Um basta na especulação - por Ricardo Santin
Em plena crise pandêmica, com perda do poder de compra da população, quem produz proteína animal se depara com altas de até 80% nos preços do milho e de 50% no farelo de soja
Ricardo Santin
Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)
Especular é um movimento comum. É a aposta baseada em números, projeções e fatores como o nervosismo do mercado. Porém, quando esse sentimento é impulsionado, o estrago pode ser grande. Trata-se do cenário que produtores de aves e suínos têm enfrentado. Em plena crise pandêmica, com perda do poder de compra da população, quem produz proteína animal se depara com altas de até 80% nos preços do milho e de 50% no farelo de soja. Juntos, esses insumos representam 70% dos custos de produção.
Inevitavelmente, isso impactará o consumidor: o repasse de custos elevará os preços dos produtos nas gôndolas. Olhando para fora, sofreremos uma severa perda de competitividade — justo quando os demais players estarão retomando suas atividades. Tudo isso é baseado na projeção de falta de grãos no mercado interno, fato refutado pelo Ministério da Agricultura. Conforme a pasta, há quantidade suficiente para o abastecimento, o que leva à conclusão de que especuladores com grãos em estoque estão retendo sua circulação, forçando altas artificiais.
O quadro que se agrava com a ausência de dados transparentes nas vendas para o exterior. No Brasil, não há monitoramento oficial sobre as exportações futuras — algo diferente do que acontece com os Estados Unidos, onde toda venda internacional é registrada pelo governo. É uma ferramenta de previsibilidade valiosa, dando uma visão precisa sobre o panorama de abastecimento. Buscando avançar nesse sentido, a ABPA solicitou ao governo federal que esse mecanismo seja criado por aqui.
São setores que, nas últimas duas décadas, trouxeram R$ 370 bilhões com as exportações. Segmentos que possuem impacto social: reúnem em torno de 220 frigoríficos e são responsáveis por 4,1 milhões de empregos diretos e indiretos, envolvendo 100 mil famílias de pequenos e médios produtores. Estão espalhados por todo o interior, impulsionando a economia de diversos municípios gaúchos. "É um erro terrível teorizar antes de termos informação", já afirmou o escritor Arthur Conan Doyle. Sem dados, a especulação ganha força, e o Brasil perde.
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