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Manejo

Síndrome de má absorção em pintos de corte - Refugagem

Quadros desta síndrome vêm sendo relatados nos últimos dois anos. Seu aparecimento é registrado em pintos oriundos de matrizes jovens de qualquer linhagem.

Pintos com síndrome da cloaca suja (Platino,USP, 2010)

Por Inaldo Sales Patrício1 

Nada é tão assustador para os detentores de linhagens de corte que o aparecimento da “refugagem” em pintos de corte nos primeiros dias de vida, sem explicações plausíveis, ou seja, sem um diagnóstico especifico. Pois, é isto que vem acometendo lotes de pintos de corte nos últimos meses em várias partes do Brasil. (Edir&Inaldo, 2008).

Por não estarem associados a um agente, ou a um diagnóstico específico, os quadros são comumente referidos como “síndrome”. Vários nomes já foram dados, como: síndrome de má absorção, síndrome do pinto refugo, síndrome do pinto helicóptero, refugo fisiológico, e, em inglês, stunting syndrome, pale bird syndrome, e mais recentemente síndrome da cloaca suja e síndrome do nanismo e raquitismo (Piantino et al, 2010; Mettifogo et al.,2010). O que não se sabe é que fator, ou fatores, interferem no consumo, digestão e absorção de alimentos nos primeiros dias de vida de uma porcentagem de pintos do lote, e há, aparentemente, predisposição nos pintinhos dos primeiros nascimentos, independentemente da linhagem.

Estas síndromes são conhecidas de longa data. Muito debatidas no início das décadas de 80 e 90, mas, sem consenso entre os patologistas sobre sua etiologia. Estudos indicam que o vírus da Bronquite Infecciosa das Galinhas (BIG) possa persistir e se multiplicar no trato intestinal da galinha sem causar doença clínica (Ambali et al.,1990, apoud Mettifogo et al.,2010). Cepas enterotrópicas do vírus da bronquite podem estar envolvidas nas enterites da galinha (Villarreal et al.,2007). No entanto, nos últimos anos vários vírus têm sido implicados no quadro clínico de enterites em frangos e perus, dentre eles: Reovírus, Rotavírus, Adenovírus, Astrovírus, Parvovírus e o vírus da Nefrite Aviária (VNA), (Mettifogo et al., 2010; Piantino et al., 2010).

Teve-se, inicialmente, uma forte crença de que um sorotipo específico de Reovírus, chamado de 1733 (Shane, 2007), com transmissão transovariana, era o desencadeador do processo. Entretanto, este mesmo autor chama a atenção para inúmeros outros fatores predisponentes, como: pintos oriundos de ovos produzidos por matrizes jovens, falhas no sistema de aquecimento inicial, deficiências na nutrição inicial, determinados programas de vacinação e imunossupressão.

Relatos pelo Brasil – Contudo, há uma concordância de que há uma forte correlação no aparecimento da síndrome com pintos oriundos de matrizes jovens de qualquer linhagem. Reaparecendo em 2008 e se mantendo até o presente em várias regiões do País.

Os quadros da síndrome de má absorção – refugagem – vêm sendo relatados em várias partes do Brasil, mais intensamente, nos últimos dois anos, e, aparentemente, não estão relacionados a uma única linhagem de matrizes. Os geneticistas descrevem que há uma correlação negativa entre características produtivas do frango (ganho de peso, conversão alimentar), e alta produtividade das matrizes, mas, sem se referirem ao mau desenvolvimento inicial do pinto.

A descrição da síndrome de má absorção em granjas no Estado de São Paulo relatada pelos autores há dois anos têm as mesmas características do quadro clinico atual. Com um diferencial, a participação de várias linhagens.

Pintos de três granjas distintas, com 17 dias de idade, apresentavam elevado índice de refugos (7,8%, 9,5% e 7,7%, respectivamente). O aspecto clínico – segundo os tratadores – era de pintos bonitos, viçosos, com pesos iniciais médios de 36,5 g, 38,5 g, e 42,5 g. Aos sete dias os pesos médios eram de 149 g, 159,7 g, e 173,9 g, respectivamente, portanto normais, quando começaram a apresentar desigualdade no desenvolvimento, com maior movimentação no galpão, ciscando e ingerindo cama anormalmente. Aos 17 dias de vida, os pintos dos lotes que mostravam baixo desenvolvimento corporal apresentavam, caracteristicamente, penas eriçadas, algumas se assemelhando às pás dos helicópteros (1,5% do total de refugos, e menos 0,2% do lote), como mostra a foto. Os quadros clínicos lembravam, muito, os encontrados e descritos em pintos no início das décadas de 80 e 90, oriundos de matrizes de elevada produtividade. Nos casos presente, os pintos são oriundos de um mesmo incubatório, mesma linhagem com mesmo programa alimentar, e alojados nas mesmas condições ambientais. O quadro atual (2010) descrito tem as mesmas características, porém, envolvendo várias empresas, linhagens e região. 

Aumento no volume do intestino – Nenhuma lesão característica das enfermidades mais conhecidas que acometem pintos era observada nas necropsias. O achado mais comum é o aumento do volume do intestino, presença de gás no intestino e estrangulamento do intestino em forma de linguiça.

Alguns pintos apresentavam lesões sugestivas de pericardite (um em 32 dos necropsiados), e nada digno de nota era observado nos órgãos, que se apresentavam diminuídos de volume, mas, mantendo-se proporcionais ao desenvolvimento corporal dos pintos (Edir & Inaldo, 2008).

Piantino (2010) descreve a doença com as seguintes características: pintos refugos, baixo peso, atraso no desenvolvimento e penas invertidas. Nas necropsias realizadas pelo mesmo autor, descreve aumento da vesícula biliar, delgamento da parede intestinal, presença de gás no intestino, estrangulamento parcial do intestino.

O mesmo autor sugere que quatro ou mais vírus estão envolvidos nessa síndrome; sendo eles: Adenovírus, Reovírus. Rotavírus e Astrovírus; e que amostra de intestino de pinto refugo é o material indicado para o isolamento e diagnóstico do vírus.

Em recente estudo epidemiológico realizado por Piantino e Mettifogo em 200 amostras de frangos, matrizes e poedeiras provenientes de nove Estados brasileiros, 154 tinham histórico da doença e 46 sem sintomas. Nestas 200 amostras foram detectados 48,5% com dois ou mais vírus envolvidos.

O impacto econômico desta síndrome é variável, desde um descarte de 1,2% até 8% dos pintos nos 17 primeiros dias de vida. Por serem descartados muito cedo não afetam o resultado zootécnico do lote e os pintos restantes, após descarte, se desenvolvem normalmente. Isto em condições normais, sem a interferência de outros fatores como, desafio de patógenos, nutrição, idade da matriz, imunidade dos pintos e falhas no manejo inicial. 

1Consultor técnico avícola e da revista Avicultura Industrial, responsável pela elaboração e coordenação desta seção.