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Agricultura Sustentável

Pesquisa pública está ajudando a descarbonizar a agricultura, afirma presidente da Embrapa no Senado

Celso Moretti apresentou hoje no Senado Federal as entregas mais recentes da Embrapa que impactam na redução da emissão de gases de efeito estufa

Pesquisa pública está ajudando a descarbonizar a agricultura, afirma presidente da Embrapa no Senado

Audiência pública realizada na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado Federal, nesta quinta (7), debateu o desenvolvimento da agricultura sustentável brasileira a partir da Embrapa, que completou 48 anos. O presidente da Empresa, Celso Moretti, apresentou pesquisas em andamento, resultados e perspectivas para o futuro. “Não precisamos derrubar uma árvore sequer para dar dignidade e emprego para a região amazônica”, afirmou Moretti ao se referir especificamente à Amazônia, lembrando que no bioma há nove centros de pesquisa que trabalham com o desenvolvimento de soluções tecnológicas para garantir a produção sustentável de cadeias estratégicas para a região.

Os parlamentares presentes defenderam o orçamento da Empresa. Eles afirmaram ser a Embrapa um orgulho nacional e responsável por importantes contribuições para o desenvolvimento do agro brasileiro e a geração do PIB nacional. E citaram resultados de pesquisas e tecnologias em seus respectivos estados que vêm contribuindo para o desenvolvimento regional. 

Moretti destacou a importância das parcerias público-privadas e fundos de investimento privados para maior aporte de recursos para as pesquisas da Empresa. “O sucesso do campo vai ser baseado na ciência, na pesquisa”, concordaram os parlamentares.

Com tecnologia, produção recorde

Celso Moretti enfatizou que, em 2021, o país vai passar da marca de R$ 1 trilhão em valor bruto da produção agropecuária. Um resultado que se deve a dois fatores: atualização do dólar e recorde de produção: “O Brasil vai bater o recorde do valor bruto de produção. Ano após ano estamos conseguindo aumentar a nossa produção, sem ocupar novas áreas e com sustentabilidade, um exemplo disso é o trigo, que aumenta anualmente o volume de produção”, afirmou. 

Ele detalhou aos parlamentares sobre a produção de trigo no Brasil. Atualmente, a demanda interna pelo trigo é de 11,5 milhões de toneladas, e o país produz 5 milhões de toneladas, importando mais de 50%.

“Com tecnologia e adaptação estamos trazendo o trigo para o cerrado. Os primeiros resultados já podem ser conferidos”, disse. Moretti apresentou a experiência do produtor rural de Cristalina (DF). que bateu recorde de produção utilizando a cultivar da Embrapa, BRS 264.  O presidente explicou que a expansão do trigo no Cerrado está acontecendo sem ocupação de áreas novas, somente com o uso de cultivares desenvolvidas para plantio em áreas tropicais e irrigação. “Já temos trigo no cerrado goiano, mineiro e no entrono do DF. Temos 2 milhões de áreas consolidadas, ou seja, específicas para este plantio, para aumentar a produtividade do trigo no Cerrado”, anunciou.

Moretti anunciou aos parlamentares que o Brasil está descarbonizando a agricultura, tema que será palco de debates na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26) que começa no final do mês de outubro, em Glasgow, na Escócia.

“Risco climático é risco de investimento, nesse sentido é muito importante que países, empresas e o agro estejam conectados às necessidades de descarbonização e redução de gases de efeito estufa”, afirmou. “Temos tecnologias e conhecimento para descarbonizar a nossa agricultura.

Produtores que adotam melhores tecnologias fazem a produção sustentável. Precisamos mostrar não só para os brasileiros, mas para o exterior, todo o trabalho que é feito aqui que impacta efetivamente na descarbonização da agricultura e nas mudanças do clima”, complementou.

Nessa direção, Moretti apresentou as mais recentes entregas da Embrapa para o agro que estão contribuindo com o aumento da produtividade, sem uso de novas áreas e com a redução da emissão dos gases de efeito estufa.

Exemplo: cinco grandes entregas

“O mundo todo tem falado muito sobre a questão da sustentabilidade, da descarbonização, países e empresas têm feito seus compromissos de descarbonizar e se tem um setor de uma economia de um país que pode fazer isso é o agro do Brasil. Estamos prontos para avançar e prova disso é que o ano passado disponibilizamos junto com uma grande empresa do setor animal a Carne-Carbono-Neutro”, explicou.

A Carne Carbono Neutro é um sistema de produção de carne bovina em sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Na carne produzida neste sistema, o gás metano (arroto do boi) é neutralizado pelo componente florestal. Para cada boi são necessárias apenas 20 árvores plantadas para alcançar este resultado. A meta da Embrapa é, nos próximos anos, colocar no mercado protocolos de leite, soja, algodão e couro de baixo carbono.

Uma segunda entrega anunciada aos senadores foi o bioinsumo Biomaphos, um biofertilizante que sequestra o fósforo do solo, nutriente que a planta necessita em grande quantidade. Todo o ano, sem o Biomaphos, o produtor precisa adquirir o fósforo no mercado, um produto importado.

Na safra 2019/2020, foram 300 mil hectares de milho plantado com o uso do Biomaphos, na safra 2021, 1,5 milhão de hectares e na safra 2021/2022, a estimativa é de 3,5 milhões de hectares, o correspondente a 5% da área de produção de grãos no Brasil. O Biomaphos foi colocado no mercado em 2019, em parceria com uma empresa privada e é fruto de um trabalho de pesquisa da Embrapa de 17 anos.

Moretti também apresentou a plataforma digital PronaSolos, que pretende mapear os solos do Brasil. “O Brasil conhece em detalhes apenas 5% do seu solo. Os americanos conhecem quase 80% dos solos em nível de detalhe que permite estabelecer políticas públicas em agricultura, mineração, defesa etc. Se conhecendo apenas 5% já somos um dos maiores produtores de alimentos do mundo, imagina o que vamos fazer ao conhecermos 50%”, disse.

Este ano o Brasil lançou também o bioinsumo Auras que vem sendo testado em áreas de milho safrinha em situação de estresse hídrico. Plantas que receberam o bioinsumo conseguiram atravessar com mais produtividade o período de seca.

O trigo foi apresentado também como entrega recente da Embrapa para o agronegócio brasileiro.

Fixação Biológica do Nitrogênio

Moretti apresentou também os resultados da Fixação Biológica do Nitrogênio. Em 2020, essa tecnologia gerou uma economia de R$ 28 bilhões, ou seja, o Brasil deixou de importar R$ 28 bilhões de nitrogênio importado porque aplicou as bactérias de fixação de nitrogênio no solo, uma solução tecnológica desenvolvida pela Embrapa que de forma natural permite que o nitrogênio permaneça no solo. “Por utilizar uma fonte biológica, além de economizar R$ 28 bilhões no ano passado, deixamos de emitir 100 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera”, explicou.

O gestor da Embrapa explicou que o Brasil pode produzir e aumentar a produção de alimentos, fibras e energia incorporando pastagens degradadas. O país tem algo em torno de 90 milhões de hectares de pastagens com algum grau de degradação. “São 70 milhões de hectares de áreas utilizadas para agropecuária, em primeira e segunda safras, e temos outros 90 milhões de hectares de pastagens degradadas. E com tecnologia estamos incorporando essas pastagens em nossa matriz produtiva”, detalhou o gestor.

Produzir sem desmatar

“O mundo precisa saber que o Brasil pode dobrar a sua produção de alimentos sem cortar uma árvore, sem entrar na Floresta Amazônica, na Mata Atlântica, incorporando áreas degradadas e posteriormente recuperadas”, anunciou o presidente, lembrando que o país também está avançando em áreas de ILPF, com 17 milhões de hectares, e com meta para 2030 de incorporar mais 10 milhões.

“O Agro brasileiro está preparado, temos tecnologia e conhecimento para apoiar o compromisso das nações de descarbonizar suas agriculturas. Os produtores que adotam as melhores tecnologias fazem a produção sustentável, não tenho dúvidas”, ressaltou.

Inclusão produtiva rural

Moretti também falou sobre a inclusão produtiva de pequenos produtores. De acordo com o IBGE, cerca de 85% de estabelecimentos rurais são compostos por pequenas propriedades. A inclusão produtiva desses produtores é um dos objetivos estratégicos da Embrapa. E a Embrapa possui centros de pesquisa que trabalham com um foco maior para atendimento dos pequenos proprietários de terra. “Desenvolvemos tecnologias para, junto com órgãos de extensão rural, levar tecnologia para esse produtor. Temos realizados parcerias com o Sistema “S”, Senar e Sebrae, as secretarias estaduais de agricultura e o Programa Agronordeste”.

Durante os debates, os senadores abordaram temas como concurso público, recomposição dos quadros de colaboradores da Embrapa, garantia do orçamento público, parcerias público-privadas, fundos de investimento na ciência, entre outros.

“Agradecemos a oportunidade de trazer para o Senado a importância que é o investimento em ciência e em pesquisa agropecuária. Investir em pesquisa e desenvolvimento, em ciência e tecnologia traz um retorno para a sociedade infinitamente maior do que os investimentos que são feitos. O que apresentamos hoje demonstra isso. A Embrapa é uma empresa do Estado brasileiro e da sociedade brasileira”, concluiu Celso Moretti.

A audiência foi presidida pelo senador Acir Gurgacz (PDT/RO). Participaram os seguintes senadores: Acir Gurgacz (PDT/RO), Esperidião Amin (PP/SC), Chico Rodrigues (DEM/RR), Paulo Rocha (PT/PA), Jayme Campos (DEM/MT), Zequinha Marinho (PSC/PA), Zenaide Maia (PROS/RN), Soraya Thronike (PSL/MT), Izalci Lucas (PSDB/DF), Nelsinho Trad (PSD/MS), Carlos Fávaro (PSD/MT), Luiz do Carmo (MDB/GO), Wellington Fagundes (PL/MT), Luís Carlos Heinze (PP/RS) e Angelo Coronel (PSD/BA).