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Produção de aves livres de antibióticos e segurança alimentar

Por Melina Bonato e Liliana Borges (P&D, ICC Brazil)

Produção de aves livres de antibióticos e segurança alimentar

Recentemente, um surto de peste suína na África afetou a produção de suínos, uma vez que o vírus é fatal e não há vacina para controlá-lo. Milhares de animais foram sacrificados para evitar a transmissão da doença, mas o mercado sofreu forte impacto. Assim, consequentemente, o consumo de carne de aves aumentou para atender a demanda. Para suprir parte do mercado de suínos, a produção de aves deve alcançar maior produção, juntamente com a qualidade da carne e a segurança alimentar.

Considerando a pressão por parte dos consumidores em todo mundo, a comunidade científica e as agências reguladoras internacionais, para remover ou diminuir o uso de melhoradores de desempenho de antibióticos e o uso racional da forma terapêutica na produção animal, buscam manter a produção versus segurança alimentar, o que tem sido um grande desafio. De acordo com a OMS, cerca de 600 milhões, ou quase 1 em cada 10 pessoas no mundo, adoecem depois de consumir alimentos contaminados. Destas, 420 mil pessoas morrem, incluindo 125 mil crianças com idade inferior a 5 anos. No Brasil, de 2007 a junho de 2016, 90,5% dos casos de doenças transmitidas por alimentos foram provocados por bactérias, sendo que os sorotipos mais encontrados foram a Salmonella spp (7,5%), seguida por Escherichia coli (7,2%) e Staphylococcus aureus (5,8%).

O impacto dos antibióticos na microbiota do intestino tem sido mais recentemente investigado e pesquisadores mostraram que, além de alterar a composição da microbiota, os antibióticos também afetam a expressão gênica, a atividade proteica e o metabolismo geral da microbiota intestinal. As alterações microbianas causadas por antibióticos, além de aumentar o risco imediato de infecção, também podem afetar a homeostase imunológica básica em longo prazo.

Com esta nova realidade, é imprescindível que a cadeia produtiva se adapte e aplique um rigoroso plano de manejo, saúde e nutrição, pois a transmissão pode se dar pela ração, ambiente ou ainda vertical (da matriz para o frango/poedeira), por isso o manejo adequado é essencial neste controle.

Existem no mercado algumas alternativas para o controle de bactérias patogênicas, como as vacinas vivas atenuadas (que no geral atuam sobre a Salmonella Gallinuram e Salmonella Typhimurium, tendo atuação também sobre a Salmonella Enteritidis), produtos que atuam sobre a ração como antimicrobianos bactericidas (normalmente compostos de ácidos orgânicos) ou que agem no organismo animal, como probióticos, ácidos orgânicos, extratos vegetais, prebióticos, etc. Cada produto possui diferentes formas de ação direta ou indiretamente modulando a microbiota e a resposta do sistema imune.

A parede celular de levedura Saccharomyces cerevisiae é uma das soluções que podem ajudar no programa de controle de patógenos, uma vez que é uma solução natural que reduz a contaminação e previne o problema. Com base nesse conceito, o ImmunoWall® se destaca dentre outros produtos por ser composto por uma densa parede celular de levedura de Saccharomyces cerevisiae com altas concentrações de β-Glucanas e MOS, resultando em um aditivo com resultados comprovados e ótimo custo/benefício.

As β-glucanas presentes modularão a resposta imune dos animais, pois são estimulantes naturais do sistema imune inato. Quando as células fagocíticas entram em contato com as β-glucanas, essas células são estimuladas e as citocinas são produzidas. A produção de citocinas desencadeará uma “reação em cadeia”, induzindo um maior status imunológico nos animais, tornando-os com uma melhor capacidade de resistir às infecções oportunistas. Assim, a suplementação com ImmunoWall® garante que as aves mantenham o equilíbrio da microbiota intestinal e melhorem as respostas do sistema imunológico, resultando na redução da contaminação e transmissão de bactérias patogênicas para outros órgãos do corpo.

Um recente estudo de Beirão et al. (2018) onde frangos de corte foram suplementados com ImmunoWall® (0,5 kg/ton) e infectados aos dois dias de idade com Salmonella Enteritidis [SE] (via oral na dosagem de 108 UFC/ave), mostrou que aos quatro e oito dias (dois e seis dias pós-infecção, respectivamente) ImmunoWall® reduziu a passagem do marcador (Dextran-FITC, 3-5 kD) para o sangue nas aves desafiadas. Estes resultados indicam uma melhora significativa na integridade e permeabilidade intestinal, já que a SE é uma bactéria capaz de aderir à mucosa por meio de suas fímbrias, produzir toxinas e causar danos às tight juctions (junções de oclusão) e aos enterócitos, invadindo-os e translocando-se para a corrente sanguínea e demais órgãos e tecidos internos (Figura 1).

Fig 1Figura 1. Como os antígenos danificam as tight junctions.

Estes resultados podem ser explicados pela quantificação de células circulantes que foram analisadas no sangue coletado destas aves. É importante notar que durante a dinâmica normal de uma infecção, ocorre uma mobilização dos leucócitos do sangue para o intestino, porém se animal apresentar outro tipo de infecção, a redução de leucócitos totais circulantes, pode prejudicar a resposta ao ataque à este segundo antígeno/local. Isto principalmente pode ser perigoso quando a taxa de leucócitos totais no sangue está muito baixa (leucopenia). Na análise do referido estudo, o grupo infectado e suplementado com Immunowall® proporcionou uma menor mobilização dos leucócitos do sangue para o intestino aos 14 dias; no entanto, quando esse sistema imune é subdividido e as diferentes células são analisadas, os animais deste grupo apresentaram mais APC’s, monócitos supressores (impedem uma resposta imune desenfreada), e linfócitos T auxiliares (CD4 – secretam interleucinas e estimulam a multiplicação de células que irão atacar o antígeno), que o grupo de animais desafiados e não tratados. Já o grupo suplementado com ImmunoWall® e não desafiado, apresentou respostas intermediárias (entre o controle desafiado e o não desafiado) às células analisadas citadas acima, e também Linfócitos T citotóxicos (CD8), que são importantes para prevenir ou controlar a invasão da Salmonella, já que estas tem a capacidade de invadir monócitos e assim translocar-se para o fígado e demais órgãos.

No gráfico 1 abaixo, é possível observar que suplementação com ImmunoWall® resultou na maior produção IgA anti Salmonella aos 14 dias de idade. Isto mostra que a resposta específica do sistema imunológico foi mais rápida e mais forte, consumindo menos energia e nutrientes, já que a resposta inflamatória pareceu ser mais curta.

Grafico 1

Gráfico 1. Quantificação relativa de IgA no soro reagente contra LPS da bactéria. A linha de corte (cut-off) está representada. Relevância estatística está indicada por letras diferentes sobre cada grupo. Teste de ANOVA com pós-teste de Tukey (P<0,05, exceto quando indicado em contrário).

 

A SE pode ser um problema para a ave que ainda não completou a maturação do sistema imune, pois ainda não consegue controlar a infecção totalmente, por isso grande parte da melhoria das respostas encontradas neste estudo foram até os 14 dias. Assim, a suplementação de β-glucanas pode ajudar a ave a ter uma ativação e resposta do sistema imune inato precoce e mais rápida, reduzindo/minimizando os danos causados pelo patógeno e consequentemente, as perdas em desempenho. Este tipo de resposta é especialmente importante em animais em fases iniciais de desenvolvimento, reprodutivas, períodos de estresse e desafios ambientais; agindo como um profilático e aumentando a resistência animal, minimizando maiores prejuízos.

Diversos outros estudos provaram a eficácia de ImmunoWall® em reduzir a contaminação de patógenos nas aves e ovos (Hofacre et al., 2017; Ferreira et al., 2014), mortalidade e melhorar o desempenho produtivo (Bonato et al., 2016; Rivera et al., 2018; Koiyama, et al. 2018), principalmente sob desafio. Não existem aditivos alimentares que possam suprir problemas com manejo, plano sanitário, vacinação, nutrição, qualidade de água, entre outros. Os aditivos são ferramentas que podem ajudar no controle e prevenção. A produção animal intensiva é um ambiente altamente desafiador, assim o fortalecimento do sistema imunológico pode ser uma das chaves para maior produtividade.

            A ligação entre qualidade, valor nutricional e segurança alimentar é uma tarefa que tem exigido muita pesquisa pelas indústrias para garantir a saúde pública. A produção de aves é um ambiente desafiador onde a segurança alimentar começa na fazenda e é possível controlar patógenos sem o uso de antibióticos como promotores de crescimento. No entanto, é de suma importância que os produtores, que são o primeiro elo na cadeia de produção, se comprometam, pois está comprovado que a redução de patógenos no campo contribui significativamente para reduzir o risco de doenças transmitidas por alimentos devido à contaminação bacteriana.

 

Referências

Beirão B. C. B. et al. Yeast cell wall immunomodulatory and intestinal integrity effects on broilers challenged with Salmonella Enteritidis. In: 2018 PSA Annual Meeting. San Antonio-Texas, USA. Proceedings…. 2018.

 

Bonato et al. Desempenho de frangos de corte alimentados com mananoligossacarídeos, parede celular de levedura e  nucleotídeos de diferentes fontes. In: Conferência FACTA 2016 de Ciência e Tecnologia Avícolas, Atibaia. Proceedings….2016.