[email protected]