Soja tem recorde de preços
Seca no Sul do Brasil e em vizinhos da América do Sul motiva forte alta nos mercados doméstico e internacional
A saca de soja chegou a R$ 200 no Brasil, um recorde impensável até o ano passado, e os prêmios nos portos do país estão seis vezes maiores, em média, para esta época do ano, como reflexo de uma disputa entre demanda doméstica e exportações. Com 15% de alta acumulada em 2022 na bolsa de Chicago, a oleaginosa se aproxima do pico histórico alcançado em 2021, de US$ 16,42 o bushel. E a tensão poderá crescer nos próximos meses.
A persistente seca que atinge o Sul do país, a Argentina e o Paraguai, causada pelo fenômeno climático La Niña, causará quebra de safra nos três países, que são exportadores importantes - o Brasil lidera os embarques globais. Como consequência, os importadores de soja, principalmente a China, estão intensificando as compras dos EUA, país que é o segundo maior exportador do mundo
“Há um grande volume que a China precisa comprar para abril e maio. Isso criou uma situação que não é muito comum [no Brasil]: alta de preços [em Chicago] e, ao mesmo tempo, dos prêmios de exportação”, diz Cristiano Palavro, analista da Pátria Agronegócios.
Ontem, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul - Estado brasileiro mais afetado pela seca -, indústrias já ofertavam R$ 202 pela saca de 60 quilos de soja, segundo o consultor Vlamir Brandalizze.
Já o prêmio em Paranaguá (PR), referência nacional, estava entre US$ 1,10 e US$ 1,20 o bushel para cargas com entrega em março. Nesta época do ano, quando a colheita brasileira ganha força, os valores costumam ficar entre US$ 0,20 e US$ 0,30 o bushel, observa Etore Barone, consultor da StoneX.
“Com a escassez de outros fornecedores, os estoques finais de 2020/21 dos EUA serão reduzidos. E, com a menor colheita aqui, a safra de 2021/22 já está mais apertada. Se não houver um aumento de área nos EUA para a temporada de abril, ou se algo der errado durante o ciclo [2022/23], teremos um problema mundial”, acrescenta Etore.
Novas estimativas
Nos últimos dias, uma nova rodada de revisões de estimativas apontou que a quebra no Brasil vai ficando cada vez maior. No plantio do ciclo 2021/22, esperava-se 140 milhões de toneladas. Depois, com o início dos problemas com a seca, a expectativa foi para o intervalo entre 130 milhões e 135 milhões de toneladas. Agora, caiu para cerca de 125 milhões de toneladas entre as principais consultorias.
Segundo Barone, na Argentina a quebra da safra pode chegar até a 6 milhões de toneladas e, no Paraguai, deve ficar entre 4 milhões e 5 milhões. “O sonho do produtor brasileiro era a saca chegar a R$ 100, o que aconteceu em agosto de 2020. A média do ano passado ficou entre R$ 150 e R$ 170, e agora prevemos que pode ficar em mais de R$ 200”, diz.
Além dos reais problemas físicos e dos preços em Chicago, o produtor brasileiro não afetado pela seca - o de Mato Grosso, por exemplo - tem a seu favor o câmbio. “O dólar a R$ 5,30 torna a saca brasileira bastante rentável”, completa Barone.
“Hoje há uma briga para manter o produto no mercado interno, uma vez que os principais esmagadores ficam no Paraná e Rio Grande do Sul, justamente os mais atingidos pela seca”, comentam Barone e Palavro. No Paraná, a previsão inicial da StoneX era de colheita de 22 milhões de toneladas, e hoje está em 15 milhões. No Rio Grande do Sul passou de 22 milhões para 12,5 milhões.
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