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Por que matérias-primas alternativas para rações devem retornar à agenda da pesquisa em nutrição animal no Brasil?

Cereais de inverno constituem opção para inclusão nas dietas, podendo suprir parte significativa da demanda de grãos dos suínos e das aves

Por que matérias-primas alternativas para rações devem retornar à agenda da pesquisa em nutrição animal no Brasil?

Por Jonas Irineu dos Santos Filho; Teresinha Marisa Bertol; Dirceu João Duarte Talamini; Gerson Neudi Scheuermann; Jorge Vitor Ludke; Fernando de Castro Tavernari

 

A produção de suínos e aves no Brasil tem no milho e no farelo de soja os principais ingredientes para as rações, os quais juntos representam mais de 90% do volume total das rações produzidas para estas duas espécies.

No início da produção integrada de frangos e suínos, a região Sul, ainda hoje maior expoente, era a grande produtora de grãos do Brasil. Entretanto, ao longo dos anos esta situação foi se alterado e, segundo Santos Filho et al. (1999), o Estado de Santa Catarina, ao final da década de 1990, já apresentava déficit anual de 500 mil toneladas no seu suprimento de milho. Devido a expansão da produção de suínos, frangos e leite este déficit passou a ser de aproximadamente cinco milhões de toneladas na média dos últimos anos. Por outro lado, o Rio Grande do Sul, que nos anos 1990 era superavitário na produção de milho, atualmente tem um déficit que flutua entre 500 mil toneladas e dois milhões de toneladas, com previsão de que em 2020 atinja déficit superior a três milhões de toneladas.

A disponibilidade de milho tem relação com a soja. Dois fatos foram marcantes nas duas últimas décadas para elevar os preços da soja: o aumento da demanda de farelo de soja na Europa, que proibiu o uso de farinhas de carne nas rações, e o crescimento da demanda chinesa para alimentar os seus crescentes plantéis de suínos e frangos. Em função do aumento de preços, a soja passou a ser mais rentável que o milho no plantio de verão, consequentemente, levou a aumento da área destinada a esta cultura e redução da área destinada a cultura do milho. A situação somente não foi calamitosa devido ao surgimento do milho de inverno que se difundiu nos Estados do Centro-Oeste e Paraná. Em decorrência do frio e de geadas, os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul não dispõe da possibilidade de fazer milho safrinha, o que lhes agravou o déficit de milho.

O Estado do Paraná foi o único da região Sul que apresentou um crescimento, ainda que moderado, na produção de milho nos últimos 20 anos. Assim, entre os anos 2000 a 2019 a produção de milho do Paraná cresceu cerca de três milhões de toneladas (aumento de aproximadamente 22,5%), enquanto, no mesmo período, a produção de frangos cresceu 252% e a de suínos 272%, o que resultou em redução de seu superávit de milho.

Atualmente o milho excedente no Brasil se encontra no norte do Mato Grosso, sul do Mato Grosso do Sul, sudoeste de Goiás e região da MATOPIBA (Figura 01). Desta forma, Santa Catarina e, em menor intensidade, o Rio Grande do Sul, passaram a se abastecer dos excedentes do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Figura 02). Contudo, nos anos mais recentes o desenvolvimento logístico do Arco Norte (Porto de Itacoatiara, Santarém, Santana, Belém, Conde, Itaqui) criou um canal de comercialização com o mercado internacional. Além disso, naquelas regiões são crescentes as demandas de milho para a produção animal e industrialização visando produção de álcool, o que tem contribuído para reduzir os excedentes especialmente do Estado do Mato Grosso, com impacto nos preços no mercado local e o consequente impacto no custo do milho nas regiões deficitárias.

A nova dinâmica no mercado do milho, ao elevar o custo de produção diminui a competitividade internacional das cadeias de suínos e frangos em suas regiões tradicionais e mesmo nas regiões não tradicionais (Santos Filho et al., 2016). Na produção de suínos o custo de produção do Brasil é inferior ao da Europa, mas é superior ao dos Estados Unidos. Já nos frangos, o custo de produção do Brasil é semelhante ao dos Estados Unidos e a competividade da nossa cadeia decorre do menor custo de abate (Horne, 2018).

A solução do problema do déficit de milho não é simples. Estudo efetuado por Santos Filho et al. (2018) listou diversas alternativas de logística para auxiliar na solução do problema e até o momento estas soluções ainda são válidas. Estas alternativas são de longo prazo e iriam amenizar o aumento no preço do cereal devido aos novos investimentos na logística de escoamento da produção para o mercado internacional, parte das quais estão em obras e parte ainda em estudo. Convém aqui listar as principais ferrovias: FIOL (ligando Barreiras-BA ao porto do Sul em Ilheus-BA), Transnordestina (ligando o cerrado do Tocantins e da Paraíba aos portos de Suape-PE e CE) e a Ferrogrão (ligando Sorriso-MT a Santarém-PA).

 

CULTURAS DE INVERNO COMO ALTERNATIVA

Uma das alternativas que passa a ser considerada com mais atenção é o aproveitamento das áreas de cultivo da Região Sul para a produção de alimentos alternativos ao milho no período de inverno. Com valor nutricional complementar ao milho e ao farelo de soja, os cereais de inverno constituem-se em opção para inclusão nas dietas, podendo suprir parte significativa da demanda de grãos dos suínos e das aves. Esses cereais são amplamente utilizados na alimentação animal em outros países. De acordo com o Rabobank, em nível global, 20% de todo trigo produzido, cerca de 147 milhões de toneladas (Mt) é utilizado para alimentação animal. Por continente, a quantidade de trigo utilizado na alimentação animal é de 57 Mt na UE (União Europeia 27 países), 40 Mt na Ásia e Oriente Médio, 27 Mt nos países da antiga União Soviética, 11 Mt na América do Norte, 5 Mt na Oceania e 6 Mt no resto do mundo relativo à estação 2016/2017. Os cereais de inverno em conjunto contribuem com mais de 60% dos grãos utilizados para alimentação animal na União Europeia e 78% na Rússia (Tabelas 01 e 02).

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