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Comentário

Preços, custos, insumos e consumo em 2012 - por Odacir Klein

O ano de 2012, no que diz respeito à produção dos principais grãos necessários à fabricação de rações para animais, foi pleno de imprevistos.

Preços, custos, insumos e consumo em 2012 - por Odacir Klein

O ano de 2012, no que diz respeito à produção dos principais grãos necessários à fabricação de rações para animais – milho e soja – foi pleno de imprevistos, ocasionando, no seu decurso, sensíveis modificações nos mercados.

MILHO

Baseado em estudos da CONAB, escrevi, ao final do ano de 2011, que teríamos uma safra de no mínimo 65 milhões de toneladas. Três meses depois, na revista do 4º Fórum Nacional do Milho, já sob os efeitos da estiagem ocorrida no Sul da América, segui a opinião não apenas da mencionada empresa estatal, mas também de algumas consultorias, prevendo que a safra seria de 62 milhões de toneladas.

Embora fosse conhecida a área de segunda safra cultivada em parte do Paraná, no Centro-Oeste e algumas áreas do Nordeste, era impossível prever que teríamos um salto de produtividade tão significativo como o que ocorreu.

Naquela época – março de 2012 – os efeitos da estiagem não eram totalmente conhecidos e a ocorrência de uma produtividade tão expressiva na segunda safra não era considerada.

No decurso do ano, todas as consultorias e a CONAB passaram a aumentar a previsão de safra brasileira, chegando-se, ao final, a 72 milhões de toneladas.

Disto decorreu:

– falta de milho nas regiões altamente demandantes pela presença das indústrias que atuam na área de proteínas animais;

– sobra do grão nas regiões que produzem na segunda safra e estão distantes tanto dos portos como das áreas consumidoras no Brasil, acentuando-se o Mato Grosso, cujo consumo não chega a 20% do volume colhido em seu território, contando com expressivos excedentes, que para serem movimentados enfrentam dificuldades com infraestrutura e consequentemente logística;

– diminuição da oferta dos Estados Unidos e do leste europeu, em função de fortes estiagens, resultando em aumento do valor do produto no mercado internacional;

– significativo aumento dos preços no mercado interno, com a paradoxal sobra de grãos em algumas regiões e acentuada escassez em outras, principalmente em função das questões de infraestrutura e logística.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA – empenhou-se, durante o ano, para resolver os problemas desta distorcida geomercadologia. Enfrentou resistências em outras áreas do governo e dificuldades institucionais para a formação de estoques fora da Política de Garantia de Preços Mínimos – PGPM. As deficiências de infraestrutura e a burocracia emperradora da contratação de transportes dificultaram ao MAPA, através da CONAB, o abastecimento em regiões carentes.

Passamos a viver uma situação paradoxal, em determinado período do ano, antes do acentuado aumento dos preços em função das estiagens nos Estados Unidos e parte da Europa. Àquela época, a perspectiva era de vultosa sobra de milho da segunda safra, mas havia falta no Sudeste e no Sul do país.

Posteriormente, as estiagens mencionadas reduziram a produção mundial. Os preços subiram. Países exportadores diminuíram suas ofertas. O Brasil tinha excedentes de milho. Nossas exportações em 2012 dobraram de volume em relação ao ano anterior. Mesmo assim, com expressiva segunda safra, não faltou produto a ser ofertado no mercado interno. A oferta é que foi dificultada, principalmente em função das questões logísticas.

Algumas entidades, equivocadamente, chegaram a pleitear restrições ao envio do grão ao mercado externo, adotando-se políticas assemelhadas às da presidente Cristina Kirchner na Argentina.

Terminaremos o ano com a diminuição de área de plantio na primeira safra, já que sua simultaneidade com a semeadura de soja faz com que o produtor opte pela cultura que lhe parece mais rentável. Embora os bons preços para o milho, o plantio de soja, neste momento, é mais atraente.

Em que pese tal diminuição, a tendência – o que é mero palpite – é de que não tenhamos estiagem como a do início do presente ano, o que resultará em aumento de produtividade e produção.

A Conab prevê que produziremos, no mencionado período, mais de 600 mil toneladas acima do que no anterior.

Não há dúvidas de que a área de segunda safra continuará crescendo no país, até porque o plantio ocorre após a colheita da soja, não havendo competição ente um e outro grão.

Diante disto, a tendência é que repitamos safra em torno de 70 milhões de toneladas. O consumo interno será de pouco mais de 50 milhões de toneladas. Haverá expressivos excedentes para exportação.

Nas áreas de primeira safra, a demanda continuará significativamente superior à oferta, à exceção do Paraná, que também planta segunda safra.

O abastecimento interno será complementado pela produção do que denominávamos “safrinha”, que também produzirá excedentes que serão destinados às exportações.

É incontestável que a produção no Brasil será significativamente maior do que o consumo. Precisamos manter mercados externos. No entanto, é fundamental que contemos com mecanismos institucionais que permitam a movimentação da safra, inclusive com algumas políticas públicas instituidoras de prêmios para o transporte interno e até armazenagem visando a garantir competitividade às nossas áreas produtoras de carnes, ovos e lácteos.

SOJA

No caso da soja, onde a produção mundial é menos concentrada do que a do milho – neste produto pela expressão dos Estados Unidos – a estiagem no sul da América, ocorrida no início do ano, produziu profundos efeitos no que diz respeito à oferta mundial do grão. Some-se a isto, posteriormente, a estiagem nos Estados Unidos.

Diante destes eventos climáticos, os principais países produtores – abstraindo-se a China – e ofertantes do mercado internacional tiveram sensível queda na produção.

Lembro que nas matérias que escrevi, ao final do ano de 2011, previa safra normal de soja, inclusive afirmando que no Brasil, identicamente ao que ocorrera naquele ano, a tendência seria, em razão da necessidade de aumento da produção de óleo de soja para a oferta de biodiesel correspondente aos 5% de mistura obrigatória ao óleo diesel, que em 2012 tivéssemos abundante oferta de farelo com preço baixo.

Errei. Não previa a estiagem no início do ano em fortes regiões produtoras da América do Sul. Também, era impossível prever a estiagem que ocorreria nos Estados Unidos.

Tais eventos climáticos resultaram em grande queda na safra, com o consequente aumento nos preços.

No caso da oleaginosa, a queda da oferta e a manutenção dos volumes de demanda registraram sensíveis aumentos nos preços. Para o óleo, o mercado internacional tem limites de consumo que a oferta existente teve condições de atender sem profundas alterações, resultando em oscilações menores.

No farelo, em relação ao qual a previsão em safra normal era que, no caso brasileiro, o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel – PNPB – resultaria em maior oferta interna e preço menor, em função da necessidade de produção de óleo, a queda de oferta mundial resultante das estiagens referidas e a necessidade do uso de rações para animais fizeram com que os preços subissem assustadoramente, pois o mercado internacional determinava os valores da comercialização interna.

Não fora mencionado programa de biodiesel, a tendência seria exportação de grãos, o que resultaria em grande possibilidade do desabastecimento interno de farelo.

Os preços do mencionado insumo se elevaram assustadoramente. No entanto, não houve falta de oferta no Brasil, pois a necessidade de matéria-prima para a produção de biodiesel, a cada litro do combustível renovável, resultava em quatro vezes o volume de seu peso em farelo.

Terminaremos o ano com estoques mundiais apertados, mas grandes áreas plantadas no mundo com mencionado grão, o que resultará, se não tivermos profundos contratempos climáticos, em expressiva safra, com oferta significativa concorrendo para mudanças nos preços. No entanto. Em função dos estoques baixos, no meu ponto de vista, a queda não será acentuada, mas razoável.

NECESSIDADES PARA O PRÓXIMO ANO

1. MILHO

No caso do milho, é fundamental a criação urgente de um organismo que reúna, com sistematização e habitualidade, os elos da cadeia produtiva. Não podem ser as câmaras setoriais, que têm reuniões trimestrais, onde são apresentados dados estatísticos, as reivindicações são circunstanciais e os integrantes participam olhando para o relógio preocupados com seus horários de voos.

Poder público e iniciativa privada precisam, corajosamente e com criatividade, criar mecanismos – como os existentes em outras áreas do agronegócio menos fundamentais para a produção de alimentos – visando à interação.

Hoje, cada setor olha para seu interesse circunstancial. Não há o hábito do diálogo. Uns não se dão em conta que os outros são imprescindíveis.

Os setores que produzem proteínas animais já sabem que escassez de milho tira a competitividade.

Os que produzem o grão também sabem que o grande volume do consumo é exatamente nas mencionadas áreas.

De forma exemplificativa, dá para assegurar que para cada quilo de carne de suínos ou aves com destino aos mercados interno e externo há o consumo de um quilo e meio de milho.

Não é mais possível continuar a política “da mão para a boca”. É preciso planejamento e correto uso dos recursos públicos.

Os prêmios possíveis de serem direcionados à garantia de preços mínimos também podem sê-lo para movimentação de safras, diminuindo custos não apenas para os produtores de animais, mas também os industriais.

2. SOJA

A previsão é para um próximo ano com menos sobressaltos no mercado de soja e seus derivados. Os estoques iniciarão baixos. Não ocorrendo intempéries, a produção será significativa.

No caso brasileiro, para a produção de proteínas animais, há grande interesse na garantia da oferta de farelo de soja.

A cadeia produtiva do biodiesel, aí compreendendo-se fornecedores de matérias-primas, empresas produtoras e significativas áreas urbanas beneficiadas pelos reflexos ambientais e na saúde humana que resultam do PNPB, defendem o aumento da mistura obrigatória de biodiesel ao óleo diesel consumido no Brasil. Atualmente é de 5%.

Ocorrendo tal aumento, haverá necessidade de maior produção de óleo de soja em território brasileiro, o que significará aumento na garantia de oferta de farelo e possível diminuição do preço deste insumo.

Os setores que produzem proteínas animais podem entender que a mudança no marco regulatório do biodiesel nada tem a ver com suas atividades. No entanto, mais biodiesel no Brasil resultará em mais farelo, com garantia não apenas de oferta, mas possibilidade de influência nos preços internos.

CONCLUSÃO

A iniciativa privada não pode ser circunstancialmente reivindicante junto ao governo, muitas vezes com propostas inexequíveis. O diálogo organizado, sistemático, aberto e constante é fundamental.

O caminho para isto pode parecer difícil. No entanto, se não houver ousadia e visão de conjunto a tendência é que a justa reivindicação não venha a ser atendida e possa ser vista como mera “choramingação”.

Desejo a todos que possamos viver o Natal com a visão que ele representa o nascimento do espírito de amor, que resulta em solidariedade e conduz à paz.

Com Jesus aprendemos que o egoísmo a nada conduz, pois somos direcionados à prática do bem e do amor ao próximo.

Não sou dos que valorizam festivamente passagem de ano. Se para mim Natal é festa cristã e inspiradora de gestos fraternos e solidários, a passagem do último segundo de um ano para o primeiro de outro é meramente simbólica.

De toda forma, imbuído do que acolho do significado natalino, desejo a todos um feliz 2013.

Por Odacir Klein, advogado e profissional da área contábil. É sócio da Klein & Associados e coordenador do Fórum Nacional do Milho.
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