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Economia

Pandemia frustra um 2020 que seria promissor para a avicultura argentina

Apesar do aumento do consumo interno e da produção ao longo do ano, a queda das exportações frustrou o setor

Pandemia frustra um 2020 que seria promissor para a avicultura argentina

O 2020 não foi um ano simples para o setor avícola da Argentina, tanto na parte que se refere à produção de frangos, quanto na de ovos. Embora a produção e o consumo de ambos tenham aumentado, o que no caso da carne atingiu uma equalização histórica de 50 quilos per capita, houve queda acentuada nas exportações e a previsão é de que em 2021 nenhum dos os dois setores iniciarão uma trajetória de crescimento.

Em relação à produção de carne de frango, a pandemia foi um grande fator determinante, o que impossibilitou o setor de definir um plano estratégico de crescimento de longo prazo, que combinava aumento da produção e aumento das exportações até 2025. O início do ano pretendeu ser promissor, mas a interferência da Covid-19 truncou as expectativas.

Em entrevista ao portal argentino Infobae, o presidente do Centro das Empresas Processadoras de Aves (Cepa), Roberto Domenech, definiu 2020 como “um ano de mudanças inesperadas e muita imprevisibilidade”. Segundo ele, a partir de maio as granjas passam a abrigar as matrizes, que fornecerão frangos para o ano seguinte. Naquele mês de 2019, a população de frangos em seus incubatórios começou com um olhar para 2025.

“Naquela época, tínhamos o início de um projeto que era 2020-25 com um crescimento anual de 2,5% a 3% em termos de toneladas e destinado à exportação um crescimento de 10%. Ou seja, das 275 mil toneladas que exportamos em 2019 para 305 mil toneladas e consumo interno para mantê-lo em 47 ou 48 quilos por pessoa”, explica Domenech.

Mas a partir de abril, a pandemia se fez sentir. “O comércio internacional caiu fortemente e o mercado interno assumiu uma posição muito forte porque o consumidor achou que ia ter que se trancar em casa por muito tempo, mas em meados de abril percebeu que ia conseguir sair. Isso mudou as perspectivas e a expectativa que tínhamos de chegar a 300 mil toneladas. Tínhamos que dizer que nos contentamos em repetir o que foi exportado em 2019 com 270 mil toneladas. Essa projeção ia até maio, porque não só caíram as exportações, mas também os preços”, com uma forte desvalorização do Brasil, que é um fixador internacional de valor no setor.

O movimento brasileiro “nos tirou do mercado”, afirmou o empresário, que comentou que devido a essas situações “perdemos o crescimento de 35 mil toneladas (nas exportações) que produzíamos”. Soma-se a isso que foram exportadas 30 mil toneladas a menos que 2019, então a indústria “sobrou 75 mil toneladas que tivemos que destinar ao mercado interno e chegamos a 50 quilos de consumo. E para que esse consumo fosse sustentado, tínhamos que baixar os preços a um nível em que não tínhamos concorrência de ninguém. Com o que se gastou por um quilo de assado, havia para comprar três quilos de frango”.

Com isso, a produção de carnes terá um fechamento estimado de 2,4 milhões de toneladas, 3,4% acima do registrado em 2019 e a exportação ficou em torno de 240 mil toneladas, 11,1% a menos que a ano anterior, com queda no preço internacional de 12%. Nesse contexto, o consumo doméstico posicionou-se entre 48 e 50 quilos per capita por ano, sua maior marca e igualando-se ao da carne bovina pela primeira vez na história.

A este respeito, o diretor da consultoria Focus Market, Damián Di Pace, explicou ao Infobae que um dos fatores que determinaram esse “empate” no consumo se deveu ao aumento dos preços da carne bovina que promoveu o consumo de frango, mas também indicou que “talvez o traço mais característico disso ocorresse no comércio local. As empresas avícolas cresceram no nível de oferta para o consumidor local. O teletrabalho também substituiu as pessoas que saíam para comer em locais próximos aos seus locais de trabalho e compravam para produzir no mercado doméstico. 30% do emprego era feito remotamente e era para consumo local”.

“Estamos no ano de maior queda no consumo de carne bovina per capita da Argentina (hoje estimado em 50 a 51 quilos por habitante ao ano). Isso deixa um cenário que se você está procurando um substituto, o frango por preço é o mais procurado, mas também deve ser levado em consideração que o rendimento é inferior ao da carne bovina, devido à quantidade de osso. Estamos em um cenário em que a queda da receita vem alterando fortemente o comportamento dos argentinos em relação à demanda. Talvez, em parte, a postergação do consumo da carne bovina possa ser dividida entre porco e frango, com o frango ganhando mais espaço”.

Problemas e expectativas

Não só a queda nas exportações se constituiu no ano como consequência direta da pandemia. Também teve um impacto na forma de trabalhar, uma vez que muitos funcionários, com a “expertise” necessária ao funcionamento de quintas e frigoríficos, tiveram de ser licenciados, mas também foram reunidas as medidas de segurança necessárias para que não ocorressem infecções massivas.

Mas também afetaram a alta dos preços das commodities agrícolas, especialmente soja e milho, cujos preços tiveram aumentos de mais de US$ 50 por tonelada. Porém, para Domenech, um dos acontecimentos que mais complicou o setor, ainda hoje, foi a dificuldade de obtenção do grão amarelo.

“Há três meses, em um país onde tínhamos safra recorde de milho, que existe e é, não podemos comprar. Queremos comprar, mas quem tem não vende. Nossa fórmula alimentar é 72% milho e 28% soja e estamos trabalhando com 45% ou 50% milho dentro do que pode ser alcançado, porque quem tem quer ficar em uma moeda forte, o que me parece bom, mas Precisamos entender que macroeconomia é uma coisa e como um setor funciona é outro. Tem sido um ano muito difícil e cheio de imprevistos”, afirmou.

Quanto às expectativas para o próximo ano, Domenech garantiu que “o consumo vai se manter, o hábito e as condições para o satisfazer estão aí. O que a gente vê é que para o ano que vem não podemos fazer uma projeção e uma reposição de produção para voltar a crescer 2% ou 3%. Seria muito importante conseguir manter os níveis de 2019, que não baixemos mais as exportações e acompanhemos o consumo interno com o crescimento populacional”.

Produção de ovos

Para os produtores de ovos de galinha, 2020 foi um ano marcado pela queda da lucratividade, não só pelo aumento dos custos, mas também pela impossibilidade de modificar os preços ao consumidor adequados às necessidades do setor. Como também aconteceu com o frango, a produção e o consumo aumentaram, mas as exportações caíram, e a falta de políticas para o setor coloca o setor em alerta.

“Este ano para o setor foi complicado e difícil. Começamos o primeiro trimestre com preços baixos, mas também custos baixos, o que nos permitiu ter alguma rentabilidade em algumas partes do país. No segundo trimestre houve boa rentabilidade, mas quem estava com preços oficiais nos canais formais, não conseguiu mexer nos preços. Essa parte dos produtores estava muito mal colocada. No terceiro trimestre o problema se agravou e no quarto fomos todos detonados”, disse ao Infobae Javier Prida, presidente da Câmara Argentina dos Produtores de Aves (Capia).