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Ovos especiais têm valores iguais de colesterol

Professor da USP revela que o índice de colesterol em ovos denominados especiais são iguais ou superiores ao dos ovos convencionais.

Redação AI 16/10/2002 – Após analisar dez marcas de ovos “especiais” – que enunciam vantagens para a saúde em relação às demais – o professor Cássio Xavier de Mendonça Júnior, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, concluiu que as propagandas de redução de colesterol apresentam valores iguais ou superiores ao colesterol de ovos “normais”.

“Ao analisar o conteúdo dos ovos, vimos que os resultados laboratoriais nem sempre estão de acordo com o que está estampado nos rótulos”, diz Mendonça, que é veterinário especializado em nutrição e doenças nutricionais de aves.

Há dez anos, o pesquisador estuda a redução de colesterol em ovos de galinha e garante que não há meios de reduzir o teor em mais de 20% em relação ao ovo “normal”. A maioria dos ovos, apesar de ter impressa em seus rótulos a redução de 20% a 40% do colesterol, não apresenta distância significativa do total de 213 miligramas por ovo, taxa média considerada como normal.

Segundo o veterinário, algumas das marcas analisadas não apenas deixam de atingir a porcentagem anunciada como têm o índice de colesterol até mais elevado do que o detectado em ovos “normais”. “Os granjeiros, via de regra, comparam seus resultados com dados obtidos de pesquisas que utilizam metodologia inadequada de análise do colesterol. Assim, a diferença de colesterol entre o ovo ”normal” e o que eles irão colocar no mercado é muito maior.” Devido ao método empregado, o teor de colesterol nos ovos pode ser superestimado pois outros esteróis – substâncias de mesma estrutura química que o colesterol – presentes na gema podem ser incluídos na análise, contribuindo para o seu elevado índice.

Detalhe científico

Assim como alguns rótulos anunciam porcentagens de redução, outras marcas prometem “acréscimos”. O ômega-3 – ácido graxo de cadeia longa que traz inúmeros benefícios para a saúde, principalmente para o coração – é um desses aditivos. Seu nome indica que a primeira dupla ligação ocorre no terceiro carbono da cadeia. Os mais importantes são: DHA, EPA e DPA, dos quais o primeiro traz mais atributos à saúde, seguidos pelos dois outros, na ordem.

O ômega-3 está presente em alguns tipos de peixes e algas. O ácido linolênico, também considerado um ômega-3, não tem os efeitos benéficos à saúde do DHA e está presente essencialmente em sementes oleaginosas, como a canola e a linhaça, facilmente acrescidas à ração da galinha. Quando ingerido pela galinha, o ácido linolênico transforma-se em quantidades reduzidas de DHA.

Utilizando-se desse detalhe científico, as embalagens divulgam conter grandes quantidades de ômega-3 benéfico à saúde, quando na verdade possuem riqueza em linolênico. “Grande quantidade de linolênico na dieta faz com que a taxa de ômega-3 benéfico à saúde aumente um pouco no ovo, mas não nas quantidades anunciadas”, afirma o veterinário.

Mendonça coordena pesquisas na FMVZ que procuram novas fontes de ômega-3 benéficas à saúde. O objetivo é buscar elementos que possam ser introduzidos na ração com o menor custo possível para o granjeiro e com maior benefício ao consumidor.

Há veracidade quanto a outros acréscimos anunciados, como por exemplo as vitaminas “A” e “E”. Segundo Mendonça, elas são facilmente introduzidas na dieta da galinha e transmitidas para o ovo. Por isso, na análise dessas variáveis, houve um grande salto em quantidade, compatível ao anunciado.

A pesquisa realizará um segundo teste com as marcas, para reafirmar os primeiros dados ou verificar mudanças. Os números do estudo serão apresentados em novembro pelos alunos de Mendonça, no Simpósio de Iniciação Científica da USP (SICUSP), que se realizará em Piracicaba. O estudo também deve ser apresentado ao Ministério da Agricultura, assim que concluída a segunda parte.