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Mercado Externo

Processadoras de carne, nos EUA, enfrentam pressão por mudanças de regras no setor

Legisladores e reguladores buscam uma reforma do setor, após reclamações sobre a suposta influência das empresas de carne sobre os mercados e os produtores

Processadoras de carne, nos EUA, enfrentam pressão por mudanças de regras no setor

A indústria norte-americana de processamento de carne enfrenta a perspectiva de uma supervisão mais rigorosa em Washington, à medida que legisladores e reguladores buscam uma reforma do setor de US$ 213 bilhões após reclamações sobre a suposta influência das empresas de carne sobre os mercados e os produtores.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) está elaborando novas regras que mudariam a forma como empresas do setor pagam avicultores. A agência disse que também vai propor regras que tornarão mais fácil para os criadores contestarem o tratamento recebido dos frigoríficos sob as regras do USDA.

No Capitólio, legisladores republicanos e democratas propuseram uma legislação que exigiria que processadores de carne bovina, como Cargill e JBS, comprassem mais gado no mercado aberto e definissem preços mínimos regionais.

Neste mês, os senadores divulgaram um projeto de lei separado que nomearia um investigador especial para fiscalizar o cumprimento das regras da indústria de processamento de carne e investigar possíveis condutas anticompetitivas. A Comissão de Agricultura do Senado deve realizar uma audiência na quarta-feira, 23, para examinar a compra de gado pela indústria e analisar como isso afeta o mercado pecuário e o preço de carnes para os consumidores.

A frustração de alguns produtores em relação à escala de produção das maiores empresas de processamento do país é o principal motivo por trás desses esforços de regulação. Grupos de criadores reclamam que as empresas de carne registram grandes lucros enquanto a renda deles cai. Eventos como a pandemia de covid-19, que fechou temporariamente unidades de processamento, e o ataque cibernético contra a JBS, também prejudicaram pecuaristas.

O consultor sênior do USDA para mercados justos e competitivos, Andy Green, disse que parte dos problemas dos criadores se deve ao fato de que um pequeno grupo de empresas controla a maior parte do processamento de carne nos EUA. “A indústria de alimentos dos EUA tem um problema de monopólio”, disse Green. “Há muito que queremos fazer para trazer a concorrência de volta ao mercado.”

Quase três quartos da oferta de carne bovina dos EUA são processados por JBS, Tyson, Cargill e National Beef. Em carne suína, Smithfield Foods, JBS e Tyson representam cerca de 60% do mercado. Em frango, os cinco maiores players, incluindo Tyson e a subsidiária da JBS Pilgrim’s Pride, são responsáveis por 60% do processamento, de acordo com estimativas do setor. As empresas citadas não comentaram o assunto.

Os representantes da indústria de processamento resistem às regulamentações mais rígidas. Mark Dopp, chefe de assuntos regulatórios do Instituto Norte-Americano da Carne, disse que as regras planejadas pelo USDA restringiriam as opções dos pecuaristas para vender gado, aumentariam o número de processos judiciais supérfluos e poderiam aumentar os preços de hambúrgueres e peitos de frango nos supermercados.

Segundo Dropp, a indústria de carne já enfrentou tentativas anteriores de revisão durante o governo de Barack Obama. Na época, o USDA propôs regras semelhantes que acabaram bloqueadas pelo Congresso e por contestações judiciais. “Elas foram uma má ideia na época, e ainda são uma má ideia”, disse Dropp.

A participação das quatro grandes processadoras de carne bovina no mercado de gado se manteve praticamente estável por 25 anos, de acordo com dados compilados pelo Instituto, enquanto alguns produtores de gado estavam obtendo lucros recordes em 2014. Ainda de acordo com Mark Dropp, os preços baixos recentes para pecuaristas mostram o mercado em ação, já que à medida que fábricas de processamento foram fechadas, a oferta de gado aumentou e empurrou os preços para baixo.

Andy Green, do USDA, disse que o cenário mostra as vulnerabilidades da concentração da produção e a necessidade de reduzir a dependência de agricultores e consumidores de um pequeno número de grandes empresas. Neste mês, a agência afirmou que forneceria subsídios e empréstimos para apoiar fábricas de processamento menores e novas para fortalecer o sistema alimentar dos EUA, dentro de um programa de US$ 4 bilhões.